Ele sentia a presença dela, tão perto, tão insuportavelmente forte. Quem era ela? Como tinha passado por sua barreira? Como podia vê-lo quando ninguém jamais conseguira?
Os olhos dele eram um abismo, selvagens, incapazes de foco. Ele segurava Maya com tanta força que seu corpo doía, mas era incapaz de soltar. Sua respiração vinha pesada contra o rosto dela, e por um momento, Maya viu algo brilhar nos olhos dele... dor? Consciência? Mas logo foi engolido pela fera.
- Solte-me! - ela gritou, a voz tremendo de medo. - Por favor, pare!
Aquele pedido perfurou Samuel como uma faca. Ele a ouviu. Sentiu cada palavra como um golpe direto em sua alma, mas o lobo dentro dele rugia mais alto. Ele queria pará-lo, mas não conseguia. Ela era tão pequena, tão frágil sob ele, e ainda assim sua presença era como um raio, cortando o caos dentro dele. O cheiro dela o enlouquecia, doce e inconfundível
- Não posso te soltar... - ele murmurou, a voz rouca e baixa, mas carregada de desespero. Maya sentiu as lágrimas brotarem, as mãos empurrando seu peito em uma última tentativa de afastá-lo.
Mas ele não a soltou. Samuel a tomou ali, naquela grama úmida, seus instintos consumindo cada grito, cada súplica. E mesmo enquanto o fazia, sentia o próprio coração se partir. O choro dela era como vidro sendo esmagado em sua mente, mas ele não conseguia lutar contra o que a poção tinha despertado.
Quando finalmente tudo terminou, Samuel caiu ao lado dela, o corpo exausto e tremendo. O efeito da poção parecia se dissipar, mas algo inesperado tinha sido despertado nele e estava o deixando em conflito consigo mesmo
Maya se encolheu, lágrimas escorrendo pelo rosto enquanto segurava os pedaços rasgados de seu vestido. O cheiro dele estava impregnado nela, e isso só tornava tudo pior. Ela se levantou com dificuldade, o corpo dolorido, mas determinada a se afastar dele.
Samuel tentou alcançá-la, mas seu corpo não obedecia. Ele caiu de volta na grama,
- Por favor... Deixe-me explicar! - ele pediu desapontado consigo mesmo.
Observando enquanto ela se afastava, vestida de branco como um fantasma na escuridão. Ele quis chamá-la, mas sua voz falhou. E então ela desapareceu.
Enquanto sua consciência oscilava entre a lucidez e a escuridão, Samuel sentiu o gosto amargo da culpa. Ele era o alfa, o líder que estava prestes a se casar e acabara de tomar uma mulher que ele percebeu nunca ter sido tocada por nenhum homem ate aquele momento.
Um turbilhão de pensamentos consumia sua mente. Ele se arrependeu amargamente de não ter ficado naquele quarto com as mulheres que foram mandadas por seus irmãos. Pelo menos, não teria forçado ninguém.
Depois de alguns minutos, reuniu o que lhe restava de força e desativou a barreira. Os anciões já estavam se aproximando, procurando por ele.
- Esses trigêmeos... sempre tramando algo! - resmungou um deles. - Quando Gael vai dar um jeito nesses lobos mestiços?
- Mantenham a concentração! - ordenou outro. - Samuel certamente ativou a barreira anti-rastreamento. Não vamos encontrá-lo assim.
As palavras dos anciões soavam distantes, como se ele estivesse em outro mundo. Deixou a dor do erro consumir seus pensamentos por alguns instantes, sem saber como consertar o que havia feito. A imagem da mulher correndo, chorando e olhando-o com desprezo o perseguiria por muito tempo, ainda assim ele não conseguiu reconhecer quem poderia ser enquanto sua vista dificultava a distinção de qualquer coisa a sua frente.
- Aqui... - Ele grunhiu, se levantando com esforço, enquanto os anciões se aproximavam para ajudá-lo.
- O que aconteceu? - Um deles perguntou, examinando-o com preocupação.
- Eu estava me escondendo... depois que eles quase me pegaram. - Ele balbuciou, ainda atordoado pelo efeito da poção. Não podiam saber de jeito nenhum o que ele havia feito.
Ele foi arrastado até o quarto pelos fundos. Seu terno de casamento estava na cama, e algumas empregadas o aguardavam ansiosas.
- Os pais da noiva estão furiosos com o atraso! O que você vai fazer? Se arrume o mais rápido possível, você está horrível! - Um dos anciões o repreendeu com severidade.
- Eles estão sendo bem pacientes... isso nem deveria mais ser considerado atraso. - Ele murmurou, ansioso. - Peça desculpas a eles por mim e diga que estarei lá embaixo em alguns minutos. - Avisou, mantendo a compostura, em seguida mandou as empregadas saírem.
Ele caiu de joelhos sobre a cama, sentindo o corpo dolorido e a mente atormentada pela culpa. Mas, em meio à dor e à confusão, uma sensação estranha de prazer o consumia. O momento pode ter sido degradante, mas não podia negar que foi uma das melhores coisas, porque a sensação era como se ele já tivesse estado tantas vezes com aquela mulher.
Depois de um banho frio, ele se arrumou e saiu. Estavam todos estranhos, e um dos anciões veio até ele.
- A família da noiva estava bastante estranha. Percebi que havia algo errado. Eles estavam andando por todos os aposentos da mansão, procurando, como se tivessem perdido algo.
- Que seja! Desde que minha noiva esteja pronta. - Ele resmungou, sem pensar muito nisso.
Seus irmãos também estavam no corredor. Ele se aproximou deles, que mantinham a cabeça baixa, mas seu pai parou perto dele, o analisando da cabeça aos pés, e então o puxou para dentro do quarto.
- Interroguei os trigêmeos. - Ele avisou, tenso. - Aconteceu algo? Você teve um caso com alguém? - Perguntava com pressa, mas ele comprimiu os lábios.
- Digamos que o que não pode ser comprovado não pode ser colocado em pauta.
- Kan... isso é complicado, você tem que ter cuidado... - Ele suspirou, depois começou a farejá-lo. Seus olhos ficaram azuis cintilantes e estavam fixos nele.
- Você mexeu com a deusa do destino? - Ele perguntou, percebendo que o pai segurava uma pedra reluzente na mão.
- Isso é perigoso. Se você ficou com alguém daquela forma, com certeza pode ter a engravidado. Já pensou nisso? - Ele perguntou, demonstrando tensão. Naquele momento, Kan ficou ainda mais preocupado.
- Eu torço para não ter acontecido.
- Mas pode ter acontecido... A deusa me deu essa pedra para me ajudar a ver a mulher, mas não é possível ver... Elas disseram que era uma moça que nunca tinha tocado homem algum.
Essa informação fez Kan se levantar ainda mais preocupado.
- Tem certeza disso?
- Vamos deixar esse assunto entre nós por agora. Melhor irmos para o casamento, já estamos atrasados demais. É um milagre que eles ainda esperem. - Seu pai avisou, interrompendo o assunto.
- Houve um pequeno imprevisto, parece que a noive está com algum problema, vamos ter que esperar agora. - Um dos anciões entrou avisando as pressa.