Quando o Destino é Reescrito
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Capítulo 4

Meu pai não aguentou por muito tempo.

Ser supervisionado por Roberto era uma humilhação diária.

O homem que sempre foi seu subalterno agora dava ordens, criticava seu trabalho e o sobrecarregava com tarefas impossíveis.

Roberto fazia questão de lembrar a todos quem estava no comando.

Ele minou a autoridade do meu pai, reverteu suas decisões e o excluiu de reuniões importantes.

Era uma campanha clara para forçá-lo a sair.

Três meses depois de ser promovido, Roberto demitiu meu pai.

A desculpa oficial foi "reestruturação do departamento".

Todos sabiam que era uma mentira.

Meu pai, um homem de quase 50 anos, com décadas de experiência, estava desempregado.

O impacto em casa foi imediato.

A tensão era palpável.

O dinheiro ficou curto.

Ao mesmo tempo, o status da minha mãe na comunidade desmoronou.

Ela era a tesoureira da associação de bairro, um cargo voluntário que ela exercia com orgulho.

Na reunião seguinte à demissão do meu pai, tia Célia se levantou.

"Com a situação financeira instável da família deles," ela disse, com uma falsa preocupação na voz, "não acho seguro que a esposa de um desempregado cuide do nosso dinheiro."

Foi um golpe baixo, cruel e público.

As pessoas, influenciadas pela nova riqueza e poder da família de Paula, concordaram.

Minha mãe foi forçada a renunciar.

Tia Célia foi eleita a nova tesoureira.

Eles estavam tomando tudo de nós, pedaço por pedaço.

Eu me sentia sufocada pela culpa.

Tudo parecia ter começado com a nossa rivalidade na escola.

Em um ato desesperado, decidi que precisava tentar consertar as coisas.

Eu tinha que falar com a Paula.

Talvez, se eu me humilhasse, se eu pedisse desculpas por algo que não fiz, ela convenceria seus pais a pararem.

Eu a esperei na saída da escola.

"Paula, podemos conversar?"

Ela me olhou com desdém.

"O que você quer?"

"Por favor," eu implorei. "O que está acontecendo com nossas famílias... isso tem que parar. Meu pai perdeu o emprego."

Ela riu. Um riso genuíno, divertido.

"Eu sei. Meu pai me contou. Ele disse que seu pai era incompetente."

"Isso não é verdade!", eu disse, minha voz tremendo. "Paula, nós éramos amigas. Por favor, peça para seus pais pararem."

Ela se aproximou de mim, seu rosto a centímetros do meu.

"Amigas?", ela sussurrou. "Ana Lúcia, você é tão ingênua. Eu nunca fui sua amiga. Eu sempre te odiei. Odiei sua casa, odiei seus pais, odiei como tudo parecia tão fácil para você."

Eu recuei, chocada.

"Tudo o que você tem, tudo o que você teria... eu vou pegar. Um por um. Até você não ter mais nada."

Naquele momento, eu entendi. Não havia reconciliação possível. Aquilo era uma guerra declarada.

Cheguei em casa arrasada e contei aos meus pais o que aconteceu.

Foi quando minha mãe, com o rosto pálido, nos contou algo que eu não sabia.

A rivalidade não começou conosco.

Ela vinha de uma geração anterior.

Quando eram jovens, meu pai e o tio Roberto eram amigos.

Ambos gostavam da minha mãe.

Ela escolheu meu pai.

Roberto, segundo minha mãe, nunca a perdoou. Ele se casou com Célia, uma mulher amarga e invejosa que alimentou seu ressentimento por anos.

Eles viam na nossa família um reflexo constante do que eles achavam que "deveriam ter tido".

A inveja deles era antiga, profunda e venenosa.

E agora, eles estavam usando sua filha, Paula, como a principal arma em sua vingança.

Algumas semanas depois, com minha família no fundo do poço financeiro, o tio Roberto nos fez uma visita.

Ele veio com uma proposta.

"Eu sei que vocês estão passando por um momento difícil," ele disse, com a mesma falsa simpatia da esposa. "Eu tenho uma solução que pode ajudar a todos."

Ele propôs a troca de terras.

O nosso terreno fértil, a herança do meu avô, pelo terreno baldio dele, mais uma quantia em dinheiro.

"Pensem nisso," ele disse, deixando a proposta na mesa. "É uma chance de recomeçar."

Era o cheiro de uma armadilha.

Mas era uma armadilha que, na nossa situação, cheirava desesperadoramente a salvação.

                         

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