O Recomeço de Sofia no Café
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Capítulo 4

A infiltração de Patrícia foi uma obra de arte da manipulação. Ela nunca foi agressiva, nunca foi óbvia. Ela era toda sorrisos, elogios e uma eficiência assustadora. Ela se tornou a sombra de Pedro no escritório. Organizava sua agenda, preparava suas apresentações, lembrava-o dos aniversários de membros da família. Ela se tornou indispensável.

"Patrícia conseguiu aquele contato que eu precisava."

"Patrícia teve uma ideia genial para a nova campanha."

"Eu nem sei o que faria sem a Patrícia."

Eu ouvia o nome dela constantemente. No começo, eu não me importava. Eu estava feliz que ele tivesse alguém tão competente para ajudá-lo. Eu estava mergulhada nos meus próprios desafios, finalizando o cardápio do meu restaurante, contratando equipe, lidando com fornecedores. Eu confiava em Pedro. Completamente.

O primeiro sinal de alerta, que eu ignorei na época, veio em uma festa na casa dos pais dele. Um daqueles eventos sociais cheios de gente importante do mundo dos negócios. Patrícia estava lá, claro. Pedro tinha insistido que ela viesse. "Ela trabalhou tanto na organização, merece participar," ele disse.

Ela usava um vestido vermelho, simples, mas que se destacava na multidão. Ela circulava pela festa, sempre a uma distância respeitosa de Pedro, mas sempre no seu campo de visão.

Mais tarde, um grupo de amigos mais jovens se reuniu na área da piscina. Alguém sugeriu um jogo idiota, uma versão de "Verdade ou Desafio" . Eu odiava essas coisas, mas estava relaxada, feliz, e entrei na brincadeira.

A garrafa girou e parou em Patrícia. Ela escolheu "verdade" .

Uma amiga minha, Carla, perguntou: "Qual o segredo mais chocante que você descobriu sobre alguém nesta sala?"

Patrícia riu, um som calculado. "Ah, não posso. Seria antiético."

Todos insistiram. "Vamos, Patrícia! É só uma brincadeira!"

Ela fez uma pausa dramática, olhou para mim com um sorriso de desculpas e depois para Pedro.

"Bem... não é bem um segredo," ela começou, com a voz baixa, como se estivesse confidenciando algo. "Mas eu fiquei muito impressionada com a ambição da Sofia. Outro dia, eu a vi saindo de um almoço com o Antoine Dubois."

O nome pairou no ar. Antoine Dubois era o dono da maior rede de restaurantes concorrente de São Paulo, um homem conhecido por comprar talentos a peso de ouro.

Um silêncio estranho caiu sobre o grupo. Eu senti os olhos de todos em mim. Pedro, que estava ao meu lado, ficou tenso.

"Eu almocei com o Antoine, sim." Eu disse, tentando manter a voz leve. "Ele é um velho amigo do meu primeiro chefe. Foi um almoço de cortesia. Falamos sobre as tendências do mercado, nada demais."

Patrícia sorriu, um sorriso que parecia dizer: "Claro, claro."

"Eu só achei incrível," ela continuou, com uma falsa admiração. "Mesmo prestes a se casar com o herdeiro da Moraes Café, ela ainda mantém suas opções abertas. Uma mulher verdadeiramente moderna e independente. Eu admiro isso."

As palavras eram um elogio, mas a implicação era veneno puro. Ela me pintou como uma alpinista social dissimulada, que estava usando Pedro enquanto mantinha contato com a concorrência.

Mais tarde, no carro, voltando para casa, o silêncio de Pedro era pesado.

"Você não me disse que ia almoçar com o Dubois." Ele disse finalmente, sem olhar para mim.

"Não achei que fosse importante, Pedro. Foi só um almoço. Você sabe que minha carreira é importante para mim."

"Sua carreira," ele repetiu, a palavra soando estranha na sua boca. "Ou sua ambição?"

Eu o encarei, chocada.

"O que você está insinuando?"

"Nada," ele disse, rápido demais. "Só... a Patrícia tem razão. Você é muito ambiciosa."

Não era um elogio. Na boca dele, naquele momento, a palavra "ambiciosa" soava como um palavrão. Soava como "interesseira" .

Foi a primeira vez que ele duvidou de mim. A primeira vez que as palavras de outra pessoa pesaram mais do que a nossa história. A semente da desconfiança tinha sido plantada. E Patrícia estava lá, pronta para regá-la todos os dias.

                         

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