Coma, Crueldade e a Traição de Caleb
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Capítulo 2

O mundo era uma névoa de paredes brancas e cheiro de antisséptico. A dor, aguda e insistente, irradiava das minhas costelas e da minha cabeça. Eu estava em um hospital. De novo.

Através da névoa, ouvi vozes do lado de fora da minha porta.

"O médico disse que são apenas algumas costelas trincadas e uma concussão. Ela vai ficar bem", a voz de Fernando estava tensa de irritação. "Sinceramente, ela só está fazendo cena."

"Ela precisa aprender a lição, Nando", a voz de Caio era mais fria. "É isso que acontece quando ela não escuta."

Meus olhos se abriram quando um médico entrou no quarto. Era um homem mais velho, com olhos gentis que agora estavam cheios de uma pena profunda e perturbada.

"Senhorita Almeida", disse ele suavemente. "Sou o Dr. Esteves."

Ele olhou para a porta, onde Caio e Fernando estavam agora. "Posso ter uma palavra com a família dela? A sós?"

O maxilar de Caio se contraiu. "Nós somos a família dela. O que quer que você tenha a dizer, pode dizer para nós."

Dr. Esteves hesitou, depois suspirou. "Muito bem. Seus ferimentos da queda são leves. Mas... meu exame revelou outra coisa. Algo muito mais sério."

Ele ergueu um conjunto de exames contra a luz. "Senhorita Almeida, você tem câncer de pulmão avançado. Houve metástase. É terminal."

As palavras pairaram no ar, pesadas e irreais.

Terminal.

Senti um estranho distanciamento, uma calma fria se instalando sobre mim. Era como se ele estivesse falando de outra pessoa.

Caio zombou. "Câncer? Não seja ridículo. Ela só está tentando chamar atenção. Outro dos joguinhos dela."

Fernando assentiu em concordância. "Ela sempre foi dramática."

Uma parte minúscula e tola do meu coração tinha esperança. Esperava que essa notícia, essa tragédia inegável, rompesse sua fúria justiceira. Que eu veria um lampejo do irmão, do noivo, que eu costumava conhecer.

Observei seus rostos, procurando por qualquer sinal de remorso, de amor.

Não havia nada. Apenas desprezo gelado.

Nesse momento, o telefone de Caio tocou. Ele atendeu, seu tom mudando instantaneamente de áspero para terno.

"Helô? O que foi? Você está bem?"

Ele ouviu por um momento. "Estou a caminho. Não se preocupe, chego aí num instante."

Ele desligou e se virou para Fernando. "A Heloísa está com medo. Ela precisa de mim."

Ele começou a ir para a porta sem sequer olhar para trás.

"Espere", disse o Dr. Esteves, dando um passo à frente. "Senhor Sampaio, isso é sério. Precisamos discutir opções de tratamento, cuidados paliativos..."

"Dê a ela alguns analgésicos", disse Caio por cima do ombro. "Nando, fique aqui. Certifique-se de que ela não cause mais problemas."

E então ele se foi.

Fernando ficou perto da porta, de braços cruzados, sua expressão impaciente.

Dr. Esteves se virou para mim, seu rosto cheio de uma tristeza impotente. "Senhorita Almeida, podemos começar a quimioterapia para controlar a dor, talvez ganhar um pouco mais de tempo..."

"Tempo para quê?", perguntei, minha voz um sussurro.

"Para contar a eles", ele insistiu gentilmente. "Você precisa contar a eles. Fazê-los entender."

Uma risada amarga escapou da minha garganta. "Entender o quê? Eles não se importariam se eu estivesse morrendo no chão na frente deles."

Minha última brasa de esperança foi extinta pela partida apressada de Caio para confortar a garota que havia roubado minha vida.

"Eles nunca vão acreditar em mim", eu disse, minha voz vazia. "Não importa mais."

Dr. Esteves parecia querer argumentar, mas viu a finalidade em meus olhos. Ele me deixou com uma receita de analgésicos e um olhar de profunda simpatia.

Os dias que se seguiram foram um borrão de dor. A dor nos meus ossos se aguçou, e respirar se tornou um esforço monumental. Os comprimidos mal tocavam as bordas da agonia.

Uma semana depois, Fernando ligou. Ele não perguntou como eu estava.

"Caio disse que você já teve sua semana. Saia do hospital e volte para a mansão. Há trabalho a ser feito."

A mensagem era clara. Minha penitência não havia acabado. Meu sofrimento era um inconveniente para eles.

Tudo bem.

Uma nova e sombria determinação se solidificou dentro de mim. Se eles me queriam de volta, eu voltaria. Eu os deixaria ver as consequências de sua "lição".

Dei alta a mim mesma do hospital, contra os protestos frenéticos do médico. Peguei a receita para um mês dos opioides mais fortes que eles me dariam e peguei um táxi de volta para a gaiola de ouro que Caio chamava de lar.

O mordomo, um homem leal apenas a Caio, me parou na porta.

"Ordens do Sr. Sampaio. Você deve ser desinfetada antes de entrar. Você esteve em um hospital. Não podemos arriscar trazer germes."

Duas empregadas, com rostos impassíveis, me levaram a um grande banheiro perto da garagem. Elas encheram uma banheira com um líquido de cheiro forte e químico.

"Entre", uma delas ordenou.

Eu estava fraca demais para lutar. Mergulhei na solução ardente. Os produtos químicos atingiram os cortes não cicatrizados em meus braços e pernas, uma nova onda de fogo. A água ao meu redor começou a florescer em vermelho enquanto minhas feridas se reabriam.

As empregadas ofegaram, suas máscaras profissionais se quebrando por um momento de horror.

Nesse momento, Caio e Fernando entraram. Os olhos de Caio pousaram no sangue na água e, por uma fração de segundo, vi algo piscar em seu rosto. Choque? Preocupação?

Mas então Fernando colocou a mão em seu braço.

"Não se esqueça do plano, Caio", ele murmurou, sua voz baixa. "Não deixe ela te enganar."

O rosto de Caio endureceu novamente, o breve momento de humanidade se foi. Ele me deu as costas.

"Certifiquem-se de que ela esteja limpa", ele ordenou às empregadas, sua voz desprovida de toda emoção. "Depois, levem-na para o quarto dela."

Observei o homem com quem eu deveria me casar me deixar sangrando em uma banheira de desinfetante, de costas para mim.

Uma risada pequena e quebrada escapou dos meus lábios.

Ele estava preocupado com germes. Que irônico.

            
            

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