Sua Obsessão, a Segunda Vida Dela
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6
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Capítulo 6

Voltei a mim em um lugar que conhecia muito bem. Era a sala de mídia à prova de som no porão da mansão. Ricardo a construiu após o acidente, um lugar onde ele podia gritar e quebrar coisas sem perturbar ninguém. Tinha se tornado meu inferno pessoal.

Meus membros pareciam pesados, minha cabeça densa com os efeitos do clorofórmio. Eu estava amarrada a uma cadeira.

Ricardo estava sentado em um sofá à minha frente, uma garrafa de uísque na mão. A sala estava escura, a única luz vindo de uma pequena lâmpada que projetava sombras longas e ameaçadoras nas paredes. Seu rosto era indecifrável.

O medo, frio e agudo, finalmente perfurou minha dormência.

- Ricardo, o que é isso? - perguntei, minha voz trêmula.

Ele não respondeu. Apenas tomou um longo gole da garrafa, depois a colocou na mesa com um baque. Ele se levantou e caminhou em minha direção.

Ele se ajoelhou na minha frente, seus dedos traçando suavemente as linhas de expressão na minha testa. Seu toque era leve como uma pena, um contraste aterrorizante com a situação.

- A Cristina estava muito chateada - disse ele, a voz suave, quase razoável. - Ela estava tão agitada que temi que tivesse um colapso. Não posso deixar isso acontecer, Helena. Toda a minha recuperação depende dela.

Eu o encarei, o significado por trás de suas palavras lentamente se tornando claro. Ele ia me punir. Por ela. Para apaziguá-la.

A dimensão total e monstruosa de sua traição me atingiu. Lágrimas de raiva e incredulidade brotaram em meus olhos.

- Você é louco - sussurrei, as palavras sufocadas pelas lágrimas. - Você é completamente louco.

Ele suspirou, um olhar de pena no rosto. Ele gesticulou para os dois seguranças corpulentos que estavam em silêncio no canto da sala.

- Eu tenho que fazer isso, Helena - disse ele, a voz cheia de falso arrependimento. - Tenho que mostrar a ela que você entende a importância dela. É a única maneira de ela ficar. É a única maneira de eu melhorar.

Lágrimas escorriam pelo meu rosto. - Você prometeu - solucei. - Depois de tudo, você prometeu que nunca mais me machucaria.

Lembrei-me de todos os seus pedidos de desculpas chorosos, seus votos desesperados de me proteger. Eram todas mentiras. Cada uma delas.

- Essas promessas foram uma piada, não foram, Ricardo? - cuspi, as palavras pingando uma amargura que queimava minha garganta.

Seu rosto endureceu. A máscara de arrependimento caiu, revelando o monstro frio e petulante por baixo. Ele chutou a mesinha de centro, fazendo-a bater contra a parede.

- Não me provoque, Helena! - ele rugiu. Ele respirou fundo, trêmulo, visivelmente lutando pelo controle. - Não é nada demais. Apenas um pequeno castigo para acalmar a Cristina. Nem vai doer tanto.

Ele acenou para os seguranças. Eles se moveram em minha direção.

Lutei contra minhas amarras, meu coração batendo com puro terror animal. Um dos homens segurou minha cabeça, forçando-a para trás. O outro abriu minha mandíbula à força.

O gargalo de uma garrafa de bebida foi enfiado entre meus dentes.

O líquido áspero e ardente inundou minha garganta. Engasguei, tive ânsia de vômito, meu corpo convulsionando enquanto o uísque barato e flamejante queimava seu caminho pelo meu esôfago e para o meu estômago. Parecia que eu estava engolindo fogo.

Debati-me descontroladamente, mas eles me seguraram firme. Eu não conseguia respirar, não conseguia gritar. Minha visão ficou turva. Através da névoa de dor e lágrimas, eu podia ver Ricardo.

Ele estava sentado no sofá novamente, nas sombras, o rosto uma máscara de angústia. Mas ele não se moveu. Não disse uma palavra para detê-los. Ele apenas observou.

Ele observou enquanto eles torturavam a mulher que ele dizia amar.

Na próxima vez que acordei, estava em nosso quarto. Eu estava limpa, vestida com uma camisola de seda macia. Por um momento, pensei que tudo tinha sido um pesadelo.

Então uma dor aguda e lancinante atravessou meu estômago. Era real.

Ricardo estava lá, sentado na beira da cama, uma tigela de canja nas mãos.

- Você acordou - disse ele, a voz gentil. Ele pegou uma colherada. - O médico disse que o revestimento do seu estômago está muito danificado. Você só pode tomar líquidos por um tempo.

Ele levou a colher aos meus lábios. Sua mão estava firme, sua expressão cheia de terna preocupação. Era a violação suprema. O torturador bancando o enfermeiro.

Virei a cabeça para o lado.

Seu rosto escureceu instantaneamente. A tigela bateu na mesa de cabeceira, espirrando canja quente por toda parte.

- Pare de fazer birra, Helena! - ele gritou. - Apenas coma!

A dor no meu estômago não era nada comparada à dor no meu coração. Era um peso frio e morto.

Olhei diretamente nos olhos dele, meus próprios olhos ardendo.

- Ricardo - perguntei, minha voz um sussurro rouco. - Se fosse a Cristina amarrada àquela cadeira, você teria deixado eles fazerem isso com ela?

Ele nem hesitou. - Claro que não! A Cristina é frágil.

- E o que eu sou? - retruquei.

- É a doença, Helena! - ele suplicou, a voz falhando. Ele estava tentando usar seu traumatismo craniano como um escudo, como sempre fazia. - Você sabe que não sou eu!

- Você é um covarde, Ricardo - eu disse, minha voz fria e clara. - Você só tem medo demais de admitir o que você realmente é.

Seu rosto ficou branco, depois roxo de raiva. Seus olhos estavam selvagens.

- Tudo bem - ele cuspiu. - Morra de fome então. Estou de saída. Talvez um tempo sozinha te ajude a pensar no que você fez.

Ele saiu do quarto batendo a porta com tanta força que as paredes tremeram. Eu sabia para onde ele estava indo. Ele estava indo para Cristina.

            
            

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