Item após item passou. Um carro antigo, um colar de diamantes, uma pintura de um mestre falecido. Augusto nem sequer se mexeu.
Então, o leiloeiro revelou o próximo item.
"E agora, uma peça verdadeiramente única! Um par de cisnes de cristal esculpidos à mão, um símbolo de amor eterno!"
Eles eram lindos, capturando a luz e refratando-a em cem pequenos arco-íris.
Pela primeira vez naquela noite, Augusto se endireitou. Um brilho de interesse em seus olhos escuros.
Outro homem começou o lance. Augusto imediatamente contrapôs.
O preço subiu, ultrapassando rapidamente o valor real dos cisnes. Tornou-se uma batalha de vontades, uma exibição de poder entre Augusto e o outro licitante.
"Cinco milhões de reais!" gritou o concorrente.
Augusto não hesitou. "Vinte e cinco milhões."
A sala ficou em silêncio. O outro licitante balançou a cabeça e sentou-se.
O leiloeiro, atordoado, bateu o martelo. "Vendido! Para o Sr. Ortega por vinte e cinco milhões de reais!"
Ele se virou para Augusto, um sorriso curioso no rosto. "Sr. Ortega, se me permite a ousadia, estes são para uma dama muito especial, presumo?"
A expressão fria de Augusto se suavizou. Ele pegou o microfone em sua mesa, e sua voz, suave e profunda, encheu o salão de baile.
"São para a minha noiva, Helena," ele disse, e um sorriso caloroso tocou seus lábios. Era um sorriso que Cora não via há sete anos. "Ela é a coisa mais preciosa da minha vida. Nada é caro demais para ela."
A multidão aplaudiu.
Cora sentiu seu coração se apertar. Cada palavra era um golpe. Ele estava se apresentando para a multidão, mas a mensagem era para ela. Era outra maneira de mostrar a ela o que ela havia perdido, o que havia jogado fora por dinheiro.
Ela sabia agora qual era o seu lugar. Ela era um lembrete de seu passado, uma pedra de amolar na qual ele afiava sua crueldade. Nada mais.
Enquanto Augusto se preparava para sair, o próximo item foi levado ao palco.
Era uma grande gaiola coberta.
A voz do leiloeiro ecoou. "E para o nosso último e mais emocionante item... um magnífico Mastim Tibetano de raça pura!"
A cobertura foi retirada.
Dentro havia um cão enorme, preto como a noite, com olhos como brasas. Ele rosnou, seus dentes à mostra, forçando as grades da gaiola. Era uma fera, não um animal de estimação.
Um murmúrio nervoso percorreu a multidão.
De repente, com um estalo alto, uma das travas da gaiola quebrou. O cão bateu o corpo contra a porta, que se abriu com violência.
O caos explodiu. As pessoas gritavam e corriam para fugir enquanto o cão enorme saltava do palco.
Era um borrão de pelo preto e dentes rosnando.
E estava indo direto para Augusto.
O tempo pareceu desacelerar. Antes que pudesse pensar, o corpo de Cora se moveu por conta própria.
Ela se jogou na frente dele.
"Augusto, cuidado!"
O cão se chocou contra ela, seu peso a derrubando no chão. Ela sentiu uma dor excruciante e inacreditável quando seus dentes cravaram no seu braço. Ela gritou, um som cru e aterrorizado.
Ela envolveu o outro braço em volta do pescoço grosso do cão, tentando afastá-lo, mas ele era forte demais. Ele sacudiu a cabeça, rasgando sua carne.
"Cora!"
Ela ouviu Augusto gritar seu nome. Foi a primeira vez em anos que ele o disse com algo além de desprezo. Em sua voz, por uma fração de segundo, ela ouviu pânico. Ela ouviu medo.
Ela o viu se mover, seu corpo protegendo o dela, tentando se colocar entre ela e a fera.
Os seguranças chegaram em massa, finalmente conseguindo tirar o cão de cima dela.
Seu braço era uma bagunça de sangue e tecido rasgado. A dor era imensa, e o mundo começou a girar em uma escuridão vertiginosa.
Ela desabou, sua cabeça caindo no colo de Augusto.
A última coisa que viu antes de desmaiar foi o rosto dele, pálido e tenso, seus olhos escuros arregalados com uma emoção que ela não conseguiu identificar.
Ela acordou em um quarto de hospital. O cheiro de antisséptico era forte em seu nariz.
Seu braço estava pesadamente enfaixado, e um soro estava preso em sua outra mão.
Augusto estava sentado em uma cadeira ao lado de sua cama. Ele parecia exausto, seu terno geralmente perfeito estava amassado, e havia uma barba por fazer em seu queixo.
Quando ele viu seus olhos se abrirem, uma luz piscou nos seus.
"Você acordou," ele disse, a voz rouca.
Ele se levantou e caminhou até a cama, pegando um prontuário. "O médico disse que você perdeu muito sangue. Sua anemia é severa."
Anemia. Era isso que ele pensava que era.
Cora tentou arrancar o relatório da mão dele, mas o movimento enviou uma onda de dor por seu braço. Ela estremeceu, e naquele momento, ela viu.
No dorso da mão dele, havia um curativo novo e uma pequena marca de punção. Uma marca de agulha.
Uma enfermeira entrou, sorrindo brilhantemente. "Ah, que bom, você acordou! Você tem muita sorte de ter um parceiro tão atencioso. Ele ficou a noite toda e até doou sangue para você quando o banco de sangue estava com pouco do seu tipo."
Cora o encarou, chocada. Ele havia lhe dado seu sangue.
Ela olhou para ele, mas ele rapidamente virou a cabeça, evitando seu olhar.
A enfermeira continuou: "Só precisamos confirmar alguns detalhes para a papelada. Ele é seu parceiro, correto?"
"Não," disse Cora, sua voz clara e firme, cortando o silêncio do quarto. "Ele não é."
"Ele é meu chefe. O Sr. Ortega."
O ar no quarto instantaneamente ficou frio.
A cabeça de Augusto se virou bruscamente em sua direção, o rosto sombrio. O breve momento de calor se foi, substituído pela familiar máscara de gelo.
A enfermeira, sentindo a tensão súbita, rapidamente se desculpou e saiu.
"Seu chefe?" Augusto repetiu, sua voz perigosamente baixa. "É tudo o que eu sou para você?"
Ele deu um passo mais perto, sua sombra caindo sobre ela. "Por que você fez isso, Cora? Por que pulou na minha frente?"
Seus olhos procuraram os dela, exigindo uma resposta. "Foi por um bônus maior? Uma avaliação de desempenho melhor? Tudo tem um preço com você, não é?"
A pergunta era tão injusta, tão cruel, que a deixou sem palavras. A amargura subiu por sua garganta.
Ela tinha acabado de salvar a vida dele. E essa era a sua resposta.
O silêncio se estendeu entre eles, pesado e sufocante.