O Recomeço de Sofia no Café
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Capítulo 3

Naquela noite, depois que Miguel adormeceu, Lucas me encontrou na varanda. Eu estava sentada em uma cadeira de balanço de madeira, olhando para o céu estrelado do interior, um espetáculo que eu nunca me cansaria de ver. Ele se sentou ao meu lado, sem dizer nada, apenas estendeu a mão e segurou a minha. A mão dele era grande, calejada do trabalho, e transmitia uma segurança que nenhuma palavra poderia.

"Você está bem?" ele perguntou finalmente.

Eu me virei para ele. Seus olhos castanhos me encaravam com uma preocupação genuína.

"Estou." Eu respondi, e era verdade. "Foi só... um fantasma. Um fantasma que eu não esperava ver de novo."

"Um fantasma bem vestido," ele brincou, e eu sorri.

"Sim. Mas ainda assim, apenas um fantasma." Apertei a mão dele. "Eu não me arrependo de nada, Lucas. De nada. Estar aqui, com você e com o Miguel... é tudo o que eu sempre quis, mesmo quando eu achava que queria outra coisa."

Ele levou minha mão aos lábios e a beijou.

"Eu também, Sofia. Eu também."

Ficamos em silêncio por um tempo. A visita de Dona Clara tinha aberto uma caixa de memórias que eu mantinha trancada. E agora, na segurança da minha nova vida, talvez fosse a hora de olhar para dentro dela sem medo.

A ironia era que Pedro e eu tínhamos sido inseparáveis. Nossas famílias eram vizinhas em um condomínio de luxo em São Paulo. Nossos pais eram amigos. Crescemos juntos. Ele era meu primeiro amigo, meu primeiro beijo, meu primeiro amor.

Lembro-me de quando tínhamos uns dez anos. Passávamos as férias na fazenda de café dos avós dele, em Minas Gerais, não muito longe de onde eu moro agora. Era nosso lugar mágico. Correríamos pelos cafezais, apostando quem chegava primeiro ao riacho. Ele me ensinou a identificar os diferentes tipos de grãos de café pelo cheiro. Eu o ensinei a fazer o melhor bolo de fubá que ele já tinha comido.

"Um dia," ele me disse, com a seriedade de uma criança de doze anos, "essa fazenda vai ser minha. E você vai ser uma chef famosa. E nós vamos morar aqui, e você vai fazer comidas incríveis com as coisas da nossa terra, e eu vou vender o melhor café do mundo."

Era um sonho simples, de criança. Mas parecia o plano mais perfeito do universo.

Todo mundo ao nosso redor via isso. Nossos pais, nossos amigos, os professores na escola. "Sofia e Pedro" era uma frase só. Era dado como certo que ficaríamos juntos. Ninguém nunca questionou. Nem nós mesmos. Era natural como respirar.

Nós fomos para a mesma faculdade. Ele, administração; eu, gastronomia. Nos formamos. Ele começou a trabalhar na empresa da família, a Moraes Café. Eu comecei a ganhar nome na cena gastronômica de São Paulo, trabalhando em restaurantes renomados, ganhando prêmios. Nosso sonho de infância estava se tornando realidade.

Quando ele me pediu em casamento, no topo do prédio mais alto de São Paulo, com a cidade brilhando a nossos pés, pareceu o clímax perfeito para a nossa história de amor de conto de fadas.

Eu estava feliz. Eu estava apaixonada. Eu acreditava no nosso "para sempre" .

O problema começou de forma sutil. Começou quando Pedro, recém-promovido a diretor de marketing, precisou de uma nova assistente. Ele estava orgulhoso da sua nova posição, cheio de ideias para modernizar a marca Moraes. E foi aí que ela apareceu.

Patrícia.

Ela veio de uma universidade de segunda linha, mas tinha um currículo impressionante, cheio de estágios e projetos. Era bonita, de um jeito óbvio, com um sorriso que parecia permanentemente colado no rosto. Era eficiente, inteligente, e parecia idolatrar Pedro.

"Ela é incrível, Sofia," ele me disse, animado, depois da primeira semana dela. "Ela entende exatamente o que eu quero fazer com a marca. É como se ela lesse meus pensamentos."

Eu fiquei feliz por ele. Eu estava ocupada com a abertura do meu primeiro restaurante, um projeto que consumia todas as minhas energias. Eu confiava em Pedro. Eu não tinha motivos para não confiar.

Na época, eu não vi Patrícia como uma ameaça. Eu a vi como uma funcionária dedicada. Uma aliada para o sucesso do meu noivo.

Olhando para trás agora, na calma da minha varanda, eu vejo a minha própria ingenuidade. Eu estava tão focada na nossa história, no nosso passado, que não vi a serpente que tinha acabado de entrar no nosso jardim. E ela não perdeu tempo para começar a espalhar seu veneno.

            
            

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