O Divórcio Secreto do Meu Marido
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Capítulo 3

Heitor e Cândida invadiram o quarto ao som dos gritos do menino. Seus rostos eram máscaras de alarme.

Heitor correu imediatamente para o lado de Joca, pegando-o nos braços. Ele nem sequer olhou para mim.

- O que foi, Joca? O que aconteceu? - ele perguntou, sua voz frenética.

- Ela me queimou! - o menino soluçou, apontando um dedo trêmulo e ileso para mim. - Ela fez de propósito! Ela me odeia!

A cabeça de Heitor virou-se para mim. Seus olhos, momentos antes cheios de falsa preocupação por mim, agora ardiam com uma fúria fria.

- Elena, qual é o significado disso? - ele exigiu, sua voz baixa e perigosa. - Ele é apenas uma criança. Como você pôde?

- Eu não... - comecei, mas ele me cortou.

- Ele é nosso filho agora - Heitor rosnou. - Eu o trouxe aqui para você, para te dar uma família, e é assim que você o trata? Porque você não pode ter um dos seus, vai machucar um menino inocente?

As palavras foram um tapa na cara. Ele estava usando minha dor, o sacrifício que fiz por ele, como uma arma contra mim.

Ele me deu as costas, sua atenção focada unicamente na criança chorando.

- Está tudo bem, Joca. O papai está aqui. Vou chamar o médico. Nós vamos cuidar de você.

Ele carregou o menino para fora do quarto, com Cândida seguindo de perto. Antes de sair, ela me lançou um olhar por cima do ombro. Era um olhar de puro e triunfante ódio.

Fui deixada sozinha no quarto, o cheiro de canja de galinha denso no ar. A tigela quebrada no chão, um símbolo da minha vida estilhaçada. Minha mão latejava com uma dor lancinante.

Heitor nem sequer olhou para a minha queimadura.

Eu ri, um som amargo e quebrado que ecoou no quarto vazio. Que tola eu tinha sido.

Fui ao banheiro e coloquei água fria na mão. A pele estava formando bolhas. Encontrei o kit de primeiros socorros e enfaixei a queimadura desajeitadamente, a dor um lembrete físico e agudo das feridas mais profundas e invisíveis que ele havia infligido.

Lembrei-me de uma vez, anos atrás, quando cortei o dedo enquanto cozinhava. Era um corte minúsculo, mal sangrando. Heitor me levou correndo para o pronto-socorro, seu rosto pálido de preocupação. Ele segurou minha mão o tempo todo, sussurrando que não suportava me ver sentir dor.

Aquele homem se foi. Ou talvez ele nunca tenha existido.

O amor, percebi com uma certeza arrepiante, não era eterno. Podia morrer. Podia ser morto.

A porta se abriu e Heitor entrou. Ele viu minha mão enfaixada e teve a decência de parecer culpado.

- Elena, eu... - ele começou. - Sinto muito pelo que eu disse. Eu só estava preocupado com o Joca.

Ele se aproximou, sua voz suavizando.

- Ele é só um garotinho. Ele não quis causar problemas. Você consegue encontrar em seu coração a capacidade de perdoá-lo?

Eu o encarei, meu coração um nó congelado no peito. Ele estava me pedindo para perdoar a criança que me machucou deliberadamente, enquanto ele me acusava de malícia.

Eu não disse nada.

Ele suspirou, um som de paciência cansada.

- Olha, o Joca está muito abalado. Vou dormir no quarto dele esta noite, para ter certeza de que ele está bem.

Era outra desculpa para estar com ela. Eu sabia. Mas eu não me importava mais.

- Tudo bem - eu disse, minha voz seca.

Ele pareceu surpreso com minha concordância fácil. Ele esperava uma briga, lágrimas, acusações. Ele não sabia que a mulher que teria feito essas coisas já estava morta.

Ele se inclinou e beijou minha testa, um toque breve e frio.

- Descanse um pouco.

Então ele se foi.

Deitei em nossa cama enorme e vazia, encarando a escuridão. Eu era uma estranha em minha própria casa, uma forasteira em minha própria vida.

Mais tarde, eu ouvi.

O som veio do quarto ao lado, aquele que Heitor supostamente estava compartilhando com a criança. Foi um som suave no início, um choro abafado.

Então, um gemido baixo. A voz de Heitor, densa com um prazer que eu conhecia tão bem.

E então outro som. O suspiro de uma mulher, uma mistura de dor e êxtase. Cândida.

- Seu animal - ela gemeu. - Eu te odeio.

- Você adora - Heitor rosnou de volta, sua voz um zumbido baixo de paixão. - Diga meu nome, Cândida. Diga.

- Nunca - ela soluçou.

Sua resposta foi uma risada baixa, seguida pelos sons rítmicos e inconfundíveis de dois corpos se movendo juntos.

Apertei os olhos, minhas mãos se fechando em punhos. Pressionei meu rosto no travesseiro para abafar o grito que subiu em minha garganta.

Ele estava no quarto ao lado, com a mulher que me esfaqueou, que tirou meu futuro de mim. Ele estava fazendo amor com ela, enquanto eu jazia aqui, quebrada e sozinha.

Minha mente voltou a um tempo em que seus pais se opuseram ao nosso casamento por causa da posição social inferior da minha família. Heitor os enfrentou, sua voz ressoando com convicção.

- Eu amo a Elena - ele declarou. - Vou me casar com ela, com ou sem a sua bênção. Ela é a única que eu amarei para sempre.

Ele tinha sido tão feroz, tão leal. Minha rocha. Meu protetor.

Aquela lealdade agora era uma piada. Seu amor, uma mentira.

Fiquei ali por horas, ouvindo os sons de sua traição, até que a casa finalmente ficou em silêncio. Eu não dormi. Apenas encarei a escuridão, meu coração completa e totalmente morto.

            
            

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