Uma razão para viver
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Capítulo 6 Capitulo 6

Capítulo 6

Ísis ainda tremia. Sentia como se fosse desmaiar. Mesmo assim, saiu da sala devagar, os olhos fixos na cena à sua frente: o segurança arrastava a mulher para fora, enquanto ela gritava, reclamando de dor e ameaçando processar todos.

- Vocês vão pagar por isso! Isso é abuso! - ela esbravejava, contorcendo-se.

***

Longe dali, Caio assistia tudo pela câmera de segurança. Quando viu Ísis com o ferro de mexer a brasa da lareira, imaginou imediatamente o pior.

- Hum... - murmurou, pensativo, enquanto passava a mão na barba por fazer, que começava a despontar no rosto. - Essa menina... Quase matou a mulher com um ferro?

Um sorriso se insinuou no canto de sua boca, entre curioso e impressionado.

***

Ísis voltou para a sala em silêncio. Guardou o ferro ao lado da lareira com mãos ainda trêmulas. Caminhou até Leon e se agachou diante dele.

Ele continuava imóvel, como se nada tivesse acontecido, os olhos baixos, o rosto pálido. Mas foi ao encarar os lábios dele que a raiva voltou com força. O vermelho do batom, o batom dela, manchava a perfeição dos lábios que ela secretamente admirava.

Ela estreitou os olhos, sentindo uma mistura de repulsa e ciúme queimando por dentro.

- Aquela mulher... - disse entre dentes. - Ela que não ouse voltar aqui.

Levantou-se e foi até um móvel, pegando um lenço de papel e uma garrafinha de água. Voltou e se ajoelhou novamente.

- Eu vou limpar isso, Leon - murmurou. - Você não merece ficar marcado por alguém como ela.

Molhou o lenço com um pouco de água e, com o máximo de delicadeza que conseguiu reunir, aproximou-se.

- Isso não combina com você... - sussurrou, quase como uma desculpa.

E então encostou o lenço no canto dos lábios dele.

O toque suave fez Leon respirar fundo. Mas ela percebeu.

Ela também respirou fundo.

O lenço deslizou devagar, contornando a curva da boca dele, e ela sentiu os dedos tremerem. Seu olhar desceu, fixo nos lábios que agora pareciam ainda mais definidos, sensuais, úmidos pelo toque do tecido molhado. Ela tentou se manter focada, mas seu corpo começou a responder de forma incontrolável.

O calor subia pelas coxas, pela barriga, pelas costas.

A cada pequeno movimento, limpando o vermelho indesejado, seu desejo aumentava.

O lenço deslizou pelo lábio inferior e ela parou.

Olhou para a boca de Leon e, por um segundo, tudo desapareceu. O mundo, a casa, o escândalo de minutos atrás.

Só restavam os dois.

E a vontade louca de beijá-lo.

Ela queria saber o gosto da pele dele, queria sentir a maciez daqueles lábios sob os seus, queria deixar sua própria marca ali, não com batom, mas com desejo.

Seu corpo inclinou-se um pouco mais, sem que ela percebesse. Estava perto. Tão perto que conseguia sentir a respiração de Leon aquecendo seu rosto. O perfume discreto dele, amadeirado, masculino, a envolvia como um veneno doce e perigoso.

Ela engoliu em seco, os olhos presos na boca dele.

- Pronto... - disse com a voz rouca, mesmo sem ter terminado de limpar tudo.

Mas ela sabia que, se não parasse agora, cometeria um erro do qual talvez jamais se perdoaria.

Ela se ergueu lentamente, respirando fundo, tentando entender o que acabara de sentir. Que energia era aquela que a puxava para ele como um ímã?

- Deus... acho que enlouqueci - murmurou, levando a mão à testa. - Ele tem idade para ser meu pai... e o pior de tudo: está inconsciente.

Sentia-se culpada, confusa, tentando afastar o desejo que surgira de forma tão intensa quanto inesperada. Estava assim quando Rosie entrou na sala, com o semblante preocupado. Ao ver Ísis tensa, foi até o paciente e se agachou ao lado dele. Pegou o tecido que estava ali e terminou de limpar os lábios dele com cuidado.

- Eu vi aquela maluca indo embora - disse, franzindo a testa. - Queria entender como ela conseguiu entrar aqui. Pronto... agora ele está limpo.

Ísis abraçou os próprios braços, como se tentasse conter tudo o que sentia. A voz saiu baixa, quase um sussurro:

- Ela é mesmo namorada dele?

Rosie virou o rosto devagar, observando Ísis com atenção. Notou o tom na voz dela e ergueu uma sobrancelha com sutileza.

- Você está perguntando por curiosidade... ou por interesse?

- Rosie... - Ísis suspirou, tentou desconversar, mas não conseguiu esconder o rubor nas bochechas. - É só que... aquela mulher parecia mais uma atriz de novela. Do tipo que aparece só para causar escândalo.

Ísis olhou para Leon, estava com os lábios limpos. Por um instante, prendeu o olhar na boca dele. Era estranhamente perfeita. Firme, delineada, com um contorno que parecia desenhado. Um impulso quente percorreu seu corpo sem aviso. Mordeu o próprio lábio e desviou o olhar.

Sentia o coração bater mais rápido, a respiração descompassada.

- Eu... preciso de um pouco de ar - murmurou, virando-se para sair.

- Ísis? - Rosie chamou, desconfiada. - Você está bem?

Ela apenas acenou sem olhar para trás, saindo pelo corredor.

No jardim, ela suspirou, fechando os olhos por um momento. A brisa da manhã acariciava seu rosto.

Abriu os olhos lentamente.

- Eu preciso de foco... e de um namorado. Tô ficando louca - murmurou para si mesma, com as mãos na cintura e o olhar perdido à sua frente.

Passou os dedos pelos cabelos e caminhou até o banco sob a árvore mais alta, sentando-se com um suspiro longo. Pegou o celular do bolso, desbloqueou, e ficou encarando a tela. Nenhuma mensagem nova. Nenhuma distração.

- Nem o meu ex aparece mais pra me dar raiva... - resmungou, jogando a cabeça pra trás e fechando os olhos de novo.

Foi então que escutou passos atrás dela. Ela se virou, esperando ver Rosie ou algum enfermeiro... mas não havia ninguém.

- Ótimo. Agora tô ouvindo coisas também - murmurou, franzindo o cenho.

Ela se ergueu e, tentando disfarçar o que sentia até de si mesma, voltou para dentro da casa. No caminho, sua mente fervilhava, repetindo a cena da outra mulher beijando Leon. A cada passo, a indignação crescia.

- Aquela ridícula! - murmurou entre os dentes, os olhos faiscando de raiva. - Se ela se atrever a entrar aqui de novo, eu mesma a jogo pra fora pelos cabelos.

Passou pela sala, espiou de relance Leon imóvel e suspirou fundo. Seu coração parecia em guerra com a razão. Ele nem sabia que ela existia, sequer tinha acordado... e ali estava ela, sentindo ciúmes de uma desconhecida.

- Foco, Ísis. Foco! - disse em voz alta, batendo levemente nas próprias têmporas com as pontas dos dedos.

            
            

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