Acordei com o som de ondas e um homem gritando ao telefone.
"Estou com elas, Caio! Traga o dinheiro, ou você nunca mais verá sua preciosa esposa e sua vadia!"
Meus olhos focaram lentamente. Eu estava no convés de um barco. Krystal estava amarrada ao meu lado, soluçando histericamente. O homem ao telefone era Jairo Herrera, o meio-irmão ilegítimo de Caio.
"Por favor", Krystal implorou a ele. "Deixe-me ir. É ela que ele quer, não eu!"
"Jairo, acalme-se", tentei, minha voz rouca.
Ele riu, um som áspero e feio. "Cale a boca. Hoje à noite, você vai ver o quanto seu amado marido realmente se importa com você."
Caio chegou logo depois, uma maleta cheia de dinheiro na mão.
"Deixe-as ir, Jairo", ele disse, sua voz tensa.
Jairo verificou o dinheiro, depois sorriu. "Mudei de ideia. Você só pode levar uma. A outra morre."
Fechei os olhos. Eu sabia quem ele escolheria. Sempre era ela. Preparei-me para o fim.
"Eu levo as duas", disse Caio, sua voz fria. "Diga o seu preço."
Eu o encarei, atordoada. Krystal parou de chorar, seu rosto ficando de um tom feio de verde de ciúmes.
"Eu morreria por você, Caio!", ela gritou, de repente se lançando sobre Jairo em uma exibição teatral de devoção.
Jairo, enfurecido, agarrou-a pelos cabelos e a bateu contra a amurada do barco.
Naquele momento, eu vi. Um brilho de metal na mão de Jairo. Uma faca. Ele ia esfaquear Caio.
Eu não pensei. Apenas me movi. Joguei-me sobre Caio, empurrando-o para fora do caminho.
O ataque de Jairo errou o alvo. A faca mergulhou fundo no estômago de Krystal.
Ela soltou um grito agudo e desabou em uma poça de sangue.
O rosto de Caio se contorceu de raiva. Ele chutou Jairo para o lado e depois se virou para mim, seus olhos ardendo.
"Você fez isso de propósito", ele rosnou, sua voz um grunhido baixo e aterrorizante. "Você o usou para matá-la."
"Eu... eu estava tentando te salvar", gaguejei, meu corpo inteiro tremendo.
"Me salvar?" Ele riu, um som cheio de ódio. "Se eu soubesse que você era tão venenosa, teria deixado você se afogar."
Ele pegou a Krystal sangrando e a carregou para fora do barco, me deixando para trás com o pretenso assassino dela.
Caí no convés, meu corpo dormente, meu coração congelado.
Meu celular, que havia caído do meu bolso, vibrou no convés. A tela se iluminou com uma notificação nua e crua do meu aplicativo de saúde.
Expectativa de vida: 24 horas restantes.
Uma estranha sensação de calma me invadiu. Eu finalmente ficaria livre.
Não sei quanto tempo fiquei naquele barco. Um dia, talvez mais. Eventualmente, alguém me encontrou. Arrastei meu corpo exausto para casa e escrevi um testamento. Tudo o que eu tinha - que não era mais do que o dinheiro de Caio que eu nunca toquei - deixei para o orfanato onde nos conhecemos.
Liguei para o consultório do meu médico e providenciei a doação do meu corpo para a ciência médica. "Só por favor", disse à enfermeira, "venham me buscar quando tudo acabar. Não quero que ele me encontre."
Então me deitei na cama e fechei os olhos, pronta para o fim.
Eu estava quase adormecendo quando a porta se abriu com um estrondo. Seguranças. Os homens de Caio. Eles me tiraram da cama e me arrastaram para um carro.
Levaram-me ao hospital. Caio estava lá, andando de um lado para o outro freneticamente.
"Krystal está morrendo", ele disse, sua voz rouca. "Ela tem uma doença sanguínea rara. Precisa de um transplante de medula óssea. Você é compatível."
Eu o encarei, incrédula. "Caio, eu não posso. O médico disse que outro procedimento vai me matar."
"Não seja tão dramática", ele retrucou, sua paciência esgotada. "Você viveu uma vida de luxo por cinco anos. Você não é tão frágil."
Ele agarrou meus ombros, seus olhos selvagens. "Não seja egoísta, Eva. Faça esta última coisa por mim. Eu vou te compensar. Eu prometo."
Eles me forçaram a entrar na sala de cirurgia.
Enquanto a porta se fechava, vi Krystal, que deveria estar em seu leito de morte, sentar-se em sua cama no quarto ao lado. Um sorriso perverso e triunfante se espalhou por seu rosto.
"Eu não tenho nenhuma doença no sangue, sua imbecil", ela articulou através do vidro, seus olhos brilhando de malícia.
"Você vai morrer de qualquer maneira", sua voz, embora inaudível, era clara em minha mente. "Poderia muito bem ser rápido."
Ela deu uma ordem aos médicos no meu quarto. Os médicos dela.
Uma enfermeira se aproximou de mim com uma agulha grossa. Senti uma dor aguda e brutal quando ela mergulhou em minha coluna.
Eles estavam drenando minha medula óssea. Eles estavam drenando minha vida.
Eu gritei.
Através do vidro, Krystal me mandou um beijo. "Nunca vou te esquecer, Eva."
Minha visão ficou turva. Meu corpo convulsionou em agonia. Eu sempre imaginei uma morte pacífica, adormecendo em meu sono. Não isso. Não este fim brutal e doloroso.
Minha vida passou diante dos meus olhos. O orfanato. A barra de chocolate. O pedido de casamento no hospital. A solidão. A dor.
Uma última lágrima escorreu pela minha bochecha.
Adeus, Caio, pensei. Espero que nunca mais nos encontremos.