O Divórcio Secreto do Meu Marido
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Capítulo 4

Na manhã seguinte, Heitor estava na cozinha, usando um avental, um sorriso alegre estampado no rosto. Ele cantarolava enquanto virava panquecas. Era uma paródia grotesca de uma cena doméstica feliz.

- Bom dia, querida - ele disse, sua voz brilhante. - Fiz suas favoritas, panquecas de mirtilo.

Ele olhou para mim, seus olhos cheios de uma ternura que agora era obscena. Senti como se estivesse olhando para um completo estranho.

- Pensei que poderíamos sair hoje - ele continuou. - Só nós dois. Um belo passeio pela costa.

- Não - eu disse, minha voz fria e vazia.

Ele congelou, a espátula pairando sobre a frigideira. Ele me encarou, seu sorriso vacilando.

- O quê?

- Não quero ir a lugar nenhum com você - eu disse.

Ele largou a espátula e caminhou até mim, seu rosto uma máscara de preocupação. Ele se agachou, pegando minha mão não ferida na sua. Seu toque parecia repulsivo.

- Elena, eu sei que você está chateada com o que aconteceu ontem - ele disse, sua voz um murmúrio baixo e calmante. - Sinto muito. Eu passei dos limites. Por favor, me perdoe.

Seus olhos eram suaves, suplicantes. Era o mesmo olhar que ele me deu no hospital cinco anos atrás. Desta vez, não me fez sentir nada além de nojo.

Puxei minha mão e comecei a comer o café da manhã que Maria havia deixado para mim, ignorando as panquecas que ele havia feito.

Ele me observou por um momento, depois pareceu decidir que eu o havia perdoado. Seu sorriso voltou, aliviado.

- Vamos - ele disse, me puxando para ficar de pé. - Vamos às compras. Eu compro o que você quiser.

Ele praticamente me arrastou para o carro.

Cândida e Joca já estavam sentados no banco de trás.

Meu coração afundou. Claro.

- O Joca estava se sentindo um pouco para baixo - Heitor explicou, sem encontrar meus olhos. - E a Srta. Camargo precisava comprar algumas coisas para ele. Pensei que poderíamos ir todos juntos. Um passeio em família.

Seu olhar piscou para Cândida no espelho retrovisor por uma fração de segundo, um olhar de desejo e posse que ele tentou esconder.

Eu não disse nada. Entrei no carro, uma passageira silenciosa e relutante na farsa da minha própria vida.

No shopping, Heitor era um turbilhão de atividade, me puxando para as lojas mais caras. Ele me comprou vestidos, sapatos, um relógio de diamantes. As vendedoras o bajulavam.

- Sra. Bastos, que sorte a sua - uma delas se derreteu. - Seu marido a adora.

Consegui um sorriso apertado e doloroso. Me adorava. Se ela soubesse.

Meus olhos se desviaram para Cândida. Ela estava parada perto de um balcão de joias, seu olhar fixo em um colar de safiras, um olhar de desejo cru em seu rosto. Ela viera de uma família rica, mas Heitor havia tirado tudo deles. Agora ela era uma mulher sustentada, dependente do homem que ela afirmava odiar.

Heitor seguiu meu olhar. Ele viu o olhar no rosto dela.

Alguns minutos depois, ele voltou com uma pequena caixa de veludo. Não para mim.

Ele caminhou até Cândida.

- Aqui - ele disse, seu tom seco e impaciente, como se estivesse irritado. - Experimente isso. Preciso ver se ficaria bem na esposa de um cliente.

Ele colocou o colar de safiras em volta do pescoço dela, seus dedos roçando sua pele. Era uma mentira, uma desculpa esfarrapada e patética para dar um presente à sua amante na frente de sua esposa.

Senti uma risada fria borbulhar dentro de mim. Era tudo tão ridículo, tão insultante.

Virei-me e saí da loja. Não conseguia mais respirar lá dentro.

Eu estava parada na calçada, esperando o manobrista trazer o carro, quando aconteceu.

Um carro esportivo branco, seu motor roncando, cantou pneu na esquina. Estava fora de controle, vindo direto para a calçada.

Direto para Cândida, que acabara de sair da loja.

O rosto de Heitor ficou branco de terror.

- CÂNDIDA! - ele gritou.

Naquela fração de segundo, ele fez algo que selou meu destino. Ele estava parado ao meu lado. Ele me empurrou, com força. Cambaleei para trás, caindo contra a parede do prédio.

Ele não fez isso para me salvar. Ele fez isso para me tirar do seu caminho.

Ele se lançou em direção a Cândida, empurrando-a para fora da trajetória do carro.

Ele não foi rápido o suficiente.

O carro o atingiu, o som um baque doentio de metal contra carne. Ele voou pelo ar, aterrissando em um monte amassado no asfalto.

O mundo explodiu em caos. As pessoas gritavam. O carro esportivo acelerou e sumiu.

Olhei para Heitor, deitado no chão, sua perna dobrada em um ângulo antinatural. Seus olhos estavam arregalados de dor e medo.

Mas ele não estava olhando para mim. Ele estava olhando para além de mim, para Cândida, que estava paralisada de choque.

- Cândida - ele ofegou, sua voz um sussurro dolorido. - Você... você está bem?

Meu sangue virou gelo. Meu coração parou de bater. Naquele momento, observando-o deitado quebrado no chão, se importando apenas com ela, eu soube.

Qualquer última brasa de amor que eu tinha por ele morreu. Virou cinza fria e dura.

Eu não fui para o hospital. Eu não chamei uma ambulância.

Fiquei ali por um momento, olhando para o homem que havia destruído minha vida.

Então, virei-me e fui embora.

Os fantasmas de uma vida passada ecoavam na minha. Olhei para a marca escura na minha mão, a pele nova ainda sensível.

Mas a dor real estava no meu peito, uma dor profunda e oca que era muito pior do que qualquer queimadura.

            
            

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