Uma razão para viver
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Capítulo 5 Capitulo 5

Capítulo 5

Caio tomou um gole, respirou fundo e continuou, mais sério:

- Ela tem feito coisas que nenhum terapeuta conseguiu, Leon. Está acordando algo em você... eu vejo isso. Você pode não responder com palavras, mas seu olhar mudou. Seu silêncio está diferente. Tem escuta. Tem alma.

Ele recostou-se na poltrona, deixando a xícara sobre a mesinha.

- Eu não espero que você pule dessa cadeira amanhã. Mas, se puder ouvir uma verdade... acho que você não está tão longe de voltar. E, se voltar... ela vai estar aqui com você.

O silêncio entre eles permaneceu, mas dessa vez. Mas ele veio cheio de esperanças.

Caio lançou um olhar rápido para a porta, depois voltou os olhos para Leon.

- Ela é brasileira. Você já tinha visto uma antes? - perguntou num tom leve, quase divertido. - É muito linda...

No corredor, Rosie passava devagar, indo para o quarto. Ao ouvir a voz de Caio falando de Ísis, seus passos vacilaram por um segundo. Parou atrás da porta entreaberta, o coração ficou apertado.

Seus olhos, sempre tão vivos, escureceram de tristeza. Em todo o tempo que estava cuidando de Leon, jamais ouvira Caio comentar sobre sua aparência, ou sequer notar sua presença além da formalidade. Mas em menos de 24 horas... Ísis havia sido vista e admirada.

Ela suspirou, dolorosamente e seguiu pelo corredor com passos lentos.

Caio, sem saber que fora ouvido, continuou com um sorriso:

- Você vai ficar encantado quando reparar nela, Leon. É doce, cuidadosa... diferente de tudo o que você conheceu. Mas pode ficar tranquilo - completou com um olhar carinhoso - eu tenho olhos para outra.

Ele se levantou da poltrona, esticando o corpo, e pegou o paletó pendurado na lateral do sofá.

- Vou indo, irmão. Volto mais tarde. Comporte-se, hein? - brincou, piscando - Não faça nada que eu não faria.

Deu dois tapinhas leves no braço de Leon e saiu.

Ísis entrou, quase em seguida, com os cabelos presos em um coque simples como gostava. Carregava uma tigela com água morna e uma toalha branca dobrada sobre o antebraço. Seus olhos foram direto para ele.

Leon continuava exatamente como o haviam deixado: sentado no sofá, o braço repousando ao lado e o rosto voltado para a lareira. O peito subia e descia com regularidade, mas sem nenhum sinal de que despertaria tão cedo.

Ísis se aproximou devagar. Abaixou-se ao lado dele com cuidado, apoiando a tigela na mesinha de canto. Molhou a toalha na água e a torceu levemente antes de encostá-la suavemente na testa dele.

- Está tudo bem - sussurrou, mais para si do que para ele. - Só descansa...

O silêncio da sala era profundo. Apenas o som distante do vento lá fora e o leve tilintar da água na tigela preenchiam o espaço entre ela e o homem imóvel.

Ela continuou limpando o rosto dele com cuidado. Ao terminar, ajeitou a manta sobre o corpo dele, garantindo que estivesse aquecido, e ficou alguns segundos ali, olhando para o rosto desconhecido. Havia perguntas demais nos olhos dela, mas nenhuma foi dita em voz alta.

Depois de um instante, Ísis respirou fundo, se levantou, pegou a tigela e saiu da sala em silêncio.

***

Na mansão, câmeras haviam sido instaladas estrategicamente nos corredores. Antes do almoço, Caio parou por um instante para verificar os monitores ao lado do escritório, um hábito que cultivava por segurança. Seus olhos varriam as imagens até que algo lhe chamou atenção: uma figura familiar nos corredores. Ele franziu a testa.

"Aquela mulher..."

Ela estava andando com determinação, abrindo as portas, procurando.

Caio se levantou de súbito e pegou o telefone.

- Que merda! - murmurou, enquanto aguardava a linha do segurança. - Vamos, atendam logo...

A mulher finalmente parou diante da porta da sala onde Leon descansava e entrou.

- Ai, meu Deus! Por que não atendem?! - exclamou Caio, apertando o telefone com mais força.

Nesse exato momento, Ísis surgiu correndo pelo corredor e entrou na sala.

Ela parou em choque ao ver a mulher estranha ao lado de Leon, inclinando-se sobre ele, e, antes que pudesse dizer algo, presenciou a mulher depositando um beijo nos lábios do homem inconsciente, deixando uma nítida marca de batom vermelho.

Ísis sentiu o sangue ferver.

- O que você está fazendo? Quem é você? - disse, ofegante, os olhos fixos na mulher. - Saia de perto dele!

A intrusa nem se mexeu.

Ísis olhou em volta, os olhos encontrando o ferro da lareira. Sem hesitar, agarrou o objeto com as duas mãos e o ergueu.

- Eu já falei pra sair de perto dele. - disse, num tom que oscilava entre medo e fúria. - Ou eu juro que não respondo por mim.

***

Caio ainda falava ao telefone:

- Rápido. Sala principal. Temos uma invasora. E levem alguém preparado.

***

A mulher abriu a bolsa calmamente, com um sorriso irônico nos lábios. Tirou um batom de dentro, girou a base prateada devagar, de uma forma quase provocativa e começou a passá-lo de forma precisa, deixando os lábios ainda mais vermelhos e chamativos.

- Sou namorada do Leon - disse com desprezo, olhando Ísis de cima a baixo. - Aquele idiota do Caio acha que vai conseguir nos separar. Ele que vá sonhando. Quando o Leon acordar, eu não vou precisar nem estalar os dedos. Ele vai vir até mim... como um cachorrinho. Como sempre foi.

Ísis sentiu o sangue ferver. Seus olhos, antes arregalados de surpresa, agora brilhavam de indignação. Ela respirou fundo e tentou controlar o nervosismo, mas a língua enrolou um pouco ao tentar falar em inglês.

- Look here - começou, tropeçando nas palavras. - Eu não sei quem você é. E não me importo. Para mim... você é uma invasora! E invasores... são expulsos!

Ela segurava o ferro da lareira com as duas mãos, firme, pronta para agir se necessário. O olhar era determinado, o peito arfava de raiva, e o instinto de proteger Leon falava mais alto do que qualquer receio.

- Agora... saia de perto dele. Antes que eu perca a paciência de vez.

- Não será necessário, senhorita - disse um dos seguranças ao entrar na sala, aproximando-se e segurando a mulher pelo braço.

            
            

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