A Esposa Dele, o Jogo Dela, a Fuga Dele
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3
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Capítulo 3

Passei o dia seguinte enfurnado no quarto de hóspedes, os sons de Eva e Kadu rindo e se movendo pelo apartamento uma lembrança constante e irritante da minha humilhação. Eles eram deliberadamente barulhentos, sua alegria uma performance para o meu benefício.

Naquela noite, Eva bateu na minha porta.

"Vista-se", disse ela quando abri. "Vamos dar uma festa."

"Uma festa?"

"É o aniversário do Kadu", disse ela, seu tom leve e despreocupado. Ela estava tentando agir normalmente, como se trazer o amante para nossa casa fosse a coisa mais natural do mundo. "Ele quer comemorar."

Eu queria recusar, trancar a porta e não sair. Mas sabia que isso só pioraria as coisas. Então, vesti um terno e a segui até a sala de estar, que havia sido transformada. Dezenas de pessoas circulavam, a música pulsava de alto-falantes escondidos, e Kadu estava no centro de tudo, uma taça de champanhe na mão.

Ele usava um terno ridiculamente extravagante, coberto de lantejoulas que refletiam a luz. Parecia uma paródia de um astro do rock, uma imitação barata do que eu já fui.

"Bento! Aí está você!", Kadu chamou, acenando para mim. "Venha, venha! Conheça meus amigos!"

Fui exibido como um animal de estimação estranho, o marido silencioso da grande Eva Torres. Todos conheciam a dinâmica, o segredo aberto do nosso casamento. Eles me observavam com uma mistura de pena e curiosidade mórbida. Senti seus olhares, ouvi seus comentários sussurrados.

"Ele parece tão triste."

"Não acredito que ele aguenta isso."

"Ela deve pagar uma fortuna para ele."

Meu estômago se revirou. Eu não era nada mais que um personagem em suas fofocas, uma figura trágica no grande drama de Eva.

Kadu, aproveitando a atenção, subiu no piano de cauda. "Um brinde!", declarou ele. "À minha linda Eva, por me dar a festa mais maravilhosa! E ao marido dela, Bento, por ser tão... compreensivo."

A multidão riu. Foi um insulto direto, uma emasculação pública. Eva me observava, seus olhos brilhando. Este era o auge do seu jogo. Ela estava mostrando a mim, e ao mundo, que me possuía completamente.

Olhei para ela, para Kadu, para o mar de rostos sorridentes e predatórios. E senti uma estranha calma se instalar sobre mim. A dor era tão imensa que se transformara em uma espécie de torpor.

Levantei minha taça. "A Kadu", eu disse, minha voz uniforme. "Feliz aniversário."

Kadu pareceu desapontado com minha falta de reação. Ele queria uma cena. Ele prosperava no drama.

"Sabe", disse ele, fazendo um biquinho. "Pensei que você seria um pouco mais apaixonado, Bento. Um pouco mais como você costumava ser. Eva me disse que você era um verdadeiro foguete antigamente."

Ele olhou para Eva. "Não é mesmo, querida? Você não disse que se apaixonou pelo lado selvagem dele?"

O sorriso de Eva se contraiu. Isso não fazia parte do roteiro dela.

Antes que ela pudesse responder, Kadu fez algo inesperado. Ele pegou um caco de uma taça de champanhe quebrada de uma mesa próxima.

"Eu também posso ser apaixonado", disse ele, a voz tremendo com emoção fabricada. "Eu faria qualquer coisa por você, Eva. Qualquer coisa para provar meu amor."

E então, ele arrastou o caco de vidro pelo próprio antebraço. Uma fina linha vermelha apareceu em sua pele.

A multidão ofegou. Eva correu para frente, o rosto uma máscara de preocupação.

"Kadu! O que você está fazendo?", ela gritou, agarrando o braço dele.

Ele olhou para ela, os olhos arregalados e lacrimejantes. "Eu só queria te mostrar o quanto me importo."

Eva embalou o braço dele, sua expressão uma mistura de choque e uma estranha e distorcida ternura. Ela o olhava com uma preocupação que nunca me mostrara, não importava quanta dor eu sentisse.

Observei a cena se desenrolar, uma peça de devoção distorcida e manipulação. E não senti nada além de um profundo cansaço. Este era o mundo deles, o jogo deles. E eu estava, finalmente, de verdade, farto de jogar.

Virei-me para sair.

"Bento, onde você vai?", Eva chamou, a voz aguda.

Eu não parei. Caminhei até a porta e, pouco antes de sair, olhei para trás. Eva estava me fuzilando, com raiva por eu estar estragando seu momento. Kadu parecia triunfante, mesmo com o sangue escorrendo pelo braço.

"Vocês dois se merecem", eu disse, minha voz mal um sussurro. "Divirtam-se."

E então eu saí, deixando-os nos destroços de sua própria criação.

            
            

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