A verdade era que eu havia considerado mantê-lo. Por um momento fugaz e tolo, pensei que um filho poderia ser a única coisa que poderia preencher o abismo entre nossos mundos, a única coisa que poderia fazê-lo me escolher. Mas então veio o anúncio do noivado, a dispensa brutal e as palavras venenosas de Isabela. Uma criança merecia mais do que ser uma moeda de troca em um jogo perdido. Uma criança merecia um pai que amasse sua mãe.
"Acabou, Caio", repeti, minha voz mais fria agora, blindada pela minha dor. "Você tem o seu futuro. Deixe-me com o meu."
Virei-me para sair, mas ele se moveu mais rápido. Sua mão agarrou meu braço, seus dedos cravando-se em minha carne como garras. "Você não decide quando acabamos", ele sibilou, me puxando de volta para ele. "Você acha que pode simplesmente ir embora depois do que fez? Você vai pagar por isso."
Ele me empurrou para trás, e eu tropecei, caindo no sofá macio. Antes que eu pudesse reagir, ele estava em cima de mim, seu peso me prendendo. O cheiro dele - bergamota e fúria - encheu meus sentidos, me sufocando.
Uma dor aguda e lancinante atravessou meu baixo-ventre. O aviso do médico ecoou em meus ouvidos - sem atividade extenuante, descanso, recuperação. Meu corpo, ainda sensível e se curando do procedimento, gritou em protesto.
Isso não era paixão. Não era nem mesmo luxúria. Era punição. Era um ato brutal e calculado de vingança, projetado para me machucar e humilhar. Ele estava reafirmando seu controle, me lembrando que eu era dele para quebrar.
A dor, tanto física quanto emocional, era uma agonia incandescente que me consumiu. O quarto começou a girar, as bordas da minha visão se turvando na escuridão. A última coisa que ouvi foi meu próprio soluço engasgado enquanto a consciência, misericordiosamente, se esvaía.
Quando acordei, o quarto estava vazio. O sol do final da tarde entrava pela janela, iluminando os grãos de poeira dançando no ar. No chão, espalhados como confetes cruéis, estavam os pedaços rasgados do laudo médico. Um testemunho zombeteiro da minha ingenuidade.
Arrastei meu corpo maltratado de volta para a mansão dos Moretti, a dor em meu âmago um lembrete constante e latejante de sua crueldade. Ao passar pela porta, o braço direito do meu pai, Marco, correu ao meu encontro, seu rosto sombrio.
"Analu, temos um problema."
Meu coração afundou. "O que foi?"
"A Federal", disse ele, sua voz baixa. "Eles começaram a fazer batidas em nossos negócios. Operações portuárias, armazéns, restaurantes. Estão atingindo tudo, de uma vez só."
Um pavor frio me invadiu. Isso não era uma verificação de rotina. Era um ataque coordenado. Era Caio cumprindo sua ameaça.
"Tem que ser o Mendonça", sussurrei, mais para mim mesma do que para Marco. "Ele está por trás disso."
"O momento parece... intencional", concordou Marco, seus olhos cheios de preocupação.
Nos dias que se seguiram, o império Moretti começou a desmoronar. Caio foi sistemático, implacável. Ele sufocou nossas linhas de abastecimento, congelou nossos ativos e virou nossos parceiros contra nós com ameaças e intimidação. Ele estava desmantelando o legado da minha família, peça por peça.
Deixei minha própria dor de lado, despejando cada grama de minha energia para tentar estancar a sangria. Trabalhei sem parar, cobrando favores, movendo ativos, tentando ficar um passo à frente dele. Mas era como tentar remendar um navio afundando com as próprias mãos.
Para salvar o que podia, tive que comparecer a um jantar com delegados de alto escalão, homens que estavam na folha de pagamento do meu pai há anos. O ar na sala de jantar privada era denso com fumaça de charuto e o fedor da corrupção. Eles me olhavam com cobiça, seus olhos cheios de uma fome predatória, fazendo piadas grosseiras sobre o infortúnio da minha família.
"Não se preocupe, garotinha", um delegado corpulento arrastou as palavras, batendo na minha mão com sua palma suada. "Se você jogar suas cartas direito, podemos fazer seus problemas desaparecerem."
Trinquei os dentes, forçando um sorriso. Pela minha família, eu suportaria isso. Eu engoliria meu orgulho, riria de suas piadas patéticas e beberia seu uísque barato. Levantei meu copo, o líquido âmbar queimando um caminho pela minha garganta e atingindo meu estômago como um soco. A dor no meu abdômen se intensificou, uma agonia aguda e lancinante, mas eu não vacilei. Apenas sorri e servi outra dose.
De repente, a porta da sala se abriu. Caio estava lá, sua presença sugando todo o ar do ambiente. Ele olhou para mim, seus olhos percorrendo meu rosto corado e o copo na minha mão, um brilho de algo indecifrável em suas profundezas antes de desaparecer.
Ele ignorou os cumprimentos servis dos outros homens e caminhou diretamente para mim. Ele se inclinou, sua voz um sussurro baixo destinado apenas a mim.
"Se você quer que isso pare", ele murmurou, seu hálito quente contra minha orelha, "você sabe o que tem que fazer." Ele gesticulou para os delegados, que nos observavam com olhos gananciosos. "Beba com eles. Entretenha-os. Mostre a eles um bom momento. Um copo para cada dia que eu adiar a próxima batida."
Meu sangue gelou. Ele tinha visto minha humilhação. Ele tinha observado esses abutres me circulando e, em vez de ajudar, estava usando isso. Ele estava me forçando a me degradar, a me apresentar para esses homens nojentos, tudo pela pequena chance de comprar mais alguns dias para minha família.
Olhei em seus olhos frios e impiedosos, procurando por um traço do homem que eu pensei conhecer. Não havia nada. Apenas um estranho que usava seu rosto.
Minha voz era quase um sussurro, carregada de uma dor que ia muito além do físico. "Sua palavra ainda vale alguma coisa?"
Ele se endireitou, sua expressão inflexível. "Um copo, um dia. A escolha é sua, Analu."