"Você enlouqueceu de vez, Sofia? O que foi aquilo no café? As pessoas estão comentando, você me humilhou, humilhou a Clara! Ela não tem nada a ver com isso!"
Sofia sentiu uma onda de exaustão.
"Ela não tem nada a ver? André, ela estava usando um presente seu, um presente que você me deu, como um troféu! E você a estava alimentando na boca! Que tipo de 'colega' faz isso?"
"Nós não temos nada! Foi um mal-entendido! Você está vendo coisas, está paranoica!"
"Paranoica?", ela riu sem humor. "Então me explique o que é traição para você, André. Porque, do meu ponto de vista, dar meus presentes para outra mulher e colocar o nome dela nos meus documentos de família ultrapassa qualquer limite."
"Eu já disse que foi um erro, eu só queria ajudar! Você está transformando uma boa ação em um caso extraconjugal!"
A voz dele era estridente, defensiva. Mas então, no meio da sua fúria, Sofia tossiu, uma tosse seca e cansada que arranhou sua garganta. Houve uma pausa do outro lado da linha.
"Você está doente?", a voz de André mudou, o tom de raiva foi substituído por uma ponta de preocupação.
"Não é da sua conta", ela respondeu friamente.
"Sua voz está horrível, você está com febre?", ele insistiu, o médico nele vindo à tona. "Eu estou terminando um plantão, vou passar em casa mais tarde."
Antes que ela pudesse protestar, ele desligou.
Fiel à sua palavra, André chegou em casa algumas horas depois. Ele não trazia a raiva de antes, mas uma sacola de farmácia e duas embalagens de sopa quente. Ele encontrou Sofia no sofá, enrolada em um cobertor, o rosto pálido.
Ele colocou o termômetro em sua testa, confirmando a febre. Sem dizer muito, ele a ajudou a tomar o remédio e colocou a sopa na sua frente.
Enquanto ela comia em silêncio, ele sentou-se na poltrona oposta.
"Meus pais me ligaram", ele disse baixinho. "Eles estão furiosos comigo, principalmente por causa da história do nome do nosso filho, eles acham que eu desrespeitei você e a nossa família."
Sofia não respondeu, apenas continuou a tomar a sopa.
"Eu sei que errei, Sofia, eu agi sem pensar, eu não deveria ter feito nada sem falar com você, eu sinto muito."
Ele parecia sincero, o arrependimento em sua voz parecia real. Depois de um longo silêncio, ele se levantou e foi até o quarto, voltando com uma caixa de veludo azul.
Ele a estendeu para ela.
"O que é isso?", ela perguntou, desconfiada.
"Abra."
Dentro da caixa, estava o relógio de pulso que ela namorava há meses em uma vitrine do shopping, uma peça elegante e cara que ela nunca teria coragem de comprar para si mesma.
"André, eu não..."
"Eu sei que um presente não conserta as coisas", ele a interrompeu. "Mas eu quero que você saiba que eu ainda penso em você, que eu ainda me importo com o que você quer, eu só... me perdi."
Sofia olhou para o relógio brilhante e depois para o rosto cansado e arrependido do marido. Uma parte dela, a parte que ainda o amava, queria acreditar nele, queria aceitar o pedido de desculpas e o presente caro como um sinal de que eles poderiam consertar as coisas.
Ela fechou a caixa lentamente.
"Obrigada", disse ela, a voz neutra. "É lindo."
Ela decidiu, naquele momento, dar a ele uma última chance. Não porque acreditava plenamente nele, mas porque o divórcio parecia uma montanha grande demais para escalar enquanto se sentia tão doente e vulnerável. Ela aceitaria a trégua, mas uma linha havia sido traçada em sua mente.
"Eu vou te perdoar desta vez, André", ela disse, olhando diretamente nos olhos dele. "Mas se algo assim, qualquer coisa, acontecer de novo, não haverá outra chance, não haverá conversa, não haverá presentes, acabou."
Ele assentiu vigorosamente, o alívio inundando seu rosto.
"Não vai acontecer, eu prometo, Sofia, eu juro."
Naquela noite, eles dormiram na mesma cama, mas um abismo invisível os separava. Sofia adormeceu com o relógio novo na mesa de cabeceira, um lembrete brilhante e caro de uma promessa quebrada e de uma última, frágil, oportunidade.