Ele se lançou sobre mim, agarrando meu pulso com uma força esmagadora.
- Onde eles estão? - ele rugiu, seus olhos avermelhados e selvagens. - Para onde você os mandou?
Eu o encarei, perplexa.
- Do que você está falando?
- Não se faça de boba comigo, Elena! - ele gritou, sua saliva atingindo meu rosto. - Cândida e Joca! Eles sumiram! Você os expulsou, não foi? Você os ameaçou!
Seu telefone tocou, um som estridente e penetrante. Ele atendeu, sua voz tensa de ansiedade. Ouvi trechos da conversa.
- ...assalto... espancados... hospital...
Seu rosto ficou branco. Ele se virou para mim, seus olhos cheios de uma luz assassina.
- Eles foram assaltados - ele sibilou. - Espancados. Estão no hospital. E a culpa é sua. Você fez isso.
- Heitor, eu juro, eu não...
- Eles disseram à polícia que você os ameaçou - ele rosnou, seu aperto no meu pulso se intensificando até eu pensar que os ossos iriam quebrar. - Disseram que você mandou eles saírem ou se arrependeriam. Você é uma mulher vingativa e cruel, Elena.
Ele não me ouvia. Não me deixava explicar. Estava convencido de que eu era a vilã.
Seu telefone tocou novamente. Era o hospital.
- Qual o tipo sanguíneo? - ele latiu para o telefone. Ele ouviu, seus olhos se voltando para mim. Um olhar estranho e calculista surgiu em seu rosto. - Ela está bem aqui. Estamos a caminho.
Ele desligou e olhou para mim, sua expressão fria e dura.
- Cândida precisa de sangue. Ela tem um tipo sanguíneo raro. O mesmo que o seu. Você vai para o hospital e vai salvá-la.
- Não - sussurrei.
Ele não perguntou de novo. Ele me arrastou para fora de casa, seus dedos cravando em meu braço como garras. Ele me jogou no carro e dirigiu como um louco para o hospital.
Eles colocaram uma agulha no meu braço. Observei meu sangue, minha força vital, drenar do meu corpo, fluindo através de um tubo para salvar a mulher que tentou tirar minha vida. Heitor ficou ao lado, de braços cruzados, seu rosto impaciente. Ele não falou comigo. Ele não olhou para mim.
Quando acabou, eu estava fraca, tonta. Minha cabeça girava.
- Agora - disse Heitor, sua voz desprovida de qualquer calor - você vai ao quarto dela e vai se desculpar.
Ele foi chamado por um médico antes que pudesse me arrastar até lá. Fui deixada sozinha no corredor, balançando sobre meus pés. Eu sabia que deveria ir embora, mas uma curiosidade mórbida me puxou para o quarto dela.
Encontrei-a sentada na cama, parecendo pálida, mas presunçosa. Joca estava ao seu lado, seu rosto uma máscara de inocência infantil.
- Por quê? - perguntei, minha voz mal um sussurro. - Por que você está fazendo isso? Por que mentiu?
Cândida riu, um som frio e agudo.
- Porque eu te odeio, Elena. É simples assim. Você tem tudo, e é tão fraca. Não consegue nem segurar seu próprio marido.
Ela se inclinou para frente, seus olhos brilhando com malícia.
- Ele é meu agora. Ele fará qualquer coisa por mim. E pelo filho dele.
Ela gesticulou para que eu me aproximasse.
- Ele me mantém na rédea curta, sabe. Monitora minhas ligações, meus movimentos. Ele é obcecado. Mas eu vou fugir. E quando eu o fizer, vou destruí-lo. E vou começar com você.
Joca pegou uma maçã da mesa de cabeceira e a jogou em mim. Atingiu meu peito com um baque surdo.
- Fora! - ele gritou. - Você é uma mulher má! Você machucou minha mamãe!
Ele então pegou um pesado vaso de vidro cheio de flores. Ele o ergueu sobre a cabeça, seu rosto contorcido em um rosnado que era aterrorizante em uma criança.
- Eu te odeio! - ele gritou, e o jogou.
Eu recuei, levantando os braços para proteger meu rosto. Tropecei, empurrando-o levemente enquanto tentava sair do caminho.
Era tudo o que ele precisava.
Ele deixou o vaso cair, depois se jogou para trás no chão, soltando um grito de gelar o sangue.
- Meu braço! Ela quebrou meu braço!
Heitor irrompeu de volta no quarto, seu rosto uma tela de fúria.
- Mamãe, ela me empurrou! Ela me machucou! - Joca choramingou do chão.
Cândida estava imediatamente ao seu lado.
- Oh, meu bebê! Elena, como você pôde? Depois de tudo que passamos!
Tentei falar, me defender, mas as palavras não saíam. Eu estava presa em um pesadelo.
- Você é um monstro - disse Heitor, sua voz baixa e trêmula de raiva. - Você machucou uma criança. Depois de tudo que fiz por você.
Ele deu um passo em minha direção, sua mão levantada. Eu vi o golpe vindo, mas estava fraca demais, chocada demais para me mover.
Sua mão nunca pousou. Uma equipe de enfermeiras e médicos entrou correndo, convocada pela comoção. Eles me empurraram para o lado, cercando a criança gritando e sua mãe histérica.
Tropecei de volta para o corredor, o som de suas acusações ecoando em meus ouvidos.
- Ela é uma ameaça, Heitor! Você tem que fazer alguma coisa! - Cândida chorou.
- Eu vou - ouvi-o prometer, sua voz como gelo. - Vou fazê-la pagar por isso.
Eu soube então que minha vida nesta casa havia acabado. Minha vida com ele era uma sentença de morte.
Não voltei para casa. Caminhei para um beco escuro e silencioso, meu corpo tremendo com um frio que não tinha nada a ver com o ar da noite.
Eu estava encostada em uma parede de tijolos, tentando recuperar o fôlego, quando eles vieram me pegar.
Um saco preto foi jogado sobre minha cabeça, mergulhando-me em uma escuridão sufocante. Mãos ásperas me agarraram, e uma dor lancinante explodiu nas minhas costas quando algo duro, um taco ou um cano, me atingiu.
Gritei, mas o som foi abafado pelo saco.
Os golpes continuaram, um ritmo implacável e brutal de dor. Minhas costelas estalaram. Minha cabeça bateu no chão.
- Por favor - solucei, minha voz um sussurro quebrado. - Por quê?
Uma voz áspera respondeu da escuridão.
- O chefe disse que você precisa aprender uma lição.
O chefe. Heitor.
O último golpe atingiu minha cabeça, e o mundo desapareceu no escuro. A última coisa que ouvi foi a voz do homem, falando ao telefone.
- Está feito, Sr. Bastos. Ela não vai mais incomodá-lo.