A Vingança Tem Muitas Faces: A Dela, A Minha
img img A Vingança Tem Muitas Faces: A Dela, A Minha img Capítulo 5
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Capítulo 5

O dia do funeral foi cinzento e frio. Uma garoa persistente caía do céu, encharcando o cemitério com um manto de tristeza. Eu estava diante do túmulo do meu pai, vestida de preto, uma única rosa branca na mão.

A chuva pingava das pétalas sobre o granito polido da lápide. Uma lágrima escorreu pelo meu rosto, depois outra, misturando-se com as gotas de chuva. Eu estava sozinha. Ninguém mais da nossa família tinha vindo.

Uma rajada de vento repentina arrancou o guarda-chuva dos meus dedos dormentes, fazendo-o rolar pela grama molhada. Não me dei ao trabalho de recuperá-lo. Deixei a chuva fria colar meu cabelo no couro cabeludo, infiltrar-se no meu vestido fino, gelando-me até os ossos. Não era nada comparado à frieza dentro de mim.

Lembrei-me do meu pai me ensinando a andar de bicicleta no parque, suas mãos fortes me guiando. Lembrei-me dele ficando acordado a noite toda para me ajudar com um projeto da escola, seu sorriso paciente nunca vacilando. Eu nunca pude dizer adeus.

Meu corpo tremeu, um calafrio que começou na minha alma. Caí de joelhos na lama, a dor um peso físico me pressionando.

"Alana."

A voz era suave, mas me fez estremecer. Um grande guarda-chuva preto apareceu sobre minha cabeça, protegendo-me do aguaceiro. Caio.

Ele se ajoelhou ao meu lado, seu terno caro agora salpicado de lama. "Você não deveria estar aqui na chuva", disse ele, sua voz tingida de falsa preocupação.

Olhei para ele, para o homem que havia assassinado meu pai e agora estava aqui fingindo lamentá-lo. "Por que você está aqui, Caio?"

Seu telefone vibrou. Ele olhou para ele e, por um momento fugaz, sua expressão se suavizou em uma ternura genuína que nunca, jamais, foi para mim. Era para Bruna.

"Eu tenho que ir", disse ele, levantando-se. "Bruna não está se sentindo bem. O hospital ligou."

A ironia era tão espessa que eu poderia engasgar. "Bruna não está se sentindo bem", repeti, minha voz sem emoção. "Meu pai está morto, Caio. Morto. Porque você tirou os médicos dele para a porra da dor de cabeça falsa dela."

Um gosto forte e metálico encheu minha boca. Dobrei-me, uma tosse violenta sacudindo meu corpo, e cuspi um bocado de sangue na rosa branca imaculada.

O câncer. O tumor era um relógio implacável.

Eu finalmente entendi. Ele nunca me amou. Ele nunca se importou. Sempre foi sobre vingança por Bruna. Sempre sobre destruir a mim e a tudo que eu prezava.

"Estou chegando, pai", sussurrei para o túmulo, uma estranha sensação de paz se instalando em mim. "Estou chegando."

Afastei-me cambaleando do cemitério, meu corpo gritando em protesto. Eu precisava do meu remédio. Chamei um táxi e voltei para o único lugar que podia: o hospital.

Enquanto caminhava pelo corredor estranhamente silencioso em direção à farmácia, ouvi vozes de uma sala de espera vazia. Bruna e sua assistente.

"Você conseguiu?", perguntou Bruna, sua voz impaciente.

"Sim, Sra. Queiroz", respondeu a assistente. "O crematório foi muito cooperativo depois que o Sr. Esteves ligou. Aqui estão as... cinzas."

Meu coração parou.

Bruna riu, um som agudo e cruel. "Excelente. Tenho a peça perfeita em mente. 'Arte generativa', eles chamam. Vou misturar as cinzas dele no meio da tinta. Ele será imortalizado em minha obra-prima. Um tributo final da mulher que destruiu sua filha. Fico imaginando a cara que Alana fará quando vir."

Alguém ofegou. Percebi que era eu. Elas se viraram, seus olhos se arregalando de choque ao me verem parada na porta.

Caio apareceu naquele momento, correndo em direção a elas. "Bruna! Você está bem?"

Ele me viu, viu a expressão no meu rosto. Ele ligou os pontos.

"Alana", disse ele, sua voz um aviso baixo.

Eu apenas o encarei, um sorriso pálido e quebrado se espalhando pelos meus lábios. Ele não negou. Ele nem mesmo tentou.

"Vamos, Alana", disse ele, pegando meu braço. "Estou te levando para uma festa. A abertura da exposição de arte da Bruna."

Ele me arrastou, minha mente gritando, meu corpo um recipiente de puro e silencioso horror. Ele estava me levando para ver os restos profanados do meu pai exibidos como um troféu.

            
            

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