Promessas Quebradas, O Retorno de um Coração Vingativo
img img Promessas Quebradas, O Retorno de um Coração Vingativo img Capítulo 1
1
Capítulo 11 img
Capítulo 12 img
Capítulo 13 img
Capítulo 14 img
Capítulo 15 img
Capítulo 16 img
Capítulo 17 img
Capítulo 18 img
Capítulo 19 img
Capítulo 20 img
Capítulo 21 img
Capítulo 22 img
Capítulo 23 img
img
  /  1
img
img

Promessas Quebradas, O Retorno de um Coração Vingativo

Gavin
img img

Capítulo 1

Eu era a filha do chefe da máfia mais poderoso do Rio de Janeiro. Por seis meses, fui chantageada para ser a amante secreta e informante do queridinho da Polícia Federal, Caio Mendonça. Mas, bem quando me apaixonei por ele, ele anunciou seu noivado com a filha de um senador em rede nacional.

Ele chamou nosso relacionamento de "arranjo político" e me disse que eu era apenas uma garantia para manter meu pai na linha.

Sua nova noiva, então, me humilhou publicamente, me chamando de "lixo".

Eu sacrifiquei tudo por ele, até mesmo o filho secreto que poderíamos ter tido, apenas para ser usada e descartada como um brinquedo do qual ele se cansou. Será que eu fui algo mais do que um trabalho para ele?

A vergonha da minha desgraça pública matou minha avó. Meu pai, vendo meu mundo destruído, tirou a própria vida para me dar uma nova. Ele forjou minha morte, me deu uma nova identidade e me deixou uma fortuna. Analu Moretti estava morta, mas Anna Russo estava apenas começando sua vingança.

Capítulo 1

Ponto de Vista: Analu Moretti

A primeira vez que vi o Delegado Federal Caio Mendonça, ele estava do outro lado do salão lotado do Copacabana Palace, um copo de uísque na mão, parecendo o dono do lugar. Ele provavelmente era. O baile de gala anual da PF era o seu reino, e todos ali eram seus súditos.

Ele era o convidado de honra, representando a Polícia Federal.

Eu não deveria estar ali. Minha presença era um insulto a tudo que aquela noite representava. Eu era Analu Moretti, filha do chefe da máfia mais poderoso do Rio. Para aquelas pessoas, eu não era uma convidada; eu era a inimiga, vestida em alta-costura.

Caio era tudo que eu não era. Ele era a lei; eu era o crime. O nome de sua família estava gravado na história da polícia federal, um legado de honra e dever. O nome da minha família era sussurrado em becos escuros e falado em voz baixa nos tribunais, um legado de medo e sangue. Éramos dois lados da mesma moeda manchada, eternamente opostos.

E, no entanto, todos os olhos naquele salão estavam nele. Eles o observavam com uma mistura de admiração e respeito, suas conversas diminuindo para um murmúrio sempre que ele passava. Ele tinha a reputação de ser implacável, ambicioso e brutalmente eficaz. Diziam que ele era o futuro da PF. Uma estrela em ascensão.

Nossos olhos se encontraram por um segundo fugaz do outro lado do salão. Os dele eram de um azul surpreendente, penetrante, frios e analíticos. Eles passaram por mim sem um pingo de reconhecimento, como se eu fosse apenas mais uma peça da decoração suntuosa.

Mas eu sabia que não era verdade.

Mais tarde, enquanto a orquestra tocava uma melodia suave e os casais dançavam na pista, ele passou por mim. O cheiro de seu perfume, uma mistura nítida e limpa de bergamota e algo mais escuro, como cedro, me envolveu. Por um momento, esqueci de respirar.

Quando ele passou, meu olhar caiu sobre o punho branco e impecável de sua camisa. Logo abaixo do tecido caro, espiando por baixo da manga, estava o traço fraco e escuro de uma tatuagem. Era um padrão familiar, um pequeno e intrincado desenho de espinhos entrelaçados.

Um desenho que eu conhecia intimamente, porque minha própria tatuagem correspondente estava escondida sob a seda do meu vestido, uma marca secreta logo acima do meu quadril.

Eu o vi ajustar sutilmente o punho, seus movimentos suaves e treinados, escondendo a marca da vista. Foi um gesto rápido, quase imperceptível, mas que me causou um arrepio na espinha. O segredo que compartilhávamos era um fogo perigoso, que poderia queimar nossos dois mundos até o chão.

Horas depois, o baile era uma memória distante. A formalidade sufocante foi substituída pelo silêncio de sua cobertura na Zona Sul, com as luzes da cidade brilhando como diamantes espalhados lá embaixo. O ar aqui era diferente, carregado de uma tensão que era ao mesmo tempo aterrorizante e inebriante.

Ele estava parado junto à janela do chão ao teto, de costas para mim, a cidade projetando longas sombras pelo cômodo. Ele havia afrouxado a gravata e o primeiro botão da camisa estava desabotoado.

"Você estava me encarando", ele disse, sua voz baixa e rouca, cortando o silêncio.

Eu não neguei. "Você também."

Ele se virou então, e a máscara fria do agente da PF havia desaparecido. Em seu lugar estava o homem que eu conhecia nas horas roubadas da noite, o homem cujo toque era tanto um castigo quanto uma prece.

"É um risco, Analu", ele murmurou, cruzando o espaço entre nós em três longas passadas. Suas mãos encontraram minha cintura, me puxando para junto dele. "Você sabe disso."

Eu sabia. Ah, eu sabia. A filha de um chefão da máfia e o queridinho da PF. Não era apenas um risco; era um pacto suicida. Se alguém descobrisse, minha família seria destruída. Sua carreira, seu legado, seriam aniquilados. Estávamos brincando com fogo em um quarto cheio de gasolina.

No momento em que seus lábios encontraram os meus, um zumbido agudo vibrou de seu celular na mesa de centro. O som quebrou o momento, nos puxando de volta para a realidade brutal de nossas vidas.

Ele se afastou, um brilho de fúria em seus olhos, e pegou o telefone. A tela lançou uma luz azul pálida em seu rosto, iluminando as linhas duras de sua mandíbula.

Então eu vi. A manchete que piscou na tela.

Caio Mendonça, da PF, Anuncia Noivado com Isabela Almeida, Filha do Senador Almeida.

O ar sumiu dos meus pulmões. O mundo girou. Meu coração, que batia descontrolado contra minhas costelas momentos antes, parecia ter parado. Gelou.

"Caio?" Minha voz era um sussurro engasgado.

Ele não olhou para mim. Seus olhos ainda estavam fixos na tela, sua expressão indecifrável.

Eu me afastei dele, o calor de seu corpo agora parecendo uma queimadura. "O que é isso? Um noivado?"

Ele finalmente olhou para cima, seus olhos azuis tão frios e distantes quanto estavam no baile. "É um arranjo político. É bom para a minha carreira."

As palavras foram como tapas no meu rosto. Cada uma mais fria e mais dura que a anterior. "E o que eu sou?", perguntei, minha voz tremendo com uma dor tão profunda que parecia uma ferida física. "O que eu fui para você nos últimos seis meses?"

Ele não respondeu. Apenas me observou, seu rosto uma tela em branco.

"Eu sou apenas... uma garantia? Uma maneira de manter meu pai na linha?"

O silêncio que se seguiu foi minha resposta. Ele se estendeu entre nós, denso e sufocante, cheio de todas as verdades não ditas de nosso relacionamento.

Lembrei-me do dia em que tudo começou. Ele apareceu no escritório do meu pai com um arquivo grosso o suficiente para prender toda a minha família para o resto da vida. Mas ele não queria meu pai. Ele me queria. Ele usou aquela evidência, aquela vantagem, para me chantagear a entrar nisso... nesse caso. Ele me fez sua informante, seu segredo, seu brinquedo.

E a parte mais patética? Eu me apaixonei por ele. Em algum lugar entre os encontros clandestinos e os segredos sussurrados, a coação se transformou em outra coisa. Eu me permiti acreditar que a ternura em seu toque, o olhar em seus olhos no meio da noite, era real. Eu confundi dependência com desejo, posse com amor.

"Eu pensei...", comecei, minha voz falhando. Tentei dizer a ele que o amava, que tolamente acreditei que ele poderia sentir algo por mim também. Mas as palavras ficaram presas na minha garganta, estranguladas pela traição crua.

Ele me interrompeu antes que eu pudesse dizê-las. "Acabou, Analu."

Ele caminhou até sua pasta, seus movimentos precisos e distantes. Ele tirou uma pilha de papéis e uma caneta, colocando-os na mesa à minha frente.

"O que é isso?", perguntei, minha voz quase inaudível.

"Um acordo de confidencialidade", disse ele, seu tom plano, desprovido de qualquer emoção. "Ele descreve os termos do fim do nosso... arranjo. Assine, e eu esquecerei que as provas contra seu pai existem."

Meus olhos percorreram o documento. Era um contrato frio e legal que cortava todos os laços entre nós, apagando os últimos seis meses como se nunca tivessem acontecido. Era um documento que reduzia tudo o que eu sentia, tudo o que eu havia sacrificado, a uma transação comercial.

Minhas mãos tremiam tanto que mal conseguia segurar a caneta. As lágrimas embaçaram minha visão, mas eu as forcei a voltar. Eu não lhe daria a satisfação de me ver quebrar. Não completamente.

Com um suspiro final e devastador, rabisquei meu nome na linha.

Ele pegou os papéis da minha mão trêmula, seus dedos roçando nos meus por uma fração de segundo. O breve contato foi como um choque elétrico, um lembrete doloroso do que eu estava perdendo.

Ele não disse mais uma palavra. Apenas se virou e saiu do apartamento, me deixando sozinha no quarto silencioso e vazio.

Fiquei ali por um longo tempo, encarando a porta fechada. Então, meus joelhos cederam e eu caí no chão. Peguei a caneta que ele havia deixado para trás e olhei para a cópia do acordo na mesa. Com um soluço estrangulado, peguei os papéis e comecei a rasgá-los em pedaços minúsculos e inúteis, as bordas afiadas cortando minhas palmas.

O caminho de volta para a mansão dos Moretti foi um borrão. Os portões familiares e os gramados extensos não ofereceram conforto. Entrei em casa, esperando evitar minha família, mas minha avó estava me esperando no grande hall de entrada, uma expressão preocupada no rosto.

"Analu, querida, você está pálida. Está tudo bem?"

Forcei um sorriso, os músculos do meu rosto parecendo rígidos e estranhos. "Só estou cansada, vovó. Foi uma noite longa."

Ela estendeu a mão e colocou uma mecha de cabelo solta atrás da minha orelha, seu toque gentil e quente. "Você tem trabalhado demais. Aquele homem... ele não é bom para você."

Eu congelei. Ela sabia? Como ela poderia saber?

"Que homem, vovó?"

"O Mendonça", disse ela, sua voz carregada de uma desaprovação que ela raramente mostrava. "Eu vejo como você fica quando o nome dele aparece no noticiário. Eu sou velha, Analu, não cega."

Eu não sabia o que dizer. A mentira que eu queria contar morreu em meus lábios. Eu apenas assenti, incapaz de encontrar seu olhar preocupado. O que eu era, realmente? Sua amante? Sua informante? Um peão em um jogo que eu nunca quis jogar?

Naquela noite, o sono foi um estranho. Fiquei acordada, encarando o teto, a imagem do rosto frio e indiferente de Caio gravada em minha mente. A dor era uma coisa viva dentro de mim, um peso frio e pesado no meu peito.

No dia seguinte, tive que comparecer a um almoço de caridade que minha família patrocinava. Era uma obrigação da qual eu não podia escapar. Ao entrar no salão lotado, meu coração parou.

Lá estava ele. Caio Mendonça. E ele não estava sozinho.

Em seu braço estava uma mulher linda, de cabelos loiros e um sorriso que parecia ao mesmo tempo doce e presunçoso. Ela usava um vestido branco impecável que gritava dinheiro antigo e privilégio. Isabela Almeida. Sua noiva.

Eles se moviam pelo salão como a realeza, um casal perfeito de um mundo perfeito. Um mundo ao qual eu nunca poderia pertencer.

Os olhos de Isabela me encontraram do outro lado do salão. Ela sussurrou algo no ouvido de Caio, e ele se virou para me olhar. Por um momento, nossos olhares se cruzaram, e eu vi um brilho de algo em seus olhos - arrependimento? culpa? - antes que desaparecesse, substituído por aquela indiferença familiar e arrepiante.

Isabela o guiou em minha direção, seu sorriso se alargando. "Analu Moretti, certo?", disse ela, sua voz pingando uma doçura condescendente. "Meu pai já mencionou sua família." O insulto não dito pairava no ar entre nós: família do crime.

Forcei minha voz a ser firme. "Isabela Almeida. Um prazer."

"Caio me contou tanto sobre você", ela continuou, apertando o braço dele. "Ele disse que você foi... muito prestativa com alguns de seus casos."

A palavra "prestativa" estava carregada de veneno. Era uma provocação clara e calculada, destinada a me lembrar do meu lugar. Eu era a informante. A ferramenta.

Olhei para Caio, esperando que ele dissesse algo, que me defendesse, que mostrasse sequer um pingo da conexão que um dia compartilhamos.

Ele apenas ficou ali, seu rosto uma máscara de indiferença educada. "Isabela, devemos ir. Seu pai está esperando." Ele se virou para mim, sua voz formal e desdenhosa. "Senhorita Moretti."

Foi o último prego no caixão do meu coração tolo. Ele não apenas me descartou, mas estava permitindo que sua noiva me humilhasse em público.

Eu os observei se afastarem, a risada triunfante de Isabela ecoando em meus ouvidos. Quando eles passaram por uma coluna, ouvi-o murmurar algo para ela, sua voz baixa demais para eu entender as palavras. Mas eu vi a resposta dela. Ela olhou para trás por cima do ombro, um olhar de puro e absoluto desprezo em seu rosto, e disse: "Não se preocupe, querido. O lixo está se retirando sozinho."

Minha compostura finalmente se quebrou. Eu me virei e fugi, abrindo caminho pela multidão, ignorando os olhares curiosos. Não parei até estar do lado de fora, o ar frio da tarde batendo em meu rosto.

E então, a chuva começou a cair. Gotas gordas e frias que se misturavam com as lágrimas quentes que escorriam por minhas bochechas. Fiquei ali na tempestade, completamente sozinha, enquanto o mundo que eu havia construído em torno de uma mentira desmoronava em ruínas.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022