Vingança da Mãe Quebrada
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Capítulo 4

"Depressão pós-parto não é um atestado de insanidade", eu disse, tentando manter minha voz firme, mas ela tremeu.

O Delegado Mendes apenas me observou, deixando o silêncio pesar. E naquele silêncio, as memórias vieram. Não as memórias que ele queria, mas as reais. Lembrei-me das noites em que Lucas não parava de chorar e eu chorava junto com ele, sentada no chão do quarto, exausta e sozinha. Lembrei-me do sentimento avassalador de que eu era uma fraude, uma péssima mãe que não sabia o que estava fazendo. Lembrei-me de olhar para aquele bebê perfeito e sentir um vazio assustador dentro de mim.

"Foi difícil", admiti, a voz baixa. "Mas eu procurei ajuda. Eu melhorei. Pelo Lucas. Eu o amava mais do que tudo no mundo."

"Eu sei que você o amava", disse Mendes, seu tom agora mais suave, quase paternal. Era uma tática, eu sabia, mas ainda assim me desarmou. "Às vezes, as pessoas que mais amamos são as que mais machucamos, especialmente quando não estamos bem."

A porta se abriu e Marcos foi trazido de volta. Seus olhos estavam menos furiosos agora, apenas cheios de uma dor profunda e exausta.

"Marcos, por favor", eu implorei, virando-me para ele. "Diga a ele. Diga a ele que eu melhorei. Que a depressão passou. Que eu era uma boa mãe para o Lucas."

Marcos olhou para mim, depois para o delegado, e as lágrimas brotaram em seus olhos novamente. "Ela... ela lutou muito", disse ele, a voz embargada. "Eu pensei que ela estava melhor. Mas talvez eu não estivesse prestando atenção. Eu estava tão ocupado com o trabalho, com... com tudo."

Ele se virou para mim, o rosto contorcido em uma nova agonia: a culpa. "Eu deveria ter visto os sinais, Sofia. O jeito que você ficava quieta às vezes, o olhar perdido... Eu achei que era só tristeza pela nossa separação. Eu não sabia que tinha chegado a esse ponto. A culpa é minha. Eu deveria ter te ajudado."

Suas palavras, que deveriam ser uma defesa, foram a minha condenação final. Aos olhos do delegado, Marcos não estava me defendendo, estava confirmando a narrativa. A mulher frágil, a mãe instável que finalmente quebrou. A culpa que ele expressava não era por me abandonar, mas por não ter impedido a tragédia que ele agora acreditava que eu havia causado.

"Está vendo, Sofia?", disse Mendes, com uma calma terrível. "A peça se encaixa. Um surto psicótico. Uma amnésia dissociativa para se proteger do trauma do seu próprio ato. Não faz de você um monstro. Faz de você alguém que precisa de ajuda."

A sala começou a girar. As vozes de Marcos e do delegado se misturaram em um zumbido baixo e constante. A certeza que eu tinha da minha inocência começou a rachar. E se eles estivessem certos? E se eu tivesse tido um lapso de memória? A imagem daquele sorriso cruel no vídeo voltou à minha mente. O que era aquilo? De onde veio?

Minha mente correu para o dia do incidente. Eu me lembrava de ter deixado Lucas. Lembro-me de ter voltado para casa, o silêncio da casa vazia. Lembro-me da xícara de café. Mas... e se houvesse uma lacuna? Um buraco negro na minha memória onde o horror se escondia?

Comecei a tremer incontrolavelmente. A dúvida era um veneno, e ele estava se espalhando rapidamente pelas minhas veias. E se eu fosse o monstro que todos diziam que eu era? E se eu tivesse machucado meu próprio filho, a luz da minha vida, em um momento de loucura que eu nem conseguia lembrar?

O pensamento era tão horrível, tão insuportável, que um gemido escapou dos meus lábios. Eu olhei para as minhas próprias mãos, imaginando-as... fazendo aquelas coisas. O horror me sufocou.

"Eu... eu não sei...", gaguejei, a confusão e o medo me dominando. "Eu não me lembro... talvez... talvez vocês estejam certos..."

O Delegado Mendes assentiu lentamente, seu rosto impassível. Ele tinha conseguido o que queria. Ele havia quebrado minha resistência e me feito duvidar da minha própria mente.

"Eu acho que está na hora de trazermos um profissional para conversar com você", disse ele, pegando o telefone. "Vou solicitar uma avaliação psicológica completa. Precisamos entender o que aconteceu na sua cabeça, Sofia. Pelo seu bem e pelo bem da justiça."

Eu não protestei. Eu não tinha mais forças. Eu estava perdida em um labirinto dentro da minha própria mente, e não tinha ideia de como encontrar a saída.

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