Não era uma conversa de colegas preocupados, a linguagem corporal deles dizia outra coisa. Ele estava inclinado sobre a mesa, o rosto perto do dela, a mão dele cobrindo a dela. Então, Sofia viu algo que fez seu estômago revirar.
André pegou um pedaço de bolo com o garfo e o levou delicadamente à boca de Clara, que sorriu e aceitou, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
Raiva, pura e incandescente, subiu pela garganta de Sofia, sufocando-a. Era uma intimidade descarada, uma afronta pública. Ela parou, o coração batendo descontrolado. E então, seus olhos focaram no pescoço de Clara.
Pendurado em uma corrente de ouro, brilhando sob o sol da manhã, estava o pingente de gota de água que André lhe dera no seu último aniversário, uma peça de design exclusivo que ela amava.
Aquele pingente. O pingente que ela procurou por toda a casa na semana anterior, pensando que o havia perdido. André tinha dito que a ajudaria a procurar, que talvez tivesse caído atrás de algum móvel.
Ele não o perdeu, ele o deu a ela.
A traição era tão profunda, tão descarada, que transcendia a raiva e se tornava uma clareza cortante. Tudo fazia sentido agora.
Sofia respirou fundo, empurrou o carrinho e caminhou decididamente em direção à mesa deles.
"André", ela disse, a voz surpreendentemente calma.
Ele se virou, e o choque em seu rosto foi quase cômico. Clara também se assustou, limpando a boca rapidamente com um guardanapo.
"Sofia! O que você está fazendo aqui?"
"Eu poderia te perguntar a mesma coisa", ela respondeu, os olhos fixos no pescoço de Clara. "Que colar bonito, Clara, onde você o comprou?"
Clara levou a mão instintivamente ao pingente, o rosto corando.
"Foi... foi um presente."
"Eu imagino", disse Sofia, seu olhar se voltando para André. "É uma peça única, não é, querido? Você me deu uma idêntica no nosso aniversário."
André se levantou de um salto, o rosto pálido.
"Sofia, por favor, aqui não, vamos para casa e conversar."
Ele tentou segurar o braço dela, mas ela se esquivou. Ele então enfiou a mão no bolso e tirou a carteira.
"Olha, eu sei que você está chateada, me desculpe, eu vou te comprar um novo, um melhor, o que você quiser."
A oferta, o insulto de pensar que dinheiro poderia apagar aquilo, foi o que a fez explodir.
"Comprar um novo?", ela repetiu, a voz tremendo de fúria contida. "Você acha que isso é sobre um maldito colar? Você acha que a sua traição tem um preço? Isso é sobre respeito, André! Sobre dignidade! Sobre a nossa vida, que você está jogando no lixo por causa dela!"
Sofia apontou para Clara, que se encolheu na cadeira.
"Você não entende, não é? O problema não é o que você deu a ela, o problema é o que você tirou de mim!"
Sem pensar duas vezes, Sofia se inclinou sobre a mesa, agarrou o café quente de André e, antes que alguém pudesse reagir, despejou o líquido fervente sobre a mão dele que ainda estava sobre a mesa.
André gritou de dor, puxando a mão para trás.
Em meio ao caos, Sofia se virou para Clara, cujos olhos estavam arregalados de choque.
"E você", disse Sofia, a voz baixa e letal. "Aproveite o colar, ele combina com a sua falta de vergonha."
Então, num gesto final de repulsa e desespero, Sofia arrancou o anel de noivado de seu próprio dedo, o anel que André lhe dera com tantas promessas, e o atirou com força no meio da rua, onde ele quicou no asfalto e desapareceu sob um carro que passava.
Ela se virou, pegou o carrinho do seu filho e se afastou, deixando para trás a cena de sua vida desmoronando, mas sentindo, pela primeira vez em dias, que estava no controle de seus próprios passos.