"Olha pra ela," a líder riu, de pé sobre ela. "Não é tão poderosa agora, né?"
Cora ficou ali, coberta de sujeira, seu corpo uma tela de hematomas. Seu rosto estava inchado, seu lábio cortado e sangrando. Ela mal respirava.
Eventualmente, elas se cansaram. Uma delas chutou sua costela. "Ei, levanta."
Não houve resposta.
"Merda," murmurou outra. "Acho que ela desmaiou."
A líder, sua bravata desaparecida, rapidamente começou a gritar pelos guardas. "Ei! Essa aqui tá doente! Ela precisa de um médico!"
Cora foi carregada em uma maca.
Ela foi liberada da custódia mais cedo devido à sua "saúde debilitada". Seus pertences pessoais do escritório a esperavam em uma caixa de papelão na porta de seu apartamento. Ela havia sido completamente apagada da vida de Augusto.
Ela desabou em sua cama, seu corpo gritando de dor. Não se deu ao trabalho de se limpar. Apenas ficou ali, esperando entorpecidamente a morte.
Um zumbido de seu celular quebrou o silêncio. Uma mensagem de sua mãe.
*Querida, seu pai e eu vamos te visitar na próxima semana! Estamos com tantas saudades!*
Outra mensagem. Um chat em grupo para a reunião de sua faculdade.
*Pessoal, não se esqueçam da reunião neste sábado! Faz tanto tempo! Até o Augusto Ortega vai vir!*
Uma dor, aguda e insuportável, atravessou sua cabeça. Ela procurou desajeitadamente por seus analgésicos, engolindo um punhado.
Arrastou-se até o espelho e encarou seu reflexo. Uma estranha pálida, machucada e esquelética a encarava de volta.
Ela respirou fundo e respondeu às mensagens, suas palavras alegres e falsas, escondendo o abismo de sua realidade.
*Mal posso esperar para ver vocês, mãe!*
*Parece divertido! Estarei lá!*
Ela tinha uma última coisa a fazer.
Foi a uma pequena colina nos arredores da cidade, um lugar que só ela e Augusto conheciam. No seu cume, havia um ipê-amarelo. A árvore deles.
Ela tocou suavemente sua casca, um sorriso triste nos lábios. Do bolso, tirou uma delicada corrente de prata. Pendurado nela, um simples anel de prata.
Era o presente de dezoito anos que ela havia comprado para Augusto, todos aqueles anos atrás. Ela economizou por meses para poder comprá-lo. Ele o usava na corrente em volta do pescoço, bem perto do coração.
Então veio o dia em que ela o "traiu". Em sua raiva e dor, ele o arrancou do pescoço e o jogou a seus pés.
Ela o guardou desde então.
Ela pendurou cuidadosamente o colar em um dos galhos da árvore. Uma oferenda final. Um adeus final.
"A árvore está envelhecendo," ela sussurrou ao vento. "Mas eu estou envelhecendo mais rápido."
Ela e Augusto a plantaram como uma muda. Agora, era alta e forte. Ela estava murchando.
Ela deu uma última olhada, depois se virou e foi embora.
As folhas sussurraram ao vento, como se acenassem em despedida.
No sábado, ela foi à reunião. Antigos colegas de classe a cumprimentaram calorosamente, seus rostos uma mistura de nostalgia e curiosidade.
"Cora! Que bom te ver! Todos nós ouvimos que você estava trabalhando para o Augusto. Vocês dois...?"
Antes que ela pudesse responder, a porta se abriu.
Augusto entrou, com Helena Hughes em seu braço. Eles eram uma visão de poder e glamour.
Os olhos de Helena imediatamente encontraram os de Cora, e ela lhe deu um olhar de puro veneno triunfante.
O colega que estava falando com ela apenas riu sem graça.
Mais tarde, enquanto todos conversavam, Helena "acidentalmente" esbarrou em Cora. Naquele breve momento de contato, Helena deslizou algo pequeno e duro na bolsa de Cora.
Cora sentiu instantaneamente. Ela agarrou o pulso de Helena. "O que você acabou de fazer?"
Augusto estava lá em um segundo, sua mão apertando o pulso de Cora, seu aperto como um torno. "O que você pensa que está fazendo com a Helena?" ele rosnou, seus olhos brilhando com fúria protetora.
Helena fez sua cena de inocente. "Não é nada, Guto. Cora e eu estávamos apenas conversando."
Augusto soltou Cora, mas não antes de lhe dar um olhar de profunda suspeita. Ele puxou Helena para longe, sentando-a em uma mesa longe de Cora.
O coração de Cora parecia um deserto desolado.
Para animar as coisas, o presidente da turma decidiu passar uma apresentação de slides de fotos antigas da faculdade.
A tela piscou. Uma foto de sua turma de formatura sorridente apareceu, depois congelou.
A imagem falhou, depois mudou.
A sala caiu em um silêncio chocado e horrorizado.
Na tela grande, para todos verem, havia um vídeo granulado e privado. De Augusto e Helena. Na cama.