Vingança da Mãe Quebrada
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Capítulo 3

A porta da sala de interrogatório se abriu com um estrondo. Marcos estava lá, o rosto inchado e vermelho de tanto chorar. Seus olhos, antes cheios de amor por mim, agora me queimavam com um ódio que eu nunca pensei ser possível. Ele caminhou até a mesa, suas mãos tremendo de raiva.

"Eles me deixaram entrar", disse ele, a voz rouca. "Eu preciso ouvir de você. Eu preciso que você olhe para mim e me diga."

Ele se inclinou sobre a mesa, o rosto a centímetros do meu. O cheiro de álcool em seu hálito era forte.

"Como? Como você fez isso, Sofia? Ele era seu filho! Nosso filho! Como você conseguiu machucá-lo?" Suas palavras eram como socos no meu estômago.

"Marcos, eu não fiz isso", implorei, as lágrimas escorrendo sem parar. "Você tem que acreditar em mim. Alguém está me incriminando."

"Acreditar em você?", ele riu, um som seco e horrível. "Eu vi o vídeo, Sofia! Eu vi o sorriso no seu rosto! O mesmo sorriso que você tinha quando ele nasceu! Como você pôde transformar algo tão bonito em algo tão doentio?"

Ele bateu com os punhos na mesa, o metal ressoando pela sala. "Me diga os detalhes! Eu quero saber! Você o machucou rápido? Ele chorou? Ele chamou por mim? Ele chamou pela mamãe?"

Cada pergunta era uma nova facada. Eu balancei a cabeça, incapaz de falar, sufocada pela minha própria dor e pela crueldade dele.

"Eu não fiz isso... eu não fiz..."

Marcos de repente desabou na cadeira ao lado dele, a raiva se esvaindo e deixando apenas um homem quebrado. Ele enterrou o rosto nas mãos, seus ombros tremendo com soluços violentos.

"O corpo, Sofia", ele sussurrou, a voz abafada. "Pelo amor de Deus, onde você colocou o corpo dele? Eu só quero enterrar meu filho. Ele merece um lugar para descansar. Por favor, me diga onde ele está."

A pergunta pairou no ar, fria e final. Onde estava o corpo de Lucas? Se eu não o matei, quem o fez? E para onde o levaram? A realidade da situação me atingiu com a força de um trem. Meu filho estava morto e desaparecido, e todos pensavam que eu era a responsável.

O Delegado Mendes, que observava a cena da porta, entrou novamente. Ele colocou a mão no ombro de Marcos. "Acho que já chega, senhor. Deixe-nos cuidar disso."

Marcos se levantou, cambaleando, e me lançou um último olhar de puro desprezo antes de sair.

Mendes sentou-se novamente na minha frente. Seu rosto estava duro. "Você viu o que fez com ele? Com sua família? A promotoria está pedindo a pena máxima, Sofia. Prisão perpétua sem chance de condicional. Eles querem fazer de você um exemplo."

Eu olhei para minhas mãos algemadas. Minha vida havia acabado.

"Sua única chance", continuou o delegado, "sua única, minúscula chance de alguma clemência, é confessar tudo. Nos conte cada detalhe. E o mais importante: nos leve até o corpo de Lucas. Faça isso, e talvez o juiz veja um pingo de remorso em você."

O desespero me deu uma última onda de força. "O vídeo", eu disse, minha voz trêmula. "Tem que ser falso. Uma montagem, um 'deepfake', qualquer coisa. A tecnologia existe!"

Mendes balançou a cabeça lentamente. "Nossos peritos são os melhores. Eles disseram que é impossível. Mas vamos supor, por um segundo, que você esteja certa. Quem teria a tecnologia e o motivo para fazer algo tão elaborado?"

A pergunta me deixou sem resposta. Quem me odiaria tanto?

Então, o delegado abriu uma pasta na mesa. Uma pasta com o meu nome. "Eu estive pesquisando seu passado, Sofia. Seus registros médicos." Ele tirou um documento. "Depressão pós-parto. Severa. Logo após o nascimento de Lucas. Você teve pensamentos sombrios, não teve? Pensamentos de que não era uma boa mãe, de que talvez a vida de todos seria melhor sem..."

Ele deixou a frase inacabada. O ar da sala ficou mais frio. Sim, eu tive depressão pós-parto. Foi a época mais sombria da minha vida, uma névoa de exaustão e tristeza que quase me consumiu. Mas eu superei. Eu lutei. Pelo Lucas.

"Isso foi há anos!", protestei. "Eu fiz terapia, eu melhorei! Marcos sabe disso!"

"Talvez", disse Mendes, inclinando-se para a frente, seus olhos fixos nos meus. "Ou talvez a doença nunca tenha ido embora de verdade. Talvez ela estivesse adormecida, esperando. O estresse da separação, ver seu ex-marido com outra mulher... Talvez tenha sido o gatilho. Talvez você tenha tido um surto psicótico. Talvez você tenha machucado seu filho e sua mente, para se proteger, simplesmente apagou a memória."

Sua lógica era terrível, insidiosa. Ele estava plantando uma semente de dúvida na única coisa que eu ainda tinha: minha própria sanidade. E, no silêncio aterrorizante daquela sala, a semente começou a brotar.

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