A Vingança Tem Muitas Faces: A Dela, A Minha
img img A Vingança Tem Muitas Faces: A Dela, A Minha img Capítulo 6
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Capítulo 6

A galeria de arte era um espaço branco e austero, cheio da conversa presunçosa da cena artística da cidade. Caio manteve um aperto firme no meu braço, me guiando pela multidão. Meus pés pareciam de chumbo.

E então eu vi.

Era uma tela enorme, um redemoinho caótico de preto e cinza. De longe, parecia uma tempestade. De perto, eu podia ver a textura, a granulação. Era uma peça que eu havia projetado anos atrás em um sonho febril, um esboço digital que eu havia intitulado 'A Fúria do Pai'. Uma homenagem à sua força. E a assinatura no canto inferior não era minha. Era de Bruna Queiroz.

"Alana! Você veio!"

Bruna deslizou em nossa direção, um sorriso triunfante no rosto. Ela parecia radiante, viva. "Muito obrigada pela inspiração. Eu não poderia ter feito isso sem você. Ou sem o seu pai."

As últimas três palavras foram um sussurro, destinado apenas a mim.

"Este é o meu trabalho", eu disse, minha voz tremendo com uma raiva que era assustadoramente fria. "Você roubou isso de mim."

O aperto de Caio no meu braço se intensificou. "Alana, não faça uma cena. Bruna se inspirou nos seus conceitos iniciais. É uma homenagem."

"A assinatura diz 'Bruna Queiroz'", disparei de volta, apontando um dedo trêmulo para a tela. "Não diz 'homenagem'."

Os olhos de Bruna se encheram de lágrimas de crocodilo. "Eu só queria... honrar vocês dois." Ela balançou, colocando a mão na testa. "Sinto-me fraca."

Caio imediatamente me soltou e correu para o lado dela. "Bruna! Você está bem?"

Ela se apoiou nele, seu corpo mole. "Ela é tão agressiva. Acho que ela me empurrou."

Era uma mentira descarada. Eu não havia me movido. Mas aos olhos de Caio, eu já era culpada.

"Qual é o seu problema?", ele sibilou para mim, seu rosto contorcido em uma máscara de fúria. Ele pegou Bruna nos braços, embalando-a como uma boneca preciosa e frágil. "Ela é uma artista. Ela é sensível! Você é só uma criminosa amargurada e acabada."

Ele latiu uma ordem para dois seguranças corpulentos. "Tirem-na da minha vista. Trancem-na no escritório dos fundos até ela se acalmar."

Eu não resisti enquanto eles me arrastavam. Eu estava além da luta. Eles me empurraram para uma sala pequena e sem janelas e trancaram a porta. Estava frio. Congelante. Percebi que era uma câmara fria para preservar obras de arte delicadas. A temperatura estava ajustada para perto de zero.

Ele estava me punindo.

Bati na porta, minha voz rouca. "Me deixem sair! Caio, por favor!"

Ninguém respondeu. O frio se infiltrou nos meus ossos e comecei a tremer violentamente. Meu corpo, já enfraquecido pelo câncer e pela desnutrição, não aguentou. Minha consciência começou a desaparecer.

A fechadura clicou. A porta se abriu. Não era Caio. Era Bruna.

Ela estava lá, um sorriso presunçoso e vitorioso no rosto. Na mão, ela segurava um isqueiro.

"Sabe", disse ela, sua voz uma carícia suave e venenosa, "eu ia deixar você congelar aqui. Mas isso é muito mais apropriado."

Ela acendeu o isqueiro. A pequena chama dançou em seus olhos. "Esta peça se chama 'A Fúria do Pai'. Vamos ver como ele queima."

Ela jogou o isqueiro na tela.

A tinta e o meio especialmente tratados - as cinzas do meu pai - explodiram em um inferno químico e antinatural. O fogo se espalhou com uma velocidade aterrorizante, consumindo a tela, consumindo a sala.

"NÃO!" Um grito rasgou minha garganta.

Eu não pensei. Lancei-me para a frente, para dentro das chamas, tentando apagar o fogo com as mãos nuas. O calor era escaldante, a dor excruciante, mas eu não me importava. Aquele era meu pai.

Bruna gritou, tropeçando para trás. "Ela está louca! Está tentando me matar!", ela gritou enquanto Caio e os guardas voltavam correndo.

"Alana!", Caio rugiu, me puxando do fogo. Ele não olhou para minhas mãos queimadas, para meus pulmões cheios de fumaça. Ele só tinha olhos para Bruna, que agora soluçava histericamente.

"Ela ateou o fogo! Ela me atacou!", Bruna chorou, apontando um dedo trêmulo para mim.

Caio me empurrou para o chão. "Você está insana", ele rosnou, seus olhos cheios de um ódio tão puro que me roubou o fôlego. "Você simplesmente não suporta ver ninguém mais ter sucesso."

"As cinzas...", engasguei, tentando me levantar. "A água... apague o fogo..."

Minhas mãos eram um emaranhado de pele em carne viva e empolada. A dor era uma sensação distante e secundária à agonia em meu coração.

"Você ainda está atuando?", Caio zombou, virando as costas para mim para confortar Bruna. "Você é verdadeiramente impenitente."

A sala estava se enchendo de fumaça preta e espessa. Os alarmes de incêndio soavam. Mas tudo o que eu conseguia ver era o último pedaço do meu pai se transformando em poeira preta e sem sentido.

                         

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