Por fim, ela roubou meu amor. Pedro, meu noivo, um homem poderoso e influente no Rio de Janeiro, caiu em sua teia de sedução e mentiras. Ele se casou com ela.
Eu perdi tudo. Fui jogada na rua, sem nome, sem dinheiro, sem ninguém. O frio e a fome se tornaram meus únicos companheiros, até que meu corpo, enfraquecido pela dor e pelo desamparo, finalmente cedeu.
Eu morri.
Mas então, eu abri os olhos.
A luz forte do quarto da maternidade me cegou por um instante. O cheiro de antisséptico invadiu minhas narinas. Eu estava de volta, deitada na cama, o corpo ainda dolorido do parto. O parto do meu filho. Meu filho verdadeiro.
Um barulho suave me fez virar a cabeça.
Mariana estava ao lado da minha cama, sorrindo. O sorriso dela era doce, cheio de uma falsa preocupação que agora me causava náuseas.
"Sofia, priminha, que bom que você acordou."
Ela segurava um copo com um suco de cor vibrante.
"Eu mesma preparei para você. Um suco especial, cheio de vitaminas, para te ajudar a se recuperar."
Era o mesmo suco. O mesmo copo. O mesmo sorriso.
O ponto de partida da minha ruína.
Meu coração começou a bater forte, não de medo, mas de uma raiva fria e calculista. Desta vez, eu sabia. Desta vez, eu estava preparada.
O jogo tinha virado.
"Mariana," eu disse, minha voz soando fraca, exatamente como ela esperava.
Ela se inclinou, o rosto dela perto do meu, exalando um perfume caro que eu mesma havia lhe dado de presente no seu último aniversário.
"Sim, querida?"
"Obrigada," eu sussurrei. "Você é sempre tão boa para mim."
O sorriso dela se alargou. A satisfação brilhou em seus olhos. Ela não fazia ideia de que a mulher que ela via na cama não era mais a Sofia ingênua que ela planejava destruir.
Eu me lembrava de tudo. Lembro-me de como a acolhi em minha casa quando sua mãe, minha tia, veio trabalhar como governanta para minha família. Ela era quieta e observadora, sempre à sombra. Eu dividi minhas roupas, meus segredos, meu mundo com ela. Eu a tratei como uma irmã.
Eu a apresentei a Pedro. Eu a levei para festas e eventos, querendo que ela sentisse parte da minha vida feliz. E o tempo todo, por trás dos sorrisos e agradecimentos, ela me odiava. Ela cobiçava cada pedaço da minha existência.
"Claro, Sofia. Somos família, não é? Temos que cuidar uma da outra."
Ela me estendeu o copo. O líquido parecia inofensivo, mas eu sabia que continha o veneno que me deixaria fraca e confusa, o primeiro passo para me afastar do meu bebê e facilitar a troca.
Minha mão tremeu quando estendi o braço para pegar o copo. Era parte da minha atuação. Eu precisava que ela acreditasse que eu ainda era a mesma.
"Estou um pouco enjoada," eu disse, fazendo uma careta. "Pode deixar aqui na mesinha? Vou tomar daqui a pouco, quando me sentir melhor."
O sorriso dela vacilou por uma fração de segundo. Desconfiança. Mariana era meticulosa.
"Tem certeza? É melhor tomar agora, enquanto está fresco."
"Tenho," eu insisti, com a voz mais frágil que consegui produzir. "Por favor, prima. Só preciso de um minuto."
Eu fechei os olhos, fingindo uma onda de fraqueza. Era uma tática arriscada. Ela poderia tentar me forçar a beber.
Mas ela recuou.
"Tudo bem, então," ela disse, a voz um pouco mais dura. "Vou deixar aqui. Mas beba logo, sim? Pelo seu bem."
Ela colocou o copo na mesinha ao lado da cama, a uma distância que eu podia alcançar facilmente.
Ela não saiu imediatamente. Ficou parada, me observando, como se tentasse ler meus pensamentos. Eu mantive minha respiração lenta e regular, o rosto sereno. Eu não daria a ela nada.
Finalmente, ela se moveu em direção à porta.
"Vou ver como está o pequeno Lucas," ela disse, o nome do meu filho soando como uma posse em seus lábios. "Ele é tão lindo, Sofia. Tão perfeito."
Ela queria me lembrar do que estava em jogo. Ela queria que eu soubesse o que ela planejava tomar.
Ela parou na porta e olhou para trás uma última vez, seus olhos fixos no copo de suco.
"Beba o suco," ela repetiu, quase como uma ordem.
Então, ela se foi, fechando a porta suavemente atrás de si.
O silêncio no quarto era pesado.
Eu abri os olhos. Minha expressão frágil desapareceu, substituída por uma determinação de aço.
Olhei para o copo de suco. A primeira arma de Mariana.
E a primeira peça do meu tabuleiro de vingança.