A mansão Rothmann estava resplandecente de luzes. Era o aniversário de Dona Doralice.
Senti uma risada amarga borbulhar dentro de mim. Em cinco anos, Doralice nunca me permitiu participar de uma festa de família. Eu não era boa o suficiente. E agora, no dia do nosso divórcio, eu finalmente fui convidada.
Tentei puxar minha mão, mas o aperto de Caio era inflexível.
"Krystal arranjou isso", ele disse, sua voz baixa. "Ela convenceu a vovó a te dar uma chance. Então, comporte-se."
Obra de Krystal. Claro. Era outra armadilha.
Ele me arrastou para frente da matriarca da família.
"Feliz aniversário, Sra. Rothmann", murmurei, meus olhos no chão.
Doralice deu um sorriso fino e desdenhoso. "E qual é o seu presente para mim, Eva?"
Eu congelei. Um presente? Caio nunca havia mencionado. Olhei para ele, um apelo silencioso em meus olhos. Ele parecia tão surpreso quanto eu. Nós dois havíamos esquecido.
Do outro lado da sala, vi o olhar triunfante de Krystal. Ela havia planejado essa humilhação perfeitamente.
Fechei os olhos, uma única lágrima escapando e traçando um caminho frio pelo meu rosto.
O resto da noite foi um borrão de dor. Fiquei em silêncio em um canto, observando enquanto Doralice cobria Krystal de afeto. Ela elogiava sua beleza, sua família, sua sofisticação.
Então veio o grand finale. Doralice tirou um anel de seu próprio dedo - um diamante antigo e maciço, a herança da família Rothmann - e o deslizou no de Krystal.
"De agora em diante", Doralice anunciou para a sala, "Krystal é a verdadeira senhora da família Rothmann."
Todos os olhos se voltaram para mim. A Sra. Rothmann legal.
"Você tem alguma objeção, Eva?", Doralice perguntou, sua voz pingando malícia.
Olhei para Caio. Ele estava sorrindo para Krystal, seus olhos cheios de um amor que ele nunca me mostrou.
Meu coração se partiu.
"Não", eu disse, minha voz surpreendentemente firme. "Nenhuma objeção."
Doralice sorriu, satisfeita. Ela mandou Caio e Krystal embora com algum pretexto frágil, depois se virou para mim.
"Venha comigo", ela disse.
Ela me levou para o andar de cima, para um quarto frio e vazio. Dois seguranças corpulentos estavam esperando.
"Tragam a lei da família", ela ordenou.
Um dos homens trouxe um longo chicote de couro.
Eles me forçaram a ajoelhar.
"Você sabe por que está aqui?", Doralice perguntou, sua voz como lascas de gelo. "Eu nunca te quis nesta família. A esposa do meu neto sempre foi destinada a ser Krystal. Você foi apenas uma solução temporária, uma fazenda de órgãos."
Ela zombou. "E em cinco anos, você nem conseguiu produzir um herdeiro. Você é inútil. Você merece ser punida."
Tentei falar, contar a ela sobre minha saúde, sobre por que não podia ter filhos. Mas as palavras não saíam.
O chicote estalou no ar.
Atingiu minhas costas, uma linha de fogo puro. Um grito rasgou minha garganta.
A segunda chibatada caiu. A dor era cegante. Eu não conseguia respirar.
A terceira. Gritei o nome de Caio, uma última e desesperada esperança de que ele viesse me salvar.
Ele não veio.
Mordi meu lábio até sangrar, meu corpo convulsionando. A escuridão se aproximou das bordas da minha visão.
Através da névoa de dor, senti alguém me levantar. Senti o cheiro dele, o perfume familiar que ele sempre usava.
"Caio", solucei, agarrando-me a ele.
Ele gentilmente fechou meus olhos com a mão, seu toque surpreendentemente macio. Mas suas palavras foram punhais.
"A vovó está apenas te ensinando uma lição, Eva. Foi para isso que você se inscreveu quando escolheu se casar comigo."