Capítulo 4 A Morte e a Promessa de Vingança

Capítulo 4 – A Morte e a Promessa de Vingança

O despertador tocava sem parar. Aquele som irritante que ela conhecia tão bem, mas que, por alguma razão, agora parecia... surreal.

Júlia apertou o botão de desligar, com a mão trêmula. Sentou-se devagar na cama e olhou ao redor.

Tudo estava diferente. Ou melhor... tudo estava como antes.

O quarto simples, o espelho antigo no canto, as roupas de verão penduradas na cadeira. A colcha florida que ela odiava, mas usava por educação porque a mãe lhe deu. O celular no criado-mudo... um modelo antigo. Ela o pegou e desbloqueou com facilidade.

A data na tela era clara:

> 15 de janeiro de 2015.

Seu coração quase parou.

- Não... isso não é possível - sussurrou.

Correu até o espelho. Seu reflexo a encarava: pele mais firme, olhos mais vivos, cabelos longos caindo sobre os ombros. Nenhum sinal da doença. Nenhum lenço. Nenhuma palidez.

Ela encostou as mãos no vidro. Chorou. E riu. Ao mesmo tempo.

Estava viva.

- Eu voltei... - murmurou. - Meu Deus, eu voltei.

Por alguns minutos, não conseguiu fazer nada além de respirar, chorar e rir de alívio.

Era como acordar de um pesadelo de anos, mas o pesadelo ainda era real.

Ela lembrava de tudo. Da traição, do câncer, do abandono. Da dor, da humilhação, do desprezo.

E agora, o destino ou seja lá o que fosse lhe dava uma segunda chance.

Ela fechou os olhos, sentindo as lágrimas correrem.

- Obrigada... seja lá quem fez isso... obrigada.

Mas quando os abriu novamente, havia algo diferente em seu olhar. Algo frio, focado, letal.

Não era mais a Júlia de antes.

A Júlia submissa. A que perdoava tudo. A que acreditava no amor cego, no casamento eterno, na lealdade entre amigas.

Agora ela sabia o que o futuro traria e não iria mais aceitar ser a vítima.

Pegou o celular novamente e abriu os contatos.

Rodrigo. A foto dele sorrindo, ingênuo, ainda apaixonado ou fingindo estar.

Bárbara. A "melhor amiga", a cúmplice da maior traição de sua vida.

Ela apertou o botão de chamada... mas parou.

- Não. Ainda não.

Havia muito o que planejar.

Muitos passos para reorganizar.

Ela não queria apenas evitar o sofrimento. Ela queria inverter os papéis. Queria vê-los rastejar. Queria ver o medo nos olhos deles, assim como sentira o gosto da solidão e do desprezo.

Vestiu uma roupa leve, prendeu os cabelos em um coque e desceu para caminhar até a padaria da esquina. Sentia o sol na pele como se fosse a primeira vez. Os aromas, os sons, as cores tudo era mais vívido. Porque agora ela sabia o quanto tudo era frágil. Efêmero.

Sentou-se na mesma mesa de sempre. Pediu um café preto e um pão na chapa.

Pegou um guardanapo e uma caneta. E escreveu no centro:

> "Lista de Vingança"

E abaixo, cuidadosamente:

1. Rodrigo Han

2. Bárbara Kim

3. Todos que me viraram as costas

4. Todos que riram enquanto eu caía

Dobrou o guardanapo e guardou na bolsa. O garçom trouxe o café, e ela agradeceu com um sorriso gentil.

Enquanto tomava o primeiro gole, já começava a desenhar mentalmente o próximo movimento.

Ela não tinha tempo a perder.

Agora era ela quem controlava o jogo.

            
            

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