Ele olhou para ela, sua expressão suavizando instantaneamente. Ele acariciou o cabelo dela, depois me lançou um último olhar frio, seu rosto endurecendo naquela familiar máscara de indiferença. Ele se virou e começou a levar Diana embora, o braço dela protetoramente em volta do dele.
Observei-os ir, um fantasma de sorriso brincando em meus lábios. Eles eram perfeitos um para o outro, duas serpentes entrelaçadas em sua própria dança tóxica. Balancei a cabeça, um gesto desdenhoso que carregava mais peso do que qualquer palavra raivosa. Meu coração, antes uma coisa machucada e sangrando, agora parecia estranhamente leve. Dez anos. Dez anos da minha vida. Se foram. Mas eu estava finalmente livre.
Naquela tarde, voltei à cobertura pela última vez. O lugar parecia enorme, ecoando com uma década de silêncio, de desejos não ditos, de uma vida que eu erroneamente acreditava ser minha. Entrei no meu quarto, aquele que sempre pareceu temporário, e comecei a fazer as malas.
Ao examinar o quarto, uma dura constatação me atingiu. Não havia muito de meu aqui. As roupas no armário eram em sua maioria práticas, escolhidas por Diana. Os livros nas prateleiras eram best-sellers genéricos, não os clássicos com orelhas que eu amava. Meus pertences pessoais se resumiam a uma única mala pequena. Todo o resto era de Arthur, ou comprado por Diana para meu "conforto". Era um testemunho arrepiante de quão pouco de mim mesma eu realmente tive permissão para ser nesta gaiola dourada.
Remexi na gaveta da minha mesa de cabeceira, procurando por uma pequena caixa de joias de madeira. Lá dentro, em meio a algumas bugigangas, eu a encontrei. Um anel de prata simples, gravado com as iniciais do meu pai. Era dele. Meu pai, que se foi cedo demais, o usava todos os dias. Depois que ele faleceu, eu o guardei, uma lembrança preciosa.
Uma nova onda de lágrimas ardeu em meus olhos. Este anel, este símbolo de amor incondicional e família, era a última coisa preciosa que me restava dele. Lembrei-me do dia, no início do meu relacionamento com Arthur, em que o presenteei nervosamente.
"Era do meu pai", expliquei, minha voz suave. "Significa o mundo para mim. Quero que você fique com ele. Como uma promessa. De que sempre estaremos juntos."
Ele o pegou, um sorriso fugaz nos lábios. "Claro, querida. Vou guardá-lo em segurança." Ele nunca o usou. Nenhuma vez. Eu disse a mim mesma que ele era apenas esquecido, ou que não era seu estilo. Ele nunca fora sentimental assim.
Mas isso era uma mentira. Eu sabia, no fundo. Ele simplesmente não se importava o suficiente.
Agarrei o anel, o metal frio um contraste agudo com o calor das minhas lágrimas. Um pensamento súbito me ocorreu. Onde ele o colocou? Eu o procurei antes, lembrando vagamente de tê-lo dado a ele. Pensei que simplesmente o havia perdido.
Comecei a vasculhar o lado de Arthur no armário, um lugar que eu raramente frequentava. Tirei um paletó, depois outro. Nada. Meu olhar caiu sobre a pequena e discreta lixeira no canto de seu closet. Geralmente estava vazia, uma mera peça decorativa, já que a governanta a esvaziava diariamente. Mas hoje, um lenço de papel amassado aparecia de dentro.
Meus dedos, quase dormentes, alcançaram e puxaram o lenço. E outra coisa. Um pequeno brilho prateado.
Era o anel. O anel do meu pai. Descartado. Jogado fora como lixo.
O mundo girou. Meu estômago revirou. Todos aqueles anos, todas aquelas perguntas não ditas, as dúvidas silenciosas - elas se uniram em uma verdade brutal e inegável. Ele não apenas o esqueceu. Ele não apenas o perdeu. Ele o jogou fora. Porque não significava nada para ele.
As lágrimas que estavam picando meus olhos agora escorriam pelo meu rosto, quentes e implacáveis. Mas não eram lágrimas de dor. Eram lágrimas de raiva, de fúria incandescente. Meu amor, minha confiança, minhas esperanças mais profundas - ele tratou tudo como lixo.
Embalei os poucos itens restantes, minhas mãos se movendo com uma eficiência fria. O anel, o anel do meu pai, coloquei cuidadosamente no meu bolso. Não deixaria que ele o profanasse ainda mais. Fechei minha pequena mala, o som final, definitivo.
Enquanto descia a grande escadaria pela última vez, meus passos ecoando na casa silenciosa, a porta da frente se abriu de repente. Arthur estava lá, seu rosto ainda marcado pela raiva, seus olhos escuros. Ele devia ter acabado de voltar de levar Diana ao médico. Ele olhou para minha mala, depois para mim.
"Indo embora de novo, Alina?", ele zombou, sua voz pingando desprezo. "Você realmente é uma rainha do drama, não é? Tentando chamar minha atenção com mais uma de suas pequenas fugas?"
Parei no pé da escada, meu olhar nivelado com o dele. Uma risada amarga e sem humor me escapou. "Atenção? Arthur, minha mãe acabou de morrer. Minha vida está em ruínas. E tudo com que você se importa é com sua preciosa Diana e seu ego frágil."
Seus olhos se arregalaram ligeiramente, um lampejo de surpresa - ou talvez, compreensão tardia - cruzando seu rosto. Mas foi rapidamente substituído por sua arrogância usual. "Sua mãe? Do que você está falando? E o que isso tem a ver com você fazendo birra e agredindo minha funcionária?"
"Você realmente não tem ideia, não é?", sussurrei, balançando a cabeça. A ignorância pura e absoluta, o distanciamento arrepiante, era quase cômico. "Não importa mais, Arthur. Nada disso importa."
Respirei fundo, o ar queimando meus pulmões. "Acabou, Arthur. Para sempre. Estou terminando com você. Estou indo embora."
Naquele momento, um carro preto elegante parou na calçada. Minha carona para o aeroporto. Sincronia perfeita.
O rosto de Arthur se contorceu em um rosnado. "Você acha que pode simplesmente ir embora de mim? De tudo que eu te dei?" Ele deu um passo à frente, sua mão me alcançando.
Recuei, dando um passo para trás. "Não me toque." Minha voz era monótona, desprovida de emoção. "Você não me deu nada além de uma ilusão, Arthur. Uma gaiola dourada e uma década de humilhação." Abri a porta do carro que esperava.
"Alina!" Sua voz era aguda, cortando o ar da noite. "Se você sair por essa porta, não há volta! Você me ouve? Você vai se arrepender disso! Você vai implorar para voltar, e eu não vou te aceitar!"
Virei-me, minha mão na porta do carro, um sorriso frio e duro no rosto. "Ótimo. Porque eu nunca vou olhar para trás, Arthur. Nenhuma vez. Você é um capítulo que estou feliz em fechar."
Entrei no carro, fechando a porta com um clique decisivo. O motorista partiu suavemente, deixando Arthur Monteiro parado sozinho no crepúsculo, seu rosto uma máscara de raiva frustrada. Enquanto o carro se afastava, olhei pela janela para o horizonte que se distanciava, para a cobertura que um dia fora minha prisão aspiracional. Meus sonhos aqui foram despedaçados, sim. Mas olhando para trás agora, percebi que nunca foram meus sonhos, para começo de conversa. Eram os dele, impostos a mim. E finalmente, de verdade, eles se foram.