Vingança da Mãe Quebrada
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Capítulo 2

A sala de interrogatório era pequena, fria e cheirava a café velho e desespero. Eu estava sentada em uma cadeira de metal, as mãos algemadas na mesa. Na minha frente, o Delegado Mendes me observava com aqueles olhos cansados, como se já tivesse visto todos os tipos de maldade humana e eu fosse apenas mais um exemplar previsível.

"Vamos começar de novo, Sofia", disse ele, a voz calma, mas firme. "Onde você estava depois que deixou seu filho no centro de recreação?"

"Eu já disse. Eu fui para casa. Eu estava em casa o tempo todo", minha voz saiu rouca, fraca.

Ele suspirou e tocou a tela do tablet que estava sobre a mesa. A imagem congelou em um close-up do rosto da mulher no vídeo. O meu rosto. Mas havia algo terrivelmente errado. A mulher sorria. Não era um sorriso de alegria, mas um esgar frio, cruel, quase triunfante, enquanto ela arrastava a pequena figura de Lucas.

"Explique essa expressão, Sofia. Uma mãe que está apenas disciplinando o filho não sorri assim. Isso é o rosto de alguém que sente prazer no que está fazendo."

Meu estômago se revirou. "Isso não sou eu! Eu não sei o que é isso, mas não sou eu! É uma farsa!"

"Nossa equipe técnica confirmou a autenticidade do vídeo. Sem sinais de manipulação digital. É tecnologia de ponta, Sofia. Impossível de falsificar com essa qualidade."

"Então sua tecnologia está errada!", eu gritei, me inclinando para frente, as algemas cortando meus pulsos. "Eu tenho um álibi! Eu cheguei em casa, fiz um café, liguei a TV. Eu estava em casa!"

O delegado pegou uma folha de papel. "Nós puxamos os registros do seu celular. Às 10h17, o horário em que o vídeo foi gravado, seu celular se conectou a uma torre que cobre exatamente a área do centro de recreação. Você não estava em casa, Sofia. Você estava lá."

O ar saiu dos meus pulmões. Como? Como isso era possível? Eu me lembrava de estar na minha cozinha. Eu me lembrava do gosto do café. Era uma memória real. Tinha que ser.

A porta da sala se abriu e a gerente do centro de recreação entrou, acompanhada por um policial. Ela se sentou na cadeira ao lado do delegado, evitando meu olhar.

"Senhora, pode nos contar novamente o que viu?", pediu o delegado.

A mulher respirou fundo, como uma atriz se preparando para o palco. "Sofia chegou de manhã para deixar o menino. Ela já parecia... estranha. Agitada. Olhando para os lados. Ela carregava uma bolsa grande, muito maior do que o normal para alguém que só está deixando uma criança."

"É mentira!", eu a interrompi. "Eu estava com minha bolsa de sempre!"

"Ela parecia obcecada com as câmeras de segurança", continuou a gerente, ignorando-me. "Perguntou onde elas ficavam, se funcionavam o tempo todo. Eu achei estranho, mas não pensei muito na hora."

Era uma teia de mentiras, cada palavra uma nova malha me prendendo.

"E quando ela voltou?", perguntou Mendes.

"Ela foi direto para a área de brinquedos. Eu não a vi entrar, ela deve ter usado uma entrada lateral. A próxima coisa que soubemos foi quando uma das crianças começou a gritar. Fomos ver e... e o menino tinha sumido. Havia apenas... sangue." A gerente cobriu o rosto com as mãos, um soluço falso escapando de seus lábios.

Eu me virei para ela, a raiva me dando uma força que eu não sabia que tinha. "Olhe para mim", eu disse, a voz baixa e perigosa. "Olhe nos meus olhos e diga a verdade. Você sabe que eu não fiz isso. Por que está mentindo?"

Ela finalmente levantou o rosto. Seus olhos estavam frios, impenetráveis. "Eu vi o que eu vi. E eu vi como você olhava para o seu filho. Sempre com uma impaciência, uma raiva contida. Como se ele fosse um fardo."

Uma dor aguda atravessou meu peito, mais forte que qualquer golpe físico. Ela estava pegando o amor mais puro da minha vida e o torcendo em algo feio e monstruoso.

"Você é um monstro", sussurrei, as lágrimas finalmente escorrendo pelo meu rosto.

O Delegado Mendes se levantou. Para ele, a história estava completa. A mãe instável, o álibi desmentido, o vídeo incriminador, a testemunha ocular. O caso estava encerrado.

"Chega por hoje", disse ele. "Levem-na de volta para a cela."

Enquanto os policiais me puxavam da cadeira, eu continuei olhando para a gerente, que agora sorria discretamente para a mesa. Um sorriso quase idêntico ao do vídeo. E eu soube, com uma certeza aterrorizante, que eu era uma peça em um jogo que eu nem sequer entendia.

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