"Tão bem quanto posso estar", respondi, uma dor oca substituindo a raiva, por enquanto. "Está feito."
"Não, Alice", disse Helena, seu olhar firme. "Isto é apenas o começo."
Enquanto o elevador descia, meu celular vibrou. Uma mensagem do número anônimo. "Você deixou seu medalhão. Eles estão se fazendo de vítimas. Não caia nessa."
Olhei para a tela, um arrepio percorrendo minha espinha. Alguém estava observando. Alguém estava me ajudando. Mas quem?
O elevador soou, abrindo-se para o saguão movimentado. Antes que eu pudesse processar a mensagem, uma comoção repentina irrompeu perto da recepção. Um grito agudo. Era Karla.
"Ela me atacou! Ela me empurrou!" Karla estava no chão, segurando o braço, seu cabelo cuidadosamente penteado agora artisticamente desgrenhado. Davi estava ajoelhado ao lado dela, seu rosto uma mistura de medo e preocupação. Ao redor deles, uma multidão de funcionários boquiabertos e alguns jornalistas curiosos que devem ter sabido da comoção anterior.
"Alice!", gritou Davi, seus olhos ardendo de acusação. "O que você fez agora?"
Senti uma onda de fúria fria. Esta era a especialidade de Karla. O ato de vítima. A farsa inocente.
"Eu não a toquei", afirmei, minha voz calma, mesmo com meu sangue gelando.
"Ela tocou, Davi! Ela se jogou em mim!", lamentou Karla, apontando um dedo trêmulo para mim. "Ela está descontrolada! Ela está com ciúmes porque estamos felizes!"
Davi olhou para mim, seus olhos cheios de uma desconfiança familiar. "Alice, você precisa sair. Você está causando uma cena."
"Uma cena?", zombei. "Ela está orquestrando uma cena, Davi. Assim como ela orquestrou meu acidente de carro."
Minhas palavras o atingiram como um golpe físico. Ele recuou, seus olhos se arregalando. Karla, no entanto, era uma mestra em desviar o assunto. Ela se levantou, tropeçando dramaticamente, e depois pegou algo em sua bolsa.
"E ela tentou roubar meu anel!", gritou Karla, tirando o anel de diamante cintilante que Davi lhe dera. Ela o estendeu em minha direção. "Ela tentou arrancá-lo do meu dedo!"
A multidão ofegou. Os jornalistas começaram a tirar fotos. Esta era a história deles. A ex-namorada louca.
"Esse anel me pertence!", chorou Karla, sua voz cheia de lágrimas teatrais. "É um símbolo do amor de Davi, e ela o odeia!"
Davi olhou do anel para mim, depois de volta para Karla. Sua expressão endureceu. "Alice, isso é verdade?"
"Claro que não!", retruquei, minha paciência se esgotando. "Ela está mentindo! Ela está sempre mentindo!"
Nesse momento, Karla, com um movimento súbito e poderoso, agarrou minha mão. Seus dedos, surpreendentemente fortes, se fecharam em meu pulso. Minha bolsa escorregou do meu alcance, caindo no chão de mármore polido com um baque. Seu conteúdo se espalhou – minha carteira, minhas chaves, um pequeno sapatinho de bebê de tricô. Aquele que eu havia comprado, cheia de esperança, antes do aborto.
Meu olhar se fixou no sapatinho, um pedacinho de tecido azul macio, agora jogado de forma gritante no chão frio. Uma nova onda de dor, aguda e potente, me invadiu.
O olhar de Davi também caiu sobre o sapatinho. Seus olhos se arregalaram ligeiramente. Um lampejo de algo – reconhecimento? arrependimento? – cruzou seu rosto, rapidamente substituído por uma defensiva familiar.
Karla, vendo o sapatinho, soltou uma risada triunfante e cruel. "Oh, olhe! A pobre e patética Alice ainda se apegando ao seu bebê de fantasia! Que triste!" Ela então olhou para o anel ainda em sua mão. Com um movimento rápido e praticado, ela pegou o medalhão dos Medeiros de onde havia caído perto da minha bolsa e o jogou com desprezo no chão. Então, com um estalo doentio, ela pisou no sapatinho de bebê, esmagando-o sob o calcanhar.
Minha respiração ficou presa na garganta. O pequeno tecido azul, antes um símbolo de esperança, agora estava esmagado e sujo. Meu bebê. Meu bebê perdido. Ela havia profanado sua memória.
"Sua vadia!", as palavras rasgaram minha garganta, cruas e angustiadas. "Sua monstra absoluta!"
"Alice!", rugiu Davi, seu rosto contorcido de raiva. Ele avançou, não para me ajudar, mas para me empurrar violentamente. Ele me empurrou com força. Tropecei para trás, minha cabeça batendo no chão de mármore frio com um estalo doentio. A dor explodiu atrás dos meus olhos.
"Não ouse tocar na minha noiva!", cuspiu Davi, virando-se de costas para mim. Ele pegou o anel de Karla, depois o sapatinho esmagado. Seus olhos piscaram para o sapatinho, depois para Karla. Um momento fugaz de hesitação. Então, com um desdém dirigido a mim, ele deliberadamente esmagou o pequeno sapatinho sob o calcanhar novamente, torcendo-o no mármore. Ele ergueu o medalhão, o emblema da família Medeiros brilhando. Ele o segurou por um momento, depois, com uma lentidão deliberada e agonizante, ele desceu o calcanhar sobre ele, esmagando a prata delicada.
O som, um estalo metálico e agudo, foi ensurdecedor. Foi o som da minha última gota de esperança morrendo. O legado da minha família, meu filho perdido, meu passado, tudo esmagado sob o calcanhar dele.
"Você destruiu tudo", sussurrei, as palavras mal audíveis, minha voz rouca de lágrimas não derramadas. Minha cabeça latejava. O mundo girava.
"Você destruiu, Alice", rosnou Davi, seus olhos ardendo com uma fúria justiceira. "Você não consegue aceitar que eu segui em frente. Você não consegue aceitar que Karla é meu futuro. Você é patética."
"Patética?", tentei me levantar, mas meu corpo parecia pesado, quebrado. "Eu te amei! Eu te dei oito anos da minha vida! E você estilhaça meu coração, meu futuro, meu filho, e depois me chama de patética?"
"Você está obcecada, Alice", interveio Karla, sua voz pingando falsa simpatia. Ela se encostou em Davi, fazendo o papel de vítima frágil. "Você precisa de ajuda."
A multidão murmurou, seu julgamento palpável. Olhei para seus rostos, vendo apenas desdém. A ex descartada. A mulher amarga.
"Há câmeras, Davi!", gritei, minha voz crua. "Verifique as imagens de segurança! Vai mostrar tudo! Vai mostrar que ela me atacou, que ela plantou aquele anel, que ela esmagou o sapatinho do meu bebê!"
Davi hesitou, olhando para as câmeras de segurança montadas no saguão. Os olhos de Karla se moveram nervosamente.
"Não precisa, querido", ronronou Karla, apertando o braço de Davi. "Ela só está tentando causar problemas. Você sabe como ela fica."
Davi, sempre o protetor de sua narrativa cuidadosamente construída, assentiu. "Alice, não sei que tipo de jogo você está jogando, mas acaba agora. Você precisa aceitar que terminamos. Karla é minha noiva. E você precisa seguir em frente." Ele olhou para mim, ainda estendida no chão. "Vá para casa, Alice. Vá para casa e pense no que você fez."
Ele se abaixou, não para me ajudar, mas para pegar minha mão. Seus dedos, ásperos e frios, se fecharam em volta do meu dedo anelar esquerdo. Com um movimento brusco e repentino, ele arrancou a simples aliança de prata que ele me dera anos atrás, aquela que eu ainda usava por hábito. Era um ajuste perfeito, um símbolo de nosso relacionamento longo e confortável. Ele a ergueu, depois, com um movimento desdenhoso do pulso, ele a jogou em uma lixeira próxima.
Meu dedo, agora nu, parecia frio, vazio.
Então, com uma ternura quase doentia, ele pegou a mão de Karla, colocou o anel de diamante cintilante em seu dedo e beijou sua mão. "Este é o meu futuro", ele anunciou para a multidão boquiaberta, sua voz ressoando com falsa confiança. "Karla Magalhães. Minha noiva. A verdadeira herdeira do meu coração."
A multidão explodiu em aplausos. Jornalistas se apressaram para capturar o momento. Karla sorriu, seus olhos se voltando para os meus, um brilho triunfante e venenoso neles.
Davi se virou para mim, seus olhos desprovidos de qualquer calor, qualquer piedade. "Agora, Alice. Vá. E nunca mais volte."
Lentamente, me levantei, meu corpo gritando em protesto. Minha cabeça latejava. Mas a dor, física e emocional, estava rapidamente se endurecendo em uma determinação inflexível. Olhei para Davi, vendo-o verdadeiramente pelo que ele era: uma casca vazia, um traidor, um tolo. Ele era um estranho.
Caminhei até a lixeira onde ele havia descartado minha simples aliança de prata. Com um movimento final e deliberado, enfiei a mão, não para pegar meu anel, mas para pegar o medalhão dos Medeiros, estilhaçado e torcido. Eu o ergui, os pedaços quebrados brilhando. Então, com toda a força que pude reunir, joguei-o na lixeira, deixando-o tilintar entre o lixo.
"Adeus, Davi", eu disse, minha voz fria e seca, desprovida de toda emoção. "Aproveite seu lixo."
Virei as costas para ele. Para Karla. Para a multidão que aplaudia. Para os restos estilhaçados do meu passado. Enquanto caminhava em direção à saída, ouvi a risadinha triunfante de Karla. "Já vai tarde!"
"Meu amor", disse Helena, seu braço deslizando gentilmente em volta da minha cintura enquanto saíamos do prédio. Ela me levou em direção a outro carro preto que esperava, um diferente desta vez. Um mais luxuoso. "Vamos para casa. Há tanto a planejar."
Olhei para trás uma última vez. Davi ainda estava lá, abraçando Karla, uma expressão perplexa em seu rosto. Karla estava sorrindo, se deliciando com sua vitória. Eles não tinham ideia. Nenhuma ideia do que estava por vir. Senti um arrepio, mas não era medo. Era a antecipação gelada de uma tempestade prestes a explodir.