Ele realmente era o marido perfeito, na superfície. Gentil, educado, um homem que se lembrava que eu gostava do meu café com duas colheres de açúcar e colocava protetores macios nos cantos afiados dos móveis porque eu era desastrada. Ele até mandou fazer um tapete grosso e macio para a sala porque eu gosto de andar descalça.
Eu me afoguei nessa gentileza por anos. Mas o retorno de Krystal foi como um balde de água fria no rosto. Era tudo uma performance.
Mantive meus olhos fechados, não querendo ver a pena nos dele.
Ele suspirou, seus dedos inclinando meu queixo para cima. "Pare de fazer birra, Eva. Tenho algo para você."
Eu quase ri. Birra? Era isso que ele pensava que era?
Ele colocou uma pequena caixa de veludo na minha mão. Eu a abri. Dentro, aninhado no cetim, havia um único brinco de diamante. Apenas um.
A campainha tocou.
Caio foi atender e, um momento depois, a voz de Krystal flutuou para dentro do quarto.
"Caio, querido, você não pode dar a uma garota apenas um brinco. Deveria ser um par."
Eu me sentei. Krystal estava parada na porta do meu quarto, um sorriso presunçoso no rosto. Brilhando em seu lóbulo da orelha estava o pino de diamante correspondente.
Ele me deu o que ela descartou.
Lembrei-me de uma promessa que ele me fez, anos atrás, no branco estéril do hospital. "Eu te darei tudo, Eva. Um amor que é seu e somente seu."
As palavras eram cinzas na minha boca agora. Eu não era nada mais do que alguém que pegava as sobras que Krystal deixava para trás.
Uma dor aguda atravessou meu peito.
Krystal passou o braço pelo de Caio, agindo como se fosse a dona do lugar. Como se ela fosse a esposa, e eu, a convidada.
"Estou morrendo de fome", ela anunciou, seus olhos pousando em mim. "Eva, você cozinha tão bem. Por que não faz o café da manhã para a gente?"
Era uma ordem, não um pedido.
"Não estou me sentindo bem", eu disse, minha voz mal um sussurro.
O rosto de Krystal se fechou instantaneamente. Ela fez beicinho para Caio. "Se ela não me quer aqui, eu simplesmente vou embora."
"Não seja ridícula", disse Caio, sua testa franzida de aborrecimento. Não com ela. Comigo. "Eva, pare de ser difícil. Apenas faça o café da manhã."
Ele estava me tratando como a empregada.
Minha luta havia acabado. Eu estava cansada demais, quebrada demais. Arrastei-me para fora da cama e fui para a cozinha.
Eu estava fritando ovos quando aconteceu. Minhas mãos tremiam, minha visão estava embaçada por lágrimas não derramadas. Tropecei no tapete - aquele que ele comprou para o meu conforto - e a frigideira quente voou da minha mão.
Óleo fervente respingou no meu braço. A dor foi imediata, lancinante.
Eu gritei.
Caio correu para dentro. Mas ele não correu para mim. Ele correu para Krystal, que estava de pé, segura, perto da porta.
"Você está bem? Te atingiu?", ele perguntou, sua voz frenética de preocupação enquanto inspecionava as mãos dela, o rosto dela.
Ela não havia sido tocada.
"Acho que um pouquinho respingou em mim", Krystal choramingou, mostrando a mão perfeitamente intacta. "Dói, Caio. Leve-me ao hospital."
Ele a pegou no colo e saiu correndo pela porta sem um único olhar para trás, para mim.
Fui deixada sozinha no chão da cozinha, meu braço empolando, meu coração estilhaçado em um milhão de pedaços.
Eu ainda podia ouvir sua voz, um fantasma do passado, sussurrando: "Eu vou te proteger, Eva. Pelo resto da minha vida."