A Esposa Dele, o Jogo Dela, a Fuga Dele
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7
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Capítulo 7

O rosto de Eva era uma máscara de satisfação fria quando eu disse a ela que iria ver meu pai.

"Eu vou com você", disse ela.

"Não", respondi, minha voz neutra. "Eu vou sozinho."

Encarei seu olhar, um desafio silencioso. Por um momento, pensei que ela discutiria, mas então ela deu de ombros. "Tudo bem. Mas volte para o jantar."

Ela me observou enquanto eu trocava o pijama que usava há dias. Seus olhos se demoraram nas cicatrizes frescas no meu abdômen, um brilho possessivo e triunfante neles. Os empregados sussurravam enquanto eu saía, suas vozes tingidas de uma pena doentia.

"A Sra. Torres o adora tanto."

"Ele tem tanta sorte."

Eu queria gritar com eles, contar-lhes a verdade sobre sua amada Sra. Torres. Mas continuei andando. O carro que ela mandou para mim estava, é claro, grampeado. Encontrei o microfone e a câmera escondidos na luminária do teto. Mesmo quando ela me deixava sair da minha jaula, eu ainda estava na coleira dela.

Contanto que me tire daqui, pensei. Apenas por algumas horas.

No momento em que entrei na casa do meu pai, soube que era um erro. O ar estava pesado com o cheiro de cerveja velha e ressentimento.

"Então, você finalmente decidiu dar as caras", meu pai, Damião Hahn, zombou de sua poltrona.

Antes que eu pudesse responder, ele atirou o copo na parede atrás de mim. Ele se estilhaçou, e eu me encolhi, instintivamente caindo de joelhos para pegar os cacos. Era uma resposta condicionada, incutida em mim ao longo de anos de suas fúrias bêbadas.

"Levante-se", ele rosnou. "Você é uma desgraça. Rastejando de volta para cá com o rabo entre as pernas porque sua esposa rica finalmente se cansou de você."

"Eu não estou rastejando de volta", eu disse, minha voz tremendo com uma raiva que não sentia há anos. "Estou aqui para te dizer para parar com o que está fazendo."

Ele pareceu genuinamente surpreso com meu tom. "O que você disse para mim?"

Ele se levantou, pegando a pesada bengala de madeira que usava para sua falsa manqueira. Ele a usava para me bater desde que eu era criança. Ele a balançou, e ela atingiu minhas costas com um baque surdo.

Caí no chão, a dor irradiando pelo meu corpo.

"Você costumava aguentar sem dizer uma palavra", ele resmungou, respirando pesadamente. "O que aconteceu? Sua esposa te deu coragem?"

Olhei para ele do chão, minha visão turva. "Você arruinou minha vida", sussurrei. "Você me vendeu para aquela mulher por sua própria ganância egoísta."

"Eu te dei uma vida de luxo!", ele rugiu, chutando minhas costelas. "Você deveria estar me agradecendo!"

"Você não merece ser pai", cuspi, sangue escorrendo do meu lábio. "Você não merece ter a memória da minha mãe nesta casa."

Essa foi a gota d'água. Ele me atacou com uma enxurrada de chutes e socos. Eu não revidei. Apenas fiquei ali, uma estranha sensação de paz me invadindo. Talvez fosse isso. Talvez fosse assim que terminava.

Justo quando minha visão começou a escurecer, a porta da frente se abriu com um estrondo. Os seguranças de Eva invadiram, tirando meu pai de cima de mim.

A última coisa que vi antes de desmaiar foi o rosto de Eva, sua expressão indecifrável, enquanto seus homens me cercavam.

Acordei de volta na cobertura, meu corpo doendo. Eva me aprisionara novamente, mas desta vez, ela empregou uma nova tática: o silêncio. Ela não falava comigo, nem mesmo olhava para mim. Apenas deixava comida do lado de fora da minha porta e seguia sua vida, muitas vezes trazendo Kadu para casa com ela, suas risadas ecoando pelos corredores.

Uma noite, uma mensagem anônima apareceu no celular que ela me dera. Era um vídeo. Eva e Kadu, em nossa cama, entrelaçados. Era claramente para me torturar, para me quebrar completamente.

Assisti com um sentimento morto e oco no peito. Não havia mais nada para ela quebrar.

Eu estava farto. Queria sair. Para sempre.

Naquela noite, ela entrou no meu quarto. Estava bêbada, seus movimentos instáveis. Fedia a uísque e ao perfume de Kadu.

Ela tropeçou em direção à cama e bateu as mãos de cada lado da minha cabeça, me prendendo. Seus olhos estavam selvagens, avermelhados.

"Por que você está tão calmo?", ela sibilou, o rosto a centímetros do meu. "Por que isso não te incomoda mais? Diga que me odeia! Diga que me ama! Diga alguma coisa!"

Eu apenas a encarei, meu rosto uma máscara em branco.

"Eu queria estar morto", eu disse, minha voz monótona.

"Não se atreva", ela rosnou, me interrompendo. "Mesmo que você morra, Bento, seu fantasma pertencerá a mim. Vou guardar suas cinzas em uma urna ao lado da minha cama para que você nunca possa me deixar."

Suas palavras me deram um arrepio na espinha. Ela era louca. Verdadeiramente, assustadoramente louca.

Ela se inclinou, seus lábios tentando encontrar os meus. Virei a cabeça, e ela mordeu meu ombro, com força.

Um momento depois, seu corpo amoleceu, e ela desabou em cima de mim, desmaiada pelo álcool.

Fiquei ali por um longo tempo, seu peso morto me prendendo à cama. Suas palavras ecoavam na minha cabeça. Mesmo que você morra, você nunca poderá me deixar.

Meu celular, na mesa de cabeceira, vibrou. Era uma mensagem do advogado de Juliana Barros.

"O casamento está marcado para daqui a uma semana. Você está pronto?"

Olhei para a forma adormecida de Eva, para a prisão que ela construíra ao meu redor. E eu sabia o que tinha que fazer.

Empurrei-a para fora de mim e saí da cama. Fui até o escritório dela, o único lugar que era verdadeiramente dela. Estava cheio de seus livros, seus prêmios, sua vida.

Encontrei uma garrafa de conhaque caro e um isqueiro em sua mesa.

Comecei a derramar o líquido sobre tudo. Os livros encadernados em couro, as cortinas de veludo, a escrivaninha antiga.

O fogo pegou rapidamente, as chamas lambendo as paredes com um rugido faminto.

Voltei para o quarto e olhei para Eva uma última vez. Ela ainda dormia, alheia à destruição que eu havia desencadeado.

"Adeus, Eva", sussurrei.

Então me virei и saí do apartamento, sem olhar para trás enquanto as chamas consumiam meu passado.

            
            

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