Capítulo 5 O Despertar no Passado

Capítulo 5 – O Despertar no Passado

Júlia voltou para casa com a mente a mil. O coração batia acelerado, mas não de ansiedade era adrenalina. Pela primeira vez, em muito tempo, ela se sentia viva.

Sabia que precisava agir com cuidado. Não podia sair confrontando todos de imediato. Não era só uma questão de se vingar era se antecipar, manipular o tabuleiro antes que os outros sequer percebessem que havia um jogo em andamento.

Subiu para seu quarto e vasculhou as gavetas. Encontrou, como esperava, a pasta com os papéis da empresa em que trabalhava a mesma onde Rodrigo também trabalhava, e onde Bárbara estava prestes a ser contratada como assistente.

Ela se lembrava da entrevista. Da forma como Bárbara entrara sorrindo, fingindo não saber de nada. Da forma como, meses depois, fingiria se aproximar de Rodrigo "só para ajudar".

Agora, ela faria tudo diferente.

**

Naquela tarde, ligou para Rodrigo. Ele atendeu na terceira chamada.

- Oi, amor. Que surpresa.

A voz dele soava leve. Carinhosa. Inocente.

Ela fechou os olhos por um segundo. Era quase convincente. Quase.

- Oi, querido - respondeu, doce. - Estava pensando... que tal jantarmos juntos hoje? Só nós dois.

- Hoje? - ele pareceu hesitar. - Achei que você ia sair com a Bárbara...

- Desmarquei. Senti saudade de você.

Silêncio por alguns segundos.

- Tudo bem. Eu passo aí às sete.

Ela desligou sem mais palavras, com um leve sorriso no rosto. "Não é você quem vai conduzir essa conversa, Rodrigo. É eu."

**

Pouco depois, chegou a mensagem de Bárbara:

> "Amiga, você sumiu! Vamos nos ver hoje? Preciso te contar uma coisa ótimaaa! 😍"

Júlia digitou lentamente.

> "Hoje não consigo, Bá. Estou com o Rodrigo. Te ligo amanhã. Beijooos 💕"

Ela mal precisava ver a reação. Podia imaginá-la com perfeição: surpresa, seguida de raiva contida. Bárbara já estava de olho nele naquela época - e ela sabia disso agora.

**

Às 19h03, Rodrigo chegou. Trazia flores. Rosas vermelhas.

- Uau - disse ela, recebendo o buquê com um sorriso contido. - Nem lembrava como você sabia ser gentil.

Ele riu, meio sem graça.

- E eu nem lembrava como você sabia elogiar.

Ela o convidou para entrar. A mesa estava posta. Uma massa simples com vinho tinto uma lembrança dos primeiros anos de namoro. Rodrigo parecia à vontade. Relaxado. Sem a menor ideia de que aquela mulher diante dele não era mais a mesma.

Durante o jantar, ele tentou flertar. Contou piadas, falou do trabalho, comentou sobre a entrevista de uma candidata nova na empresa. Júlia quase riu. Bárbara. Era agora. O jogo tinha começado.

- E ela foi bem? - perguntou casualmente.

- Ah, sim. Esperta. Bonita. Mas tem um jeito meio... exagerado. Fica puxando papo toda hora, elogiando demais. Meio forçado.

Júlia sorriu com os olhos.

> Você ainda não caiu, mas vai cair.

- Cuidado com esse tipo de mulher - disse, tomando um gole de vinho. - Elas são boas em fazer os outros se sentirem importantes... até que conseguem o que querem.

Rodrigo a olhou, surpreso com a observação. Talvez achasse que ela estava com ciúmes. Talvez achasse que ela era insegura.

Ela sorriu para si mesma. Deixe-o pensar isso.

Quando ele saiu, algumas horas depois, deixando um beijo na testa dela, Júlia se encostou na porta e fechou os olhos.

- Um passo de cada vez - murmurou.

**

Na manhã seguinte, acordou cedo, vestiu-se com mais atenção do que costumava fazer, e foi ao trabalho. Chegou antes de todos.

Queria rever a estrutura da empresa com olhos estratégicos. Agora sabia quem se aliaria a ela. Quem a derrubaria. Quem se calaria. Quem trairia.

Ao final do dia, ela já havia feito anotações importantes e escolhido seu primeiro aliado: Lucas Seo.

Naquele momento, ele ainda era um gerente discreto, reservado, mas com um senso de justiça incomum. No futuro, seria promovido a CEO e um dos únicos que acreditaria nela.

Naquele passado, ele ainda não sabia quem ela era. Mas ela sabia exatamente quem ele seria.

E faria questão de se aproximar dele antes que os outros o corrompessem.

                         

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