Quando o Perdão Liberta
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Capítulo 4

Naquela noite, eu não conseguia dormir. A imagem de Pedro quebrando a faca não saía da minha cabeça. Não por tristeza, mas pela clareza chocante que aquele ato me trouxe. Levantei-me e desci as escadas para beber um copo de água. A casa estava escura e silenciosa. Ao passar pela porta da biblioteca do meu pai, ouvi vozes baixas. Era ele, falando ao telefone. A curiosidade me fez parar.

"... não, Pedro, eu entendo sua frustração, mas você precisa se acalmar. Estrela é jovem, está confusa. Essas ideias de culinária são apenas uma fase." A voz do meu pai era conciliadora.

Houve uma pausa. Eu me aproximei da porta, tentando ouvir a resposta do outro lado, mas não consegui.

"Sim, eu sei que você tem feito de tudo", continuou meu pai. "Cortar o acesso aos fundos dela foi uma boa jogada. Sem dinheiro, ela não pode ir a lugar nenhum. E aquela história que você inventou sobre o Chef Dubois ter se aposentado e se mudado para o interior também foi inteligente. Ela não terá como contatá-lo. Dê a ela alguns dias, ela vai perceber que não tem outra escolha a não ser se casar com você."

Meu estômago se revirou. Senti uma onda de náusea tão forte que tive que me apoiar na parede. Então era isso. Pedro, com a ajuda do meu próprio pai, estava me sabotando pelas costas. Ele não estava apenas sendo arrogante e controlador, ele estava ativamente manipulando minha vida, cortando minhas asas para me manter em uma gaiola. A história sobre o Chef Dubois, a falta de fundos... tudo era uma mentira, um plano cruel para me encurralar. A traição era tão profunda, tão nojenta, que me deixou sem ar.

Voltei para o meu quarto em silêncio, o coração pesado como chumbo. Sentei-me na cama, no escuro, e repassei os últimos cinco anos da minha vida passada. Quantas outras coisas ele manipulou? Quantas "coincidências" foram, na verdade, planos dele? A sensação de ter sido uma marionete, um brinquedo nas mãos dele, era avassaladora. A dor era física, uma pressão no peito que dificultava a respiração.

Na manhã seguinte, agi com uma frieza que surpreendeu até a mim mesma. Peguei o anel de noivado de diamante, a joia pesada que sempre pareceu um grilhão no meu dedo, coloquei-o em sua caixa de veludo e o entreguei ao motorista da família.

"Leve isso para o senhor Patterson. Não precisa dizer nada."

O motorista me olhou, confuso, mas obedeceu. Eu estava cortando os laços, um por um.

Mais tarde naquele dia, havia um jantar de caridade da família, um evento que eu não podia evitar. Vesti um vestido simples, coloquei um sorriso no rosto e agi como se nada tivesse acontecido. A superficialidade da noite era quase cômica.

Pedro me encontrou perto do bar. Ele não mencionou o anel devolvido. Em vez disso, ele me entregou uma pequena caixa.

"Um presente de paz", ele disse, com aquele sorriso charmoso que agora me parecia uma máscara.

Abri. Dentro, havia um colar de pérolas. Simples, clássico, caro. E completamente impessoal. Na minha vida passada, ele me deu o mesmo colar. Lembro-me de pensar que ele não me conhecia de todo, eu detestava pérolas, sempre achei que me envelheciam.

"São lindas, Pedro. Mas você sabe que eu não uso pérolas", eu disse, fechando a caixa e a devolvendo para ele. "Você nunca percebeu?"

Uma sombra de irritação passou por seus olhos antes que ele a disfarçasse. "É um gesto, Estrela. O que importa é a intenção."

"Que intenção?", eu o desafiei. "A de me dar algo que você acha que eu deveria gostar, em vez de algo que eu realmente gosto? Isso resume bem o nosso relacionamento, não acha?"

Ele estava prestes a responder, a raiva crescendo em seu rosto, quando Sofia apareceu, como sempre, no momento exato.

"Pê, eu não estou me sentindo bem", ela disse, a mão na testa, o corpo balançando levemente. "Acho que minha pressão caiu."

Imediatamente, toda a atenção de Pedro se voltou para ela. Ele a segurou pelos ombros, a preocupação genuína em seu rosto, uma preocupação que ele nunca demonstrou por mim.

"O que você sente? Venha, vamos sentar um pouco. Você quer uma água?"

Ele a guiou para uma varanda mais afastada, deixando-me ali, sozinha no meio da multidão, como se eu fosse invisível. Era a mesma cena, repetida inúmeras vezes. Eu assisti, não com ciúmes, mas com um distanciamento clínico. A preferência dele era tão óbvia, tão descarada.

Balancei a cabeça, um sorriso irônico nos lábios, e me virei para pegar uma taça de champanhe. Mais tarde, enquanto caminhava por um corredor mais silencioso em direção ao toalete, passei pela varanda onde Pedro havia levado Sofia. A porta de vidro estava entreaberta. Parei, não por querer espionar, mas porque a cena que vi me paralisou.

Pedro não estava cuidando de uma Sofia doente. Ele a tinha prensada contra a parede, as mãos dele dentro do vestido dela, os lábios colados aos dela em um beijo desesperado, faminto. Não era um beijo de "irmão". Era um beijo de amantes. O som baixo dos gemidos de Sofia chegou até mim, e meu estômago se contraiu em uma onda de repulsa. O choque foi tão grande que dei um passo para trás, esbarrando em uma pequena mesa e fazendo um vaso tremer. O som os alertou. Mas eu já tinha visto o suficiente. A verdade, nua e crua, estava bem ali, na minha frente.

            
            

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