Amor Destinado, Finais Não Escritos
img img Amor Destinado, Finais Não Escritos img Capítulo 4
4
Capítulo 10 img
Capítulo 11 img
Capítulo 12 img
Capítulo 13 img
Capítulo 14 img
Capítulo 15 img
Capítulo 16 img
Capítulo 17 img
Capítulo 18 img
img
  /  1
img

Capítulo 4

Voltamos para a sala com a tigela de morangos, a tensão entre nós uma coisa palpável. Após mais alguns minutos de conversa forçada, nos preparamos para sair.

"Por que não saímos todos para jantar?", sugeriu Fernanda, seus olhos brilhando enquanto olhava para Caio.

Ele concordou imediatamente. "É uma ótima ideia." Ele nem sequer olhou para mim para saber minha opinião. Apenas pegou meu braço, seu toque possessivo e frio, e disse: "A Júlia vai conosco."

Acabamos em um restaurante italiano sofisticado. Fomos levados a um reservado, e Caio pegou o cardápio, pedindo sem me consultar. Ouvi enquanto ele listava os pratos, cada um um favorito de Fernanda. Presunto de parma com melão, risoto de cogumelos, tiramisu. Coisas que eu sabia que ele lembrava porque ela havia lhe contado. Ele nunca se lembrou da minha comida favorita.

A diferença entre ser amada e não ser amada estava nesses detalhes minúsculos e brutais. Mas, estranhamente, não senti a pontada usual de decepção. Eu era apenas uma observadora agora, catalogando as evidências que confirmavam minha decisão.

Comi em silêncio, um fantasma em sua mesa.

Meu silêncio foi quebrado pelo toque agudo do celular de Caio. Ele se desculpou e saiu do reservado para atender a ligação.

Assim que ele se foi, meus olhos foram atraídos para o pulso de Fernanda. Um brilho familiar de prata captou a luz. Era o relógio antigo. Aquele que eu passei meses restaurando para Caio. Aquele com a inscrição na parte de trás: C.M. & J.A. Para Sempre.

"Que relógio lindo", eu disse, minha voz perigosamente calma. "Onde você conseguiu?"

Fernanda sorriu, um sorriso presunçoso e triunfante. "Ah, isso? O Caio me deu. Ele disse que era só uma coisa velha que ele tinha por aí, mas eu acho adorável."

O mundo girou. Uma onda quente e furiosa me invadiu. Toda a minha calma cuidadosamente construída se estilhaçou. Esta foi a gota d'água. Esta foi a profanação final do último resquício de esperança que eu secretamente nutria.

Lembrei-me da trama do romance. A vilã, ao ver o relógio no pulso da heroína, explode em um ataque de ciúmes. Ela causa uma cena, tenta arrancar o relógio do braço de Fernanda e acaba parecendo histérica e desequilibrada, empurrando Caio ainda mais para os braços da heroína.

Eu podia sentir a atração daquele caminho pré-escrito, o impulso de gritar, de atacar. Mas então, uma onda fria de autopreservação me invadiu. Eu não seguiria o roteiro deles. Eu não lhes daria essa satisfação.

Respirei fundo e forcei meus lábios em um sorriso. "Ele fez bem em dar a você", eu disse, minha voz suave como vidro. "Fica muito melhor em você. Vocês dois são um par perfeito."

O brilho triunfante nos olhos de Fernanda vacilou, substituído por um flash de confusão e decepção. Esta não era a reação que ela queria. Ela queria uma briga.

Ela mordeu o lábio, depois se levantou. "Vou pegar uma sopa para nós", anunciou com uma alegria forçada. Ela caminhou até uma sopeira próxima, parte do buffet do restaurante.

Ela voltou com uma tigela de sopa de frutos do mar fumegante e a ofereceu para mim. "Aqui, Júlia. Você parece que precisa de algo para se aquecer."

Comecei a recusar. Sou alérgica a frutos do mar. Um fato que Caio sabia, mas obviamente nunca havia compartilhado com seu verdadeiro amor. Mas antes que eu pudesse falar, ela não estava mais me entregando a tigela.

Com um pequeno suspiro teatral, ela deixou a tigela escorregar. Ela se espatifou no chão perto dos meus pés, espirrando a sopa quente nos meus sapatos e na barra do meu vestido.

"Oh, meu Deus!", ela gritou, seus olhos imediatamente se enchendo de lágrimas. "Júlia, me desculpe! Você empurrou minha mão?"

Exatamente como o romance previu.

Caio correu de volta para a mesa, seu rosto uma máscara de preocupação. Ele foi direto para Fernanda, seu braço envolvendo-a protetoramente. "O que aconteceu? Você está bem?"

Seu olhar frio e furioso então pousou em mim. "O que você fez?"

"Ela... ela simplesmente derrubou a sopa da minha mão", Fernanda soluçou, enterrando o rosto no peito dele. "Eu sei que ela não quis... ela só está chateada com o relógio, Caio. A culpa é minha."

Foi uma atuação magistral. A mistura perfeita de vitimismo e magnanimidade fingida.

"Não fui eu", eu disse, minha voz neutra. "Ela derrubou de propósito."

Caio não me ouviu. Ele estava muito ocupado consolando uma Fernanda chorosa. "Você está sendo ridícula, Júlia", ele retrucou, sua voz cheia de nojo. "Não consegue parar de ser tão mesquinha por uma noite?"

Ele pegou uma Fernanda perturbada nos braços e a carregou para fora do restaurante, me deixando sozinha nos destroços.

Enquanto eles saíam, Fernanda olhou para trás por cima do ombro dele. Ela me deu um pequeno sorriso triunfante.

Os dias seguintes foram uma série implacável de eventos semelhantes. Fernanda orquestrava "acidentes" e "mal-entendidos", e Caio invariavelmente me culpava. Eu era uma harpa maliciosa e ciumenta. Ela era uma vítima frágil e inocente. A narrativa estava se corrigindo, me empurrando firmemente para o papel da vilã.

Finalmente, Caio invadiu a cobertura tarde da noite, seu rosto lívido. "Eu não aguento mais, Júlia! Por que você está constantemente atacando a Fernanda? O que ela já te fez?"

Foi a primeira vez que o vi perder a paciência de verdade. A primeira vez que vi tanta emoção crua em seu rosto. E era tudo por ela.

"Eu não fiz nada", eu disse, minha voz cansada. "Ela está mentindo."

"Mentindo?", ele zombou, sua risada áspera e sem humor. "Por que ela mentiria? Você é quem me comprou! Você é quem pensa que o dinheiro pode resolver tudo. Apenas a deixe em paz. Deixe as pessoas que eu me importo em paz!"

Suas palavras foram como pedras, pesadas e dolorosas. Ele saiu, batendo a porta atrás de si, o som ecoando no apartamento silencioso e vazio.

Fiquei ali, o resto da minha luta se esvaindo. Senti uma onda de pânico. A trama estava se acelerando. Se eu não fizesse algo drástico, acabaria exatamente onde o livro dizia que eu acabaria. Morta.

Eu não podia deixar isso acontecer. Uma ideia, fria e afiada, se formou em minha mente. Se eu não podia escapar da trama, talvez eu pudesse acelerá-la. Juntar os protagonistas eu mesma, para que eu pudesse sair antes do ato final e trágico.

Naquela noite, dirigi até o apartamento de Fernanda.

Ela abriu a porta, sua expressão cautelosa.

"Quero fazer um acordo", eu disse, sem preâmbulos. "Vou te ajudar a conseguir o Caio. Em troca, você para com seus joguinhos. Estou indo embora em breve e gostaria de fazer isso inteira."

            
            

COPYRIGHT(©) 2022