A caixa caiu no chão de mármore com um barulho terrível, um estalo seco seguido pelo som de metal se partindo. O som ecoou no meu coração. Eu sabia, mesmo sem ver, o que tinha acontecido. As lâminas finas e delicadas, obras de arte de um mestre, não resistiriam a uma queda daquelas.
Corri e me agachei, abrindo a caixa com as mãos trêmulas. Como eu temia, a ponta da faca principal, a Yanagiba, estava quebrada. Uma lasca de aço brilhava no forro de veludo. Uma lágrima solitária escorreu pelo meu rosto. Não era pelas facas, não mais. Era pelo simbolismo, pela destruição gratuita de algo belo, pela crueldade casual de tudo aquilo.
Tentei juntar o pequeno pedaço de metal à lâmina, um gesto fútil e desesperado. Era como tentar consertar minha vida passada, um esforço inútil.
"Oh, meu Deus! Me desculpe!", Sofia disse, cobrindo a boca com as mãos, os olhos arregalados em uma performance perfeita de inocência. "Eu sou tão desastrada. Estrela, por favor, me perdoe. Eu não queria..."
Sua voz era melosa, manipuladora. Ela sabia exatamente o que estava fazendo. Olhei para ela, e pela primeira vez, não vi a menina doce e frágil. Vi a calculista invejosa, a dissimulada que se escondia por trás de uma máscara.
"Você fez isso de propósito", eu disse em voz baixa, mas cheia de convicção.
Antes que Sofia pudesse responder, Pedro me agarrou pelo braço, me forçando a levantar. Sua mão apertava com força, machucando.
"Peça desculpas a ela agora!", ele rosnou, o rosto contorcido de raiva. "Sofia está se sentindo mal e você a está acusando? Olhe para ela, está quase chorando! Como você pode ser tão cruel?"
Eu olhei para Sofia, que agora tinha lágrimas escorrendo pelo rosto, parecendo a vítima perfeita. E olhei para Pedro, o homem que deveria me proteger, me defendendo cegamente. A injustiça da situação era sufocante.
"Eu não vou pedir desculpas por algo que não fiz", eu disse, tentando me soltar do seu aperto.
A raiva de Pedro explodiu. Com um grito furioso, ele pegou a caixa do chão e, na frente de todos, tirou a faca quebrada e a partiu ao meio com as próprias mãos, usando a beirada de uma mesa de mármore como apoio. O som do metal se quebrando de novo foi final, definitivo. Ele jogou os pedaços no chão, aos meus pés.
"Está vendo? Não há mais nada para brigar", ele cuspiu as palavras. "Agora, isso acabou."
Eu olhei para os pedaços de aço destruídos no chão. Naquele momento, algo dentro de mim também se partiu, mas não foi com dor. Foi com liberação. O último vestígio de sentimento que eu tinha por aquele homem morreu ali, no chão daquela casa de leilões. O amor, a esperança, a mágoa... tudo se foi. O que restou foi um vazio calmo e uma certeza absoluta.
Eu me sentia livre.
Levantei o olhar e o encarei, não com raiva ou tristeza, mas com uma indiferença fria.
"Sim", eu disse, minha voz surpreendentemente calma. "Acabou."
Virei as costas para ele, para Sofia, para os cacos do meu passado e saí daquele lugar sem olhar para trás.
Quando cheguei em casa, fui direto para o meu quarto. Abri o armário e comecei a tirar todas as roupas, os presentes, as fotos, qualquer coisa que me lembrasse de Pedro. Juntei tudo em uma grande pilha no meio do quarto. Cada objeto era uma memória de humilhação, de um amor não correspondido, de uma vida que não era minha. Peguei sacos de lixo e comecei a jogar tudo dentro, sem cerimônia. Era uma limpeza, uma purificação. Eu estava me livrando do peso morto do meu passado, abrindo espaço para o meu futuro.