Ela Morreu, Ela Voltou, Ela Venceu
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Capítulo 2

Assim que a porta se fechou, eu me movi.

A dor do parto era real, mas a adrenalina que corria em minhas veias era um analgésico poderoso. Com cuidado, peguei o copo da mesinha. O líquido vermelho e espesso parecia zombar de mim.

Eu não o joguei fora. Isso seria muito simples, muito arriscado. Mariana era esperta demais. Ela voltaria. Ela verificaria.

Levantei-me devagar, apoiando-me na cama. Cada passo em direção ao banheiro do quarto privativo era uma vitória. O chão frio sob meus pés me lembrava que eu estava viva, que eu tinha uma segunda chance.

No banheiro, olhei para o meu reflexo no espelho. Eu parecia pálida, exausta, vulnerável. A imagem perfeita da vítima que Mariana queria criar.

Abri a torneira da pia, deixando a água correr para abafar qualquer ruído. Despejei quase todo o conteúdo do suco no vaso sanitário e dei a descarga. O redemoinho de água levou embora a primeira parte do plano dela.

Mas eu guardei um pouco, cerca de dois dedos, no fundo do copo.

Depois, abri minha bolsa de maternidade, que estava sobre uma cadeira. Peguei um pequeno frasco de amostra de perfume, esvaziei o conteúdo na pia e, com muito cuidado, despejei o resto do suco de Mariana dentro dele. Fechei bem a tampa e guardei o frasco no fundo da bolsa, entre fraldas e roupas de bebê. Uma prova. Uma arma para o futuro.

Voltei para o copo. Lavei-o meticulosamente na pia, removendo qualquer vestígio. Sequei-o com uma toalha de papel e o coloquei de volta na mesinha de cabeceira, exatamente onde Mariana o havia deixado. Vazio.

Deitei-me na cama, arrumando os lençóis para parecer que eu não havia me movido. Respirei fundo, tentando acalmar meu coração acelerado, e fechei os olhos.

Não precisei esperar muito.

Menos de cinco minutos depois, a porta se abriu silenciosamente.

Eu não me mexi. Continuei fingindo dormir.

Senti a presença de Mariana se aproximando da cama. Ela ficou parada por um longo momento, provavelmente me observando, checando minha respiração. O cheiro dela, o mesmo perfume que eu lhe dei, era forte e enjoativo.

Ouvi o som suave do copo sendo pego da mesinha. Silêncio. Ela o estava inspecionando. Provavelmente o virou de cabeça para baixo, procurando por qualquer gota restante.

Eu podia imaginá-la. Seu rosto tenso, os olhos estreitos procurando por qualquer sinal de que seu plano havia falhado.

Então, ouvi um suspiro suave. Um som de alívio.

Ela colocou o copo de volta na mesa, desta vez com um clique um pouco mais alto. Um som de triunfo.

Ela achava que tinha vencido.

O alívio dela era quase palpável. Eu senti uma onda de prazer frio percorrer meu corpo. O caçador acreditava que a presa estava na armadilha. Mal sabia ela que a armadilha era para ela.

Mariana se afastou da minha cama. Seus passos eram leves, quase alegres.

Ela foi até o outro lado do quarto, onde ficava o berçário de acrílico. Meu filho, Lucas, dormia pacificamente. Meu coração se apertou. Na minha vida passada, a essa altura eu já estava fraca e sonolenta, incapaz de protegê-lo.

Eu arrisquei abrir os olhos só uma fresta.

Mariana estava parada em frente ao berço, olhando para o meu bebê. Não havia amor ou ternura em seu olhar. Havia cobiça. Havia um cálculo frio, como um ladrão avaliando uma joia que estava prestes a roubar.

Seus olhos brilhavam com uma ambição sombria. Ela estava olhando para o meu filho como se ele fosse um objeto, uma chave que abriria as portas da fortuna e do status que ela tanto desejava. Aquele olhar confirmou tudo. Ela não tinha limites. Ela não tinha alma.

Ela se afastou do berço e caminhou em direção à porta, satisfeita, acreditando que seu plano estava em andamento.

Antes de sair, ela me deu uma última olhada. Eu mantive meus olhos fechados.

Quando a porta se fechou pela segunda vez, eu a abri. A raiva que senti ao vê-la olhar para o meu filho me deu uma nova força.

Levantei-me novamente, desta vez com mais firmeza. Fui até a janela do meu quarto, que dava para uma pequena área de jardim do hospital.

Era final de tarde. Eu vi uma figura familiar sentada em um banco lá embaixo. A mãe de Mariana, minha tia Clara, que trabalhava para minha família. Ao lado dela, em uma coleira, estava o pequeno shih-tzu de Mariana, um cachorro chamado Prince. Mariana o amava mais do que a qualquer pessoa. Ela o tratava como um filho, sempre o enchendo de mimos e roupas caras.

Um plano se formou em minha mente. Um plano cruel, mas justo.

Olho por olho. Dente por dente.

Peguei o frasco de perfume com o resto do suco na minha bolsa. Também peguei um pacote de biscoitos amanteigados que minha mãe havia trazido para mim.

Desci pelo elevador de serviço, usando um roupão por cima da camisola. Ninguém prestou atenção em mim.

Cheguei ao jardim. Minha tia se assustou ao me ver.

"Sofia! O que faz aqui? Você deveria estar descansando!"

"Eu precisava de um pouco de ar fresco, tia," eu disse, sorrindo. "Mariana me disse que a senhora estava aqui com o Prince."

O cachorrinho correu em minha direção, abanando o rabo.

Ajoelhei-me para acariciá-lo, meu coração batendo forte.

"Ele é tão fofo," eu disse, olhando para minha tia.

Tirei um biscoito do pacote. Prince ficou animado, pulando em minhas pernas.

Enquanto minha tia estava distraída, respondendo a uma mensagem no celular, eu agi rapidamente. Abri o pequeno frasco e derramei o líquido venenoso sobre o biscoito, que o absorveu instantaneamente.

Ofereci o biscoito a Prince.

"Aqui, garoto. Um presentinho da sua tia Sofia."

Ele devorou o biscoito em uma única mordida.

Levantei-me, limpando as mãos.

"Bom, preciso voltar para o quarto antes que as enfermeiras sintam minha falta," eu disse, mantendo meu sorriso calmo. "Dê um beijo na Mariana por mim, tia."

"Claro, querida. Se cuida."

Voltei para o meu quarto da mesma forma que saí, sem ser notada.

Deitei-me na cama. Agora era só esperar.

A vingança, eles dizem, é um prato que se come frio.

Mas às vezes, ela é servida em um biscoito de cachorro.

            
            

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