O Preço da Traição: Maria Paga
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Capítulo 1

Maria desceu do avião e sentiu o calor de Salvador abraçá-la.

O ar era úmido e cheirava a sal e a dendê.

Depois de anos estudando no exterior, ela finalmente estava de volta.

Voltou para se casar com João, o homem que ela amava, o herdeiro de uma grande rede de pousadas.

A avó dela, antes de morrer, tinha abençoado a união.

A morte da avó a tinha abalado, mas a promessa do casamento a mantinha de pé.

Ela pegou um táxi, o coração acelerado de expectativa.

O destino era a empresa de eventos mais badalada da cidade, onde os últimos detalhes do casamento seriam acertados.

Ela imaginava o sorriso de João ao vê-la, a surpresa nos olhos dele.

Eles não se viam há meses, comunicando-se apenas por mensagens e ligações rápidas.

João sempre dizia que estava ocupado com os negócios da família.

Maria entendia. Ou achava que entendia.

Ao chegar na empresa, uma decoração luxuosa a recebeu. Flores brancas por toda parte.

Uma recepcionista sorridente a cumprimentou.

"Bom dia, em que posso ajudar?"

"Eu sou Maria, tenho uma reunião com a cerimonialista sobre o meu casamento com João Alcântara."

A recepcionista franziu a testa, confusa.

"Maria? O casamento do Sr. João já aconteceu há três meses."

O mundo de Maria parou.

O barulho da rua desapareceu.

O ar ficou pesado.

"Como assim? Deve haver um engano. Eu sou a noiva."

A recepcionista olhou para ela com pena.

"A esposa do Sr. João se chama Maria também. Maria Torres. Filha do deputado Torres. Eles são o casal do momento."

Um frio percorreu a espinha de Maria.

Deputado Torres era o nome do pai dela.

Mas ela não era a mulher que se casou com João.

Nesse momento, a porta do escritório principal se abriu.

João saiu, rindo, de braços dados com uma mulher desconhecida.

A mulher era bonita, mas tinha um olhar duro, calculista.

João viu Maria e seu sorriso desapareceu.

Ele ficou pálido.

"Maria? O que você está fazendo aqui?"

A outra mulher olhou para Maria de cima a baixo, com desdém.

"Quem é essa, meu amor?"

Maria deu um passo à frente, a voz tremendo de raiva e confusão.

"João, que brincadeira é essa? Quem é ela? E que história é essa de que você se casou?"

João a agarrou pelo braço, tentando levá-la para um canto.

"Fale baixo. A gente conversa depois."

Maria se soltou com força.

"Conversar depois? Eu viajo meio mundo para o nosso casamento e descubro que você já se casou com outra mulher que está usando o meu nome?"

A impostora riu, um som desagradável.

"Seu nome? Querida, eu sou Maria Torres. Todo mundo sabe disso. Você deve ser alguma maluca, uma fã obcecada pelo meu marido."

Ela se virou para João.

"Amor, chame os seguranças. Não quero essa mulher perto de mim."

João, encurralado, tomou o lado da impostora.

"Ouviu o que ela disse? Por favor, vá embora. Não crie uma cena."

"Ir embora?", a voz de Maria subiu, cheia de incredulidade. "Você rouba a minha vida, o meu noivo, o meu nome, e me manda ir embora?"

João fez um sinal para os seguranças que apareceram rapidamente.

"Tirem essa mulher daqui. Agora."

Os seguranças a agarraram pelos braços.

Maria se debateu, mas era inútil.

Enquanto era arrastada para fora, ela olhou nos olhos de João.

Não havia amor, nem culpa. Apenas frieza e irritação.

Naquele momento, o amor que ela sentia se transformou em pó.

Restou apenas o desejo de vingança.

Expulsa e humilhada, Maria sentou-se num banco da praça em frente.

As lágrimas que ela segurou começaram a cair.

Mas não eram lágrimas de tristeza. Eram de fúria.

Ela não ia deixar as coisas assim.

Se aquela mulher queria ser Maria Torres, filha de um político influente, então ela teria que arcar com as consequências do nome.

Uma ideia surgiu em sua mente. Uma ideia perigosa e deliciosa.

Ela se levantou, secou o rosto e caminhou com determinação para a rua mais luxuosa de Salvador.

Entrou na boutique mais cara, onde um vestido poderia custar o preço de um carro.

"Boa tarde", disse ela ao vendedor, com uma confiança que não sentia. "Eu gostaria de ver as novidades da coleção."

O vendedor a olhou com desconfiança, notando suas roupas simples de viagem.

Maria percebeu o olhar.

"Meu nome é Maria Torres. A conta pode ser enviada para a empresa do meu marido, João Alcântara."

O nome funcionou como mágica.

O sorriso do vendedor se alargou instantaneamente.

"Senhora Alcântara! Que honra! Por favor, por aqui."

Maria passou as horas seguintes fazendo compras.

Roupas, sapatos, joias. Tudo do mais caro.

Em cada loja, ela repetia o mesmo ritual: usava o nome de Patrícia, a impostora, e mandava a conta para João.

Ela imaginava a cara dele ao receber as faturas.

A vingança era um prato que se come frio, mas servi-lo quente era muito mais divertido.

No final do dia, ela estava em um café, observando suas sacolas de compras, quando viu João e a impostora, Patrícia, entrando no mesmo lugar.

Eles se sentaram em uma mesa próxima, sem vê-la.

Um grupo de socialites se aproximou para cumprimentá-los.

"Patrícia, querida! Que bom te ver!", disse uma delas. "Ficamos sabendo que você vai organizar o baile de caridade. Você poderia autografar o convite para nós? Sua caligrafia é tão famosa."

Patrícia ficou visivelmente tensa.

Maria observou com interesse.

A caligrafia dela. Maria, a verdadeira, era famosa por sua letra impecável, uma herança da educação rígida de sua avó no interior.

Patrícia sorriu, um sorriso forçado.

"Ah, claro... mas... eu não posso agora."

"Por que não?", insistiu a mulher.

Patrícia gaguejou.

"É que... eu cresci no exterior, sabe? Meu português escrito não é muito bom. Fico com vergonha."

As mulheres pareceram surpresas, mas não questionaram.

João interveio rapidamente, tentando salvar a situação.

"É verdade. Patrícia é praticamente uma estrangeira. Ela prefere não escrever em público. É um charme dela."

Ele riu, tentando fazer parecer uma piada.

Mas o estrago estava feito. A semente da dúvida havia sido plantada.

Maria sorriu para sua xícara de café.

A máscara da impostora tinha sua primeira rachadura.

E ela estaria lá para quebrá-la em mil pedaços.

            
            

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