Ele não me levou de volta ao meu antigo apartamento. Em vez disso, dirigimos para uma mansão moderna e sprawling, empoleirada em um penhasco com vista para o oceano. Sua nova casa. Minha nova prisão.
Ele me carregou para dentro e me colocou na sala de estar grandiosa e estéril.
"Eu quero ir para casa", eu disse, minha voz sem emoção.
"Esta é a sua casa agora", ele respondeu, afrouxando a gravata. "O lugar antigo foi vendido. Não se preocupe, suas coisas estão aqui."
"Meu pai", engasguei. "Como ele está?"
A expressão de Caio suavizou por uma fração de segundo. "Ele está estável. Os melhores médicos estão cuidando dele. Estou cuidando de tudo."
Outra mentira. Mas eu estava exausta demais para confrontá-lo.
"Eu sei que isso é muito, Alana", disse ele, ajoelhando-se na minha frente, pegando minhas mãos. Seu toque parecia uma marca de ferro. "Eu fui um canalha lá atrás. Foi um show. Para a mídia, para os investidores. Para finalmente matar aquele velho boato com o qual a Bruna era tão obcecada. Agora que acabou, podemos ser nós mesmos de novo."
Ele me prometeu um futuro, uma vida tranquila, uma compensação pelo meu sofrimento. Era o mesmo roteiro, as mesmas palavras vazias. Meu coração parecia uma coisa murcha e morta no meu peito. O que ele poderia me devolver? Minha reputação? A empresa do meu pai? Minha vida?
"Como você vai me compensar, Caio?", perguntei, minha voz desprovida de emoção.
Ele acariciou minha bochecha. "Qualquer coisa que você quiser. Assim que nos casarmos, tudo o que eu tenho será seu."
Eu quase ri. "E quando será isso?"
"Em breve", disse ele, sua voz um bálsamo calmante de puro veneno. "Muito em breve, meu amor."
Ele se inclinou para me beijar, mas um zumbido urgente de seu telefone o deteve. Ele o pegou, sua expressão mudando enquanto lia a tela.
"É sobre a aquisição", disse ele, levantando-se abruptamente. "Preciso atender. Já volto."
Ele saiu correndo da sala, deixando seu tablet na mesa de centro.
Estava desbloqueado.
Minhas mãos tremeram enquanto eu o pegava. Uma janela de bate-papo estava aberta. A conversa era entre ele e Bruna. Meus olhos percorreram as mensagens, cada palavra mais uma torção da faca.
Bruna: Você viu a cara dela? Impagável. Ela está tão arrasada.
Caio: Ela é mais forte do que parece. Mas não por muito tempo.
Bruna: A situação do velho está resolvida? Os médicos estão ficando impacientes.
Caio: Não se preocupe. Instruí os médicos a mantê-lo confortável, mas a retirar qualquer medida 'agressiva' para salvar a vida dele. Um pouco de negligência médica faz milagres. Ele se irá em breve, e a Viana Inovações será completamente nossa.
Bruna: Perfeito. E quando você terminar de brincar com sua presidiária, finalmente será todo meu.
Caio: Sempre fui, B. Sempre.
Um calafrio profundo e gelado se instalou em mim. Não era apenas traição. Era assassinato. Eles estavam matando meu pai.
Deixei o tablet cair como se estivesse em chamas. Tropecei pela casa até encontrar o quarto que ele havia preparado para mim. Era uma réplica perfeita do meu antigo quarto, cheio de meus materiais de arte, meus livros, minha vida. Era uma zombaria.
Vi a foto emoldurada na minha mesa de cabeceira. Uma foto minha e de Caio, tirada em nosso primeiro aniversário. Estávamos sorrindo, felizes. Apaixonados. Uma mentira.
Com um soluço engasgado, peguei a moldura e a espatifei contra a parede. O vidro se estilhaçou.
Eu rasguei o quarto como uma tempestade, destruindo tudo que me lembrava dele, de nós. Quebrei minhas canetas de arte digital, as ferramentas do meu ofício, a mesma coisa que Bruna invejava em mim. Rasguei as cartas de amor que ele me enviou na prisão, cada palavra de afeto uma piada cruel.
A porta se abriu com violência. Caio estava lá, seu rosto furioso. "Que diabos você está fazendo?"
Virei-me para encará-lo, meu peito arfando. "Me livrando do lixo."
"Você está louca?"
"Talvez", eu disse, uma calma estranha me invadindo. "Os médicos da prisão disseram que o câncer no meu cérebro pode causar alterações de humor."
Sua raiva vacilou, substituída por um lampejo de... algo. Não era preocupação. Era aborrecimento. Outra complicação em seu plano perfeito.
Ele tentou me puxar para seus braços. "Alana, querida..."
Eu o empurrei. "Não me toque."
Seu telefone tocou novamente. Ele olhou para o identificador de chamadas, depois de volta para mim, sua mandíbula tensa de irritação. Era Bruna. Claro que era Bruna.
"Fique aqui", ele ordenou, e saiu, fechando a porta atrás de si.
Afundei no chão em meio aos destroços do meu passado. Um alerta de notícias iluminou a tela de seu tablet esquecido. Era uma transmissão ao vivo de um evento de tapete vermelho. E lá estava Caio, sorrindo para as câmeras, com Bruna Queiroz em seu braço. A manchete dizia: "Magnata da Tecnologia Caio Esteves e Artista Bruna Queiroz: O Casal Poderoso Definitivo?"
Eles nem estavam tentando esconder. Eu era apenas um fantasma em sua história triunfante.