Ele tirou a carteira e jogou uma pilha grossa de notas de cem reais na mesa de cabeceira dela. O dinheiro se espalhou pelos lençóis brancos.
"Então este é o seu pagamento," ele zombou. "Por um trabalho bem feito. Você sempre teve sede de dinheiro, não é, Cora? Lembro de você estar desesperada por vinte e cinco milhões uma vez."
A menção daquele número, o preço de sua traição, foi como um tapa.
Ele não esperou por uma resposta. Virou-se nos calcanhares e saiu do quarto, deixando para trás o cheiro de seu perfume caro e o peso de seu desprezo.
Alguns dias depois, após receber alta, Cora foi encarregada de uma última tarefa relacionada ao leilão. Ela tinha que entregar pessoalmente os cisnes de cristal de vinte e cinco milhões de reais para Helena Hughes na mansão de Augusto.
Helena a cumprimentou na porta, toda sorrisos e falsa preocupação.
"Cora! Muito obrigada por trazê-los. Oh, seu pobre braço! Ainda dói?"
"Estou bem," disse Cora, de cabeça baixa.
Ao olhar para baixo, ela viu os olhos de Helena brilharem com um olhar de ódio puro e não adulterado. Desapareceu em um segundo, substituído por seu sorriso doce.
"Eles são lindos," Helena se derreteu, pegando a caixa pesada. "Augusto é tão bom para mim."
Então, ao se virar, sua mão "escorregou".
A caixa caiu no chão de mármore. Um estalo doentio ecoou pelo grande hall de entrada.
Cora olhou para cima em choque. Os belos cisnes de cristal, o símbolo do amor eterno que custara vinte e cinco milhões de reais, eram agora uma pilha de cacos brilhantes.
A máscara de doçura de Helena desapareceu, substituída por um olhar de malícia triunfante.
Naquele momento, Augusto entrou, atraído pelo barulho. Ele viu o cristal quebrado no chão, e seu rosto endureceu instantaneamente.
"O que aconteceu?" ele exigiu, seus olhos fixos em Cora.
"Cora, você..." Helena começou, sua voz tremendo enquanto começava a chorar. "Eu sei que você não quis..."
"Eu não toquei nisso!" Cora tentou explicar, sua voz subindo em pânico. "Ela deixou cair!"
O olhar de Augusto era glacial. "Estes eram um presente para Helena. Eram para ser um símbolo do nosso amor."
Ele avançou e agarrou o pulso não ferido de Cora, seu aperto como ferro. "Não há nada que você não estrague? Você é tão invejosa, tão amarga, que tem que destruir qualquer coisa bonita na minha vida?"
"Não! Augusto, me escute..."
Mas os soluços de Helena ficaram mais altos, uma performance magistral de uma vítima de coração partido. "Augusto, não fique bravo com ela. Foi um acidente. Tenho certeza que ela está arrependida."
Augusto olhou do rosto de Helena, manchado de lágrimas, de volta para o de Cora. Sua decisão já estava tomada.
"Peça desculpas," ele ordenou, sua voz fria como aço. "Ajoelhe-se e peça desculpas para a Helena."
Cora o encarou, horrorizada. "O quê? Não! Há câmeras de segurança no hall. Verifique as filmagens! Vai te mostrar o que aconteceu!"
O choro de Helena parou por um momento, um brilho de medo em seus olhos. Mas então ela relaxou. Ela sabia de algo que Cora não sabia.
Dois grandes seguranças avançaram, agarrando os ombros de Cora.
"Senhor Ortega," um deles disse, sua voz sem expressão. "O sistema de segurança do hall de entrada está em manutenção desde hoje de manhã."
Claro que estava.
Os seguranças a forçaram a se ajoelhar.
Seus joelhos caíram diretamente sobre os cacos de cristal quebrado.
Um som agudo e rangente ecoou no salão silencioso, seguido pela dor lancinante que subiu por suas pernas. Ela gritou, um soluço engasgado de agonia.
Ela olhou para Augusto, seus olhos suplicantes. Ele viu o sangue começar a vazar por suas calças. Ele viu a dor em seu rosto.
E ele não fez nada.
Ele acreditou em Helena. Ele sempre acreditaria em Helena.
"Peça desculpas," ele repetiu, sua voz ainda mais fria do que antes. "E você vai pagar por eles. Vinte e cinco milhões de reais. Vou deduzir do seu acerto."
Acerto. Ele a estava demitindo.
A dor em seus joelhos não era nada comparada à dor em seu coração.
Lágrimas escorriam por seu rosto, misturando-se com o sangue no chão. Ela olhou para Helena, que agora escondia um pequeno sorriso triunfante atrás da mão.
"Eu... eu sinto muito," Cora engasgou, as palavras com gosto de cinzas em sua boca.
"Acho que ela não está sendo sincera o suficiente, Guto," disse Helena, sua voz um ronronar cruel. "Talvez ela precise pensar sobre o que fez."
Helena caminhou até as grandes portas de vidro e as abriu. Lá fora, o céu havia escurecido, e uma tempestade repentina começara a se formar. A chuva caía forte e o vento uivava.
"Deixe-a ajoelhar lá fora," sugeriu Helena. "Até eu sentir que ela está verdadeiramente arrependida."
Augusto olhou para Cora, ajoelhada em uma poça de seu próprio sangue, e depois para sua noiva. Ele assentiu.
"Façam isso."
Os seguranças a arrastaram para fora, forçando-a a se ajoelhar na pedra fria e molhada da varanda. A chuva a encharcou imediatamente, colando seu vestido fino à pele.
Ela tremeu, o frio se infiltrando em seus ossos. A dor em seus joelhos era um fogo branco e quente.
Através das portas de vidro, ela podia ver Augusto gentilmente envolvendo Helena com um cobertor, sussurrando palavras de conforto para ela.
Cora fechou os olhos, sua mente divagando. Ela se lembrou de uma tempestade diferente, anos atrás. Ela estava com medo do trovão, e Augusto a abraçou, dizendo que sempre a protegeria.
Ela abriu os olhos. A memória se foi. Tudo o que restava era a chuva fria, os seguranças indiferentes e o homem que agora era um estranho.
Suas lágrimas se misturaram com a chuva, lavando o sangue de seus joelhos pelos degraus de pedra.
Ela estava sozinha. Absolutamente e completamente sozinha.