"Tchau, meu amor. A mamãe volta logo."
Essas foram minhas últimas palavras para ele.
Menos de uma hora depois, meu celular tocou. Era um número desconhecido. Atendi, esperando ser do centro de recreação para dizer que Lucas tinha se adaptado bem.
"Senhora Sofia?" A voz era fria, oficial. "Precisamos que a senhora venha ao centro de recreação 'Mundo Mágico' imediatamente. Houve um incidente com seu filho, Lucas."
Um incidente. A palavra era vaga, clínica, mas meu coração congelou. "O que aconteceu? Ele está bem?"
Houve uma pausa do outro lado da linha, uma pausa que se estendeu por uma eternidade. "Apenas venha, senhora. É urgente."
Dirigi como uma louca, a cidade passando como um borrão. Estacionei de qualquer jeito, o carro subindo na calçada, e corri para dentro. A cena que me esperava não era de um incidente. Era um pesadelo. Fitas amarelas da polícia isolavam a área de brinquedos, a mesma para onde Lucas tinha corrido tão feliz. Havia policiais por toda parte, rostos sérios, sussurros abafados. E no chão, perto do escorregador em forma de girafa, uma poça de sangue escuro e pegajoso manchava o tapete emborrachado.
Meu ar sumiu. Um grito ficou preso na minha garganta. "Onde está o meu filho? ONDE ESTÁ O LUCAS?"
Uma gerente de aparência severa, o crachá com seu nome balançando no pescoço, me interceptou. Seus olhos não demonstravam pena, apenas uma frieza calculada. "Senhora, por favor, mantenha a calma."
"Calma? Olhe para aquilo! O que aconteceu com o meu filho?"
Ela não respondeu diretamente. Em vez disso, fez um sinal para um policial que segurava um tablet. "Delegado, esta é a mãe."
O delegado, um homem de meia-idade com olhos cansados, virou o tablet para mim. "Senhora, precisamos que veja isto."
Na tela, uma gravação de câmera de segurança começou a tocar. Mostrava a área de brinquedos. Mostrava Lucas, brincando perto do escorregador. E então, mostrava uma mulher se aproximando dele. A mulher usava as mesmas roupas que eu estava vestindo. Tinha o meu cabelo, o meu rosto. Era eu.
Assisti, horrorizada, enquanto a figura na tela, a minha figura, agarrava Lucas com uma violência que me fez querer vomitar. Assisti enquanto "eu" o arrastava para um canto fora do alcance principal da câmera. A gravação era granulada, mas a brutalidade era inconfundível. O vídeo terminou.
"O que é isso?", sussurrei, o corpo tremendo. "Isso não sou eu. Onde vocês conseguiram isso?"
"É do nosso sistema de segurança", disse a gerente, a voz cortante. "A senhora voltou. E a senhora..." Ela parou, como se a palavra fosse muito horrível para ser dita.
"Não!", eu gritei. "Eu estava em casa! Eu nunca voltei! Isso é uma mentira! É uma montagem!"
O delegado me olhou com uma mistura de pena e repulsa. "Senhora, o vídeo é claro. A senhora é a única suspeita no ataque brutal ao seu filho."
"Ataque? Onde ele está? Ele está no hospital?"
Um silêncio pesado caiu sobre a sala. O olhar do delegado me disse tudo o que eu precisava saber, a verdade que minha mente se recusava a aceitar. Lucas não estava no hospital. Lucas não estava em lugar nenhum.
"Não... não, não, não..."
Minhas pernas cederam. Dois policiais me seguraram antes que eu atingisse o chão. Eles me levantaram, suas mãos firmes nos meus braços, me tratando não como uma mãe em luto, mas como uma criminosa perigosa.
"A senhora está detida."
Enquanto eles me arrastavam para fora, passando pela fita amarela e pelo horror, vi Marcos chegando. Meu ex-marido. Seus olhos estavam arregalados de pânico, mas quando ele viu os policiais me segurando, sua expressão mudou. A gerente correu até ele, mostrou-lhe o tablet. Vi o rosto de Marcos se contorcer em uma máscara de incredulidade, depois de dor, e finalmente, de puro ódio. Seus olhos encontraram os meus.
"Sua monstra!", ele gritou, a voz rasgada pela dor e pela acusação. "O que você fez com o nosso filho? O QUE VOCÊ FEZ?"
O mundo girou e ficou preto. A última coisa que ouvi foi o som das câmeras dos repórteres que já se aglomeravam do lado de fora, transformando minha tragédia pessoal em um espetáculo público.
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