Ela se aproximou um pouco mais. O sofá não era grande, e o espaço entre eles ficou quase inexistente.
- Eu sei que você está aí... - sussurrou, encostando levemente a cabeça no ombro dele, mesmo sabendo que ele talvez não respondesse. - E eu vou continuar aqui, tá? Mesmo que não diga nada. Mesmo que não me olhe. Eu fico.
Não era só a temperatura da Inglaterra que a fazia tremer naquela noite.
Era ele.
No fim do filme, Ísis bocejou e deixou a cabeça recostar devagar no encosto da poltrona. Seus olhos se fecharam sem resistência.
Quando acordou, a sala estava em silêncio e a televisão desligada. Ela se sentou rápido, confusa, o coração acelerado.
- Desculpe se a despertei - disse uma voz suave.
Ísis se virou e viu uma das funcionárias colocando uma bandeja sobre a mesinha de centro.
- Trouxe um chá... Espero que goste.
- Obrigada... - respondeu, ainda meio sonolenta. - Onde está o senhor Leon?
- A enfermeira o levou para o quarto. Deve tê-lo trocado, e como já passa das nove, provavelmente ele ficará por lá agora.
Ísis assentiu, olhando em direção ao corredor. Por alguma razão, sentiu um vazio estranho ao perceber que ele não estava mais ali.
Ísis levou a xícara aos lábios, mas o chá mal teve gosto. Havia algo inquietante no silêncio da sala. A ausência dele.
Sem pensar muito, ela se levantou e caminhou devagar até o corredor. Os quadros nas paredes pareciam observá-la, e o tapete abafava o som dos seus passos. Parou diante da porta entreaberta do quarto de Leon. Caio havia levado ela lá mais cedo.
Hesitou.
A luz baixa escapava por uma fresta da porta. Ela apoiou a mão na porta, quase a fechando de novo, mas algo a fez empurrá-la levemente.
Leon estava deitado, os lençóis cobrindo até a cintura. O peito subia e descia num ritmo tranquilo. A enfermeira não estava mais ali.
Ísis entrou, devagar. O quarto era amplo e elegante. Mas não parecia ser o quarto de um homem como ele. Deve ser quarto de hóspedes.
Ela ficou em pé ao lado da cama por alguns segundos, observando-o. Havia algo de vulnerável e ao mesmo tempo hipnotizante naquele homem.
Então ele abriu os olhos.
Ela permaneceu em pé ao lado da cama por alguns segundos, observando-o em silêncio. Havia algo de vulnerável, mas ao mesmo tempo profundamente hipnotizante naquele homem.
Ela sentou-se lentamente na beira da cama, com o coração acelerado. Com delicadeza, levou a mão ao rosto dele e o fez virar um pouco para ela.
- Leon... - murmurou, com tristeza na voz.
Mas ele apenas olhou através dela, como se não a visse de verdade.
Nesse instante, a porta se abriu e a enfermeira entrou no quarto com um sorriso simpático.
- Boa noite. Sei como se sente... - disse, fechando a porta atrás de si. - Também achei que ele despertaria logo. Estou aqui há dois anos, esperando.
Ela se aproximou da cama e olhou para Leon com certo pesar, depois completou com um toque de humor irreverente:
- Chega a ser um pecado um homem desses ficar assim, parado... quando nasceu pra encantar o mundo e fazer as mulheres felizes na cama.
Ísis arregalou os olhos, surpresa com o comentário, e se afastou um pouco, visivelmente envergonhada. A enfermeira riu discretamente.
- Desculpe, meu jeito... Mas a verdade é que ele sempre teve esse dom.
A enfermeira ajustou o soro e a alimentação intravenosa com delicadeza, lançou um último olhar afetuoso para o paciente e se despediu com carinho de Ísis, saindo do quarto. No corredor, deu de cara com Caio, que caminhava apressado.
Os olhos dela brilharam ao vê-lo.
- Onde está o meu irmão? - ele perguntou.
- Está deitado, senhor - respondeu ela, com um leve sorriso.
- Ísis está com ele?
- Sim, senhor. Ela tem sido muito carinhosa com ele. Cuida dele como se fosse alguém importante para ela.
Caio assentiu, visivelmente aliviado.
- Ah, que bom... E aquela mulher? Apareceu aqui de novo?
A expressão da enfermeira mudou. Ela empalideceu levemente e respondeu com a voz mais baixa:
- Não, senhor. E sinceramente... espero que nunca mais apareça. Ela me dá arrepios. Tenho certeza de que não deseja o bem do senhor Whitmore.
- Qualquer coisa, me avise - pediu ele, com seriedade.
- Sim, senhor.
- Pode ir descansar.
- Obrigada, senhor.
Ela ficou parada no corredor, observando enquanto ele se afastava em passos lentos, seguindo para o quarto. Seus olhos o acompanhavam em silêncio.
No pé da escada, ela o viu tirar o paletó e segurá-lo na mão, revelando as costas largas que tantas vezes lhe tiravam o fôlego. Suspirou fundo.
- Ah, Deus... Ele está tão perto... e, ao mesmo tempo, tão longe de mim. - murmurou com tristeza. - Eu nunca vou ter chances. Não sou o tipo de mulher que ele gosta...
Rosie foi direto para o próprio quarto, que ficava ao lado do do senhor Leon. Não jantou, apenas tomou um copo d'água. Precisava perder pelo menos cinco quilos. O tempo que passou sentada demais tinha lhe custado um ganho considerável de peso, e a recuperação da luxação no pé atrapalhou seus treinos na academia. A dieta? Também foi por água abaixo.
Deitou-se, fechou os olhos e sorriu, sentindo o corpo enfim relaxar. Como quase todas as noites, seus pensamentos a levaram até Caio...
Logo, ele estava lá, em seu sonho.
Ela suspirou quando ele se aproximou, gentil, os olhos presos aos dela com uma ternura que a fazia esquecer do mundo. Sentiu os dedos dele tocarem seu rosto com suavidade. Então ele a beijou, um beijo calmo, profundo, cheio de tudo o que ela sempre desejou e jamais teve coragem de dizer em voz alta.