Sua Obsessão, a Segunda Vida Dela
img img Sua Obsessão, a Segunda Vida Dela img Capítulo 3
3
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
Capítulo 11 img
Capítulo 12 img
Capítulo 13 img
Capítulo 14 img
Capítulo 15 img
Capítulo 16 img
Capítulo 17 img
Capítulo 18 img
Capítulo 19 img
Capítulo 20 img
Capítulo 21 img
Capítulo 22 img
img
  /  1
img

Capítulo 3

De volta ao meu quarto - nosso quarto -, comecei a tirar minhas roupas do armário. Dobrei-as cuidadosamente e as coloquei em uma mala que havia escondido debaixo da cama. Fotos da nossa vida juntos estavam na mesa de cabeceira. Peguei o porta-retrato de prata e encarei os rostos sorridentes de duas pessoas que não existiam mais. Com um movimento do pulso, coloquei-o virado para baixo.

Ricardo me encontrou assim, cercada por pilhas de roupas e memórias. Ele veio por trás de mim e envolveu seus braços em minha cintura, me puxando contra seu peito.

- Ainda está brava comigo, querida? - ele murmurou em meu cabelo, seu tom suave e persuasivo. Ele achava que isso era um simples chilique.

Ele achava que algumas palavras doces e uma consciência culpada poderiam consertar qualquer coisa.

Eu queria empurrá-lo para longe, gritar para ele nunca mais me tocar. Mas eu não podia. Ainda não. Inclinei-me para trás contra ele, uma submissão silenciosa e odiosa.

- Não - eu disse, minha voz neutra. - Não estou brava.

Ele claramente não acreditou em mim. Ele suspirou, um som de quem sofre há muito tempo. - Eu sei que hoje foi difícil. A Cristina pode ser... intensa. Mas ela é essencial para a minha saúde. Deixe-me compensar você.

Ele me virou para encará-lo. - Há um leilão de caridade hoje à noite no Fasano. Vista-se. Vamos comprar algo bonito para você. O que você quiser.

Ele achava que podia comprar meu perdão. Ele sempre achava.

- Eu não quero ir - eu disse, minha voz firme.

Seu aperto em meus braços se intensificou, seu sorriso se transformando em uma linha fina e dura. - Nós vamos, Helena. Não é um pedido.

Ele sustentou meu olhar, seus olhos escuros com um aviso. Ele estava me desafiando a desafiá-lo. Desviei o olhar primeiro. Não adiantava lutar essa batalha. Eu perderia, e isso só o deixaria mais desconfiado.

- Tudo bem - eu disse, a palavra seca.

Ele me tirou de casa à força e me colocou em seu carro. No leilão, ele fez um show de me mimar, comprando um colar de diamantes por um preço que fez a multidão suspirar.

- Ricardo Bastos é um marido tão dedicado! - uma mulher sussurrou atrás de nós. - Ele a mima demais.

Eu a ouvi e senti uma risada amarga borbulhar em minha garganta. Me mimar? Ele me cobria de joias e roupas de grife em público, uma fachada brilhante para esconder a verdade feia do que ele fazia comigo em particular. Ele me comprou um celular novo depois de espatifar o antigo contra a parede. Ele me comprou um carro novo depois de amassar a porta do motorista com o punho.

Este colar era apenas mais um dinheiro para me calar.

Eu conhecia essa dança. Após a demonstração pública de afeto, ele voltaria sua atenção para Cristina, e eu seria esquecida. Na minha vida passada, ele acabaria me empurrando na frente de um carro por ela. Essa memória era uma pedra fria no meu estômago.

Eu não aguentava. - Preciso de um pouco de ar - murmurei e escapei para o banheiro.

Quando voltei, ele havia sumido. Uma comoção do outro lado do salão chamou minha atenção. Abri caminho pela multidão, uma sensação de pavor se enrolando no meu estômago.

E lá estava ele. Ricardo tinha um homem prensado contra a parede, seu rosto contorcido em uma máscara de fúria.

- Nunca mais toque nela - Ricardo rosnou.

O homem no chão balbuciava: - Me desculpe, Sr. Bastos, eu só esbarrei nela, eu juro!

Cristina estava por perto, seu vestido ligeiramente desalinhado, uma mão pressionada no peito como se estivesse aterrorizada. Seus olhos, no entanto, eram frios e calculistas.

As pessoas estavam sussurrando. Alguém perto de mim explicou a cena. O homem, um executivo bêbado, havia tropeçado em Cristina. Ricardo viu e perdeu a cabeça, acusando o homem de agredi-la. Ele estava bancando o herói.

Era o mesmo jeito que ele costumava me proteger. O pensamento foi como um soco no estômago.

- Ela é minha terapeuta, está sob minha proteção! - Ricardo rugiu, sua voz ecoando na sala subitamente silenciosa. Ele estava estabelecendo sua posse. - Quem a desrespeita, me desrespeita.

Ele envolveu um braço protetor nos ombros de Cristina e começou a levá-la embora.

Então, tudo aconteceu de uma vez.

O executivo no chão, humilhado e enfurecido, levantou-se cambaleando. Ele tirou um objeto pequeno e brilhante do bolso. Uma faca.

- Ricardo, cuidado! - gritei, minha voz rouca de instinto.

Ricardo me ouviu. Ele se virou. Mas em vez de tirar Cristina do caminho, ele reagiu com um pragmatismo frio e brutal. Ele puxou meu braço com força, me jogando diretamente na frente dele, usando meu corpo como um escudo para proteger a si mesmo e a Cristina.

Uma dor excruciante, branca e quente, explodiu na minha lateral.

Olhei para baixo. O cabo da faca estava saindo do meu abdômen. O rosto do homem era uma máscara de choque.

O mundo girou. Minha visão se afunilou.

A última coisa que vi foi o rosto de Ricardo, pálido com um lampejo de algo que poderia ter sido pânico, enquanto ele chutava o agressor para longe e seus braços me envolviam.

- Helena! - ele gritou, sua voz tensa de alarme. - Meu Deus, Helena!

Ele era um "marido amoroso" novamente. A ironia era tão espessa que eu podia senti-la, metálica e amarga, como o sangue subindo na minha garganta.

Então tudo ficou preto.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022