Capítulo 3

A dor do tapa foi aguda, mas a humilhação foi pior.

Diante de todos, ela havia sido agredida.

O fogo da vingança dentro dela, que antes era uma chama, agora era um incêndio descontrolado.

Ela tocou o rosto, o olhar fixo em Patrícia.

"Você vai se arrepender disso", disse Maria, com uma calma assustadora.

Patrícia riu, uma risada histérica.

"Me arrepender? Eu sou a senhora Alcântara! E você? Você não é ninguém! Uma caipira do interior que ninguém se importa."

Ela se virou para João.

"Amor, faça alguma coisa! Mande os seguranças darem uma lição nessa vagabunda!"

João, que até então estava paralisado, pareceu despertar.

A reputação dele estava sendo destruída diante de seus olhos. Ele precisava agir.

Maria o viu fazer um sinal discreto para os seguranças na porta.

Ela sabia o que viria a seguir.

Ela agiu primeiro.

"Ninguém toca em mim", disse ela, a voz alta e clara.

Ela olhou diretamente para João e depois para os investidores.

"Talvez vocês não saibam, mas meu nome completo é Maria Eduarda Torres de Mendonça. Meu pai é o Deputado Federal Carlos Torres de Mendonça."

O nome caiu como uma bomba na sala.

Carlos Torres de Mendonça não era um político qualquer. Era um dos homens mais poderosos e íntegros do país, conhecido por sua aversão a escândalos e sua defesa ferrenha da lei.

O rosto de João ficou branco como papel.

Ele conhecia o nome. Ele havia baseado todo o seu plano de casamento na influência daquele nome.

Mas ele nunca tinha conhecido o homem. Ele só tinha a palavra de Patrícia.

Agora, ele olhava para a mulher que ele havia humilhado e agredido, e via a possibilidade de sua ruína.

"Se um de vocês encostar um dedo em mim ou na minha prima, eu garanto que meu pai vai acionar os melhores advogados do país", continuou Maria. "Vocês serão processados por agressão, fraude, falsidade ideológica e formação de quadrilha. A reputação das Pousadas Alcântara será arrastada na lama. Vocês vão perder tudo."

A ameaça era real e todos na sala sabiam disso.

Os investidores se entreolharam, alarmados.

O homem mais velho que havia falado antes se levantou.

"Senhor Alcântara, acho que essa reunião acabou. Precisamos reavaliar nossos investimentos. Não podemos nos associar a esse tipo de escândalo."

Ele e os outros começaram a se retirar, deixando João em pânico.

"Não, esperem! Isso é um mal-entendido! Eu posso explicar!"

Mas ninguém o ouviu.

A multidão que se formara do lado de fora da sala, atraída pela gritaria, começou a cochichar.

As pessoas olhavam para Patrícia com suspeita.

"Ela não é a filha do deputado?", perguntou alguém.

"A outra moça parece muito mais convincente."

Maria viu a maré virando a seu favor.

Ela pegou o celular do bolso.

"Vou ligar para a polícia agora mesmo. E depois, vou ligar para o meu pai."

Patrícia, desesperada, agarrou o braço de João.

"Faça alguma coisa! Não deixe ela ligar!"

João, movido pelo puro desespero, tomou a pior decisão possível.

Ele olhou para os seguranças.

"Peguem o celular dela! Não deixem ela sair daqui!"

Os seguranças, embora hesitantes, obedeceram à ordem de seu chefe.

Eles avançaram em direção a Maria.

Vera, ainda tonta, se colocou na frente da prima, tentando protegê-la.

Maria segurou o celular com força, pronta para lutar.

O caos estava prestes a explodir.

Mas, naquele exato momento, a porta principal do saguão se abriu com força.

Um homem alto, de terno, com cabelos grisalhos e um ar de autoridade inquestionável, entrou, seguido por dois assessores.

Ele parou, observando a cena: os seguranças avançando sobre duas mulheres indefesas, uma delas com o rosto sangrando e a outra com a marca de um tapa.

O olhar dele era gelado.

"O que está acontecendo aqui?"

A voz dele, calma mas cheia de poder, ecoou pelo ambiente.

Maria olhou para o homem e sentiu um alívio imenso.

As lágrimas finalmente vieram, mas desta vez, eram de alívio.

"Pai!"