Eles se moveram em minha direção. Eu me arrastei para trás, mas não havia para onde ir. Cada um pegou um braço, seus apertos como tornos de ferro, e me ergueram.
Eles me arrastaram para fora da sala de estar e para a escadaria principal. Era uma estrutura grandiosa e imponente de mármore e madeira escura.
Um dos seguranças teve a decência de parecer envergonhado. - Sinto muito, Sra. Azevedo - ele murmurou.
Então eles me empurraram.
Rolei pelos primeiros degraus, meu corpo batendo no mármore duro com uma série de baques nauseantes. A dor explodiu nas minhas costas e no meu ombro.
Antes que eu pudesse processar o que havia acontecido, eles estavam me arrastando de volta para o topo.
E me empurraram de novo.
E de novo.
E de novo.
- O Sr. Bastos disse que é isso que acontece quando você não aprende a lição - disse um deles, sua voz neutra e sem emoção.
Eu era uma boneca quebrada, um monte de dor e hematomas no pé da escada. Meu corpo gritava, mas minha mente estava estranhamente calma. Era a calma da certeza absoluta. Este era o fim. Minha vida antiga havia acabado.
Na manhã seguinte, acordei no hospital novamente. Cada centímetro do meu corpo doía.
Ricardo estava lá. Ele não se desculpou. Apenas me entregou uma passagem de avião.
- É uma passagem só de ida para um resort particular em Fernando de Noronha - disse ele, a voz desprovida de emoção. - Vá para lá. Descanse. Pense no que você fez. Eu vou te buscar em três meses.
Ele acreditava que, depois de tudo, eu ainda esperaria por ele. A arrogância era de tirar o fôlego.
- Mandei recolherem as cinzas da sua mãe - acrescentou ele, como se fosse uma grande gentileza. - Elas estão seguras.
Peguei a passagem, minha mão firme. - Obrigada, Ricardo - eu disse, minha voz baixa.
Minha calma pareceu perturbá-lo. Ele me encarou, um lampejo de incerteza em seus olhos. Ele abriu a boca para dizer algo mais, depois a fechou.
Ele me levou até a casa do meu pai e me deixou no portão. Ele me observou subir o caminho, um olhar estranho e inquieto no rosto.
Então uma chamada apareceu no visor do carro dele. Cristina. Ele hesitou por uma fração de segundo, depois seu rosto endureceu. Ele atendeu a chamada, deu a volta com o carro e foi embora sem olhar para trás. Ele estava confiante de que eu era dele, que eu sempre seria dele.
Ele estava errado.
Meu pai estava esperando lá dentro. Ele viu os hematomas, a dor crua no meu rosto, e seus próprios olhos se encheram de lágrimas. Desabei em seus braços e finalmente me permiti soluçar, toda a dor, terror e raiva da última semana jorrando de mim.
Pouco tempo depois, um carro preto discreto, sem placas, parou. Um homem de terno elegante saiu. Era o assistente de Heitor. Ele me entregou uma pasta. Dentro havia novos passaportes, novas identidades e passagens de avião para Sydney, na Austrália.
- O Sr. Braga organizou tudo - disse o homem. - Assim que o incêndio for relatado, ninguém jamais conseguirá encontrá-los.
Enxuguei minhas lágrimas e assenti, uma força nova e feroz me preenchendo. Ajudei meu pai a entrar no carro. Enquanto nos afastávamos, olhei para trás, para a casa, minha casa de infância.
Um momento depois, ela explodiu em chamas. O fogo era um laranja brilhante e rugindo contra o céu noturno, uma pira funerária para Helena Azevedo.
Inclinei a cabeça no ombro do meu pai e, pela primeira vez em muito, muito tempo, sorri. Um sorriso de verdade.
Que Ricardo ficasse com suas cinzas. Que ele chorasse pela mulher que pensava possuir. Ele passaria o resto da vida assombrado por um fantasma, afogando-se em um arrependimento tão profundo que o consumiria.
E eu estaria livre.