A Traição do Amor, a Ironia do Destino
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A Traição do Amor, a Ironia do Destino

Gavin
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Capítulo 1

Abri mão da minha bolsa de estudos em Belas Artes para bancar a faculdade de Direito do meu namorado, Arthur. Tive três empregos e até levei uma facada por ele, acreditando na sua promessa de que construiríamos um império juntos.

Mas no dia em que ele se tornou um advogado-estrela, eu o encontrei beijando sua cliente, Cassandra, na neve.

O choque devastador me fez sofrer um aborto espontâneo. Quando tentei tirar a própria vida, ele trouxe a amante até a minha cama de hospital para me chamar de louca.

Depois, ele usou minha família para me chantagear, me forçando a interpretar o papel de esposa perfeita enquanto exibia seu caso com a amante para todo mundo ver.

Por anos, fui seu troféu quebrado, um testamento de seu poder. Ele tinha a carreira que eu financiei, a mulher que escolheu e controle total sobre a minha vida.

Mas na noite em que sua amante me segurou com uma faca no pescoço no terraço de um arranha-céu, ela não me matou.

Ela se virou e cravou a faca no peito de Arthur.

E como sua esposa legal, eu herdei tudo.

Capítulo 1

Eliana Ponto de Vista:

O tilintar dos talheres ecoava no restaurante chique, uma sinfonia familiar pela qual eu agora navegava com uma facilidade ensaiada. Meu trabalho como organizadora de eventos significava que eu estava sempre no meio da agitação, orquestrando a elegância a partir do caos. Naquela noite, a gala de caridade anual foi um sucesso. Tanto que mal notei o perfil familiar em uma mesa de canto. Não até minha assistente apontá-lo.

"Aquele não é o Arthur Montenegro, o advogado famoso?", ela sussurrou, com os olhos arregalados de admiração. "E quem é aquela mulher linda com ele?"

Segui o olhar dela. Arthur. E Cassandra. Sete anos. Fazia sete anos que eu me casei com ele, e quatro desde a última vez que realmente olhei para ele. Ele estava rindo, um som rico e confiante que tinha gosto de cinzas na minha memória. Cassandra, inclinada para ele, parecia frágil e adorada. A imagem perfeita de um casal poderoso.

Eu apenas assenti. "É ele."

Minha voz era monótona, desprovida de qualquer emoção discernível. Voltei-me para a mesa de sobremesas, instruindo o chef sobre a disposição das mini tortas. Não havia dor, nem choque. Apenas um reconhecimento silencioso e maçante de um passado que um dia me consumiu.

Mais tarde, enquanto os últimos convidados saíam e eu supervisionava a limpeza final, senti uma presença familiar atrás de mim. Eu não precisei me virar. O ar mudou, ficou mais pesado, mais frio.

"Eliana."

A voz dele. Estava mais grave agora, mais ressonante de autoridade, mas ainda com o mesmo tom de charme calculado. Continuei de costas para ele, contando as taças de champanhe restantes.

"Arthur", respondi, minha voz o mais neutra que consegui.

"Indo para casa?", ele perguntou, uma pergunta que soou mais como uma afirmação.

Finalmente me virei, encontrando seus olhos. Eram tão intensos como sempre, mas algo cintilou ali que eu não consegui decifrar. Curiosidade? Arrependimento? Eu não me importava em analisar.

"Eventualmente", eu disse, e então gesticulei para o salão de banquetes meio desmontado. "Ainda tenho trabalho."

Ele se aproximou. "Eu espero."

Meu maxilar se contraiu, quase imperceptivelmente. "Você não precisa."

"Eu quero", ele insistiu, seu olhar inabalável.

Terminei minhas tarefas com uma eficiência silenciosa que parecia quase performática sob seu olhar atento. Cada movimento era preciso, cada instrução clara. Quando o último caminhão de fornecedor partiu, deixando o grande salão de festas vazio e ecoando, passei por ele sem uma palavra em direção à saída.

Ele me seguiu.

Lá fora, a noite de São Paulo estava fria e úmida. Um carro preto elegante estava parado no meio-fio. Ele abriu a porta do passageiro para mim. Eu parei, depois dei a volta para a parte de trás. Memória muscular, um hábito de anos atrás, quando minha presença era um adereço, não uma parceira. Deslizei para o banco de trás.

O silêncio no carro era denso, pontuado apenas pelo zumbido do motor e pelo tamborilar suave da chuva que começava a cair no teto. Ele ligou o carro, mas dirigiu apenas alguns quarteirões antes de parar no acostamento.

"Aquele jantar", ele começou, seus olhos fixos no espelho retrovisor, encontrando os meus. "Era uma reunião com um cliente. Um possível acordo de fusão. Cassandra estava lá apenas... para dar apoio."

Eu o encarei de volta, minha expressão em branco. Suas palavras não significavam nada para mim. Eram apenas sons no espaço confinado do carro.

"Não importa, Arthur", eu disse, minha voz monótona.

Ele se encolheu, um aperto sutil ao redor dos olhos. Ele provavelmente esperava uma reação, um lampejo de dor, um pingo de ciúme. Não havia mais nada para lhe dar.

Meu olhar se desviou para o banco do passageiro à minha frente. Um lenço de seda delicado, da cor de uma ameixa machucada, estava jogado sobre o encosto de cabeça. Cheirava vagamente a perfume caro e a outra coisa... uma doçura que não era minha. Feridas antigas, que agora mal ardiam, mas eram um lembrete.

Ele notou meu foco no lenço. Seus olhos correram para ele, depois de volta para mim através do espelho, uma pergunta em suas profundezas. Ele parecia confuso com a minha falta de reação. Minha quietude.

"Como estão seus pais?", ele perguntou, mudando abruptamente de assunto. "Eu estava pensando em visitá-los neste fim de semana."

Um pavor súbito e frio se enrolou no meu estômago. Meus pais. Meu irmão. Meu santuário.

"Eles estão bem", eu disse, minha voz mais afiada do que antes. "Mas eles não têm passado muito bem ultimamente. Melhor não incomodá-los."

Ele captou a ordem não dita no meu tom. Seu rosto se fechou, uma sombra passando por suas feições. Ele suspirou, um som profundo e cansado que ecoava a noite úmida lá fora. Então, ele engatou a marcha novamente.

A chuva se intensificou, escorrendo pelas janelas, espelhando as emoções turbulentas que eu me recusava a reconhecer. Antigamente, sua presença teria me despedaçado. Agora, era apenas um incômodo. Um eco distante de uma tempestade que já havia passado.

Dirigimos em silêncio pelo que pareceu uma eternidade. As luzes familiares da cidade se transformaram em rastros de cor. Meu bairro, depois minha rua. O carro dele parou no meio-fio. Minha mão já estava na maçaneta da porta quando percebi onde estávamos.

Meu antigo prédio. O que ele e eu havíamos compartilhado.

Minha mão congelou. Olhei para ele, uma pergunta silenciosa em meus olhos. Ele evitou meu olhar, o maxilar tenso.

"Eu... eu só queria ver se estava tudo bem", ele murmurou, um raro tremor em sua voz. "Já faz um tempo."

Eu não disse nada, minha mente a mil. Por que aqui? O que ele queria? Uma parte de mim, a velha e ingênua Eliana, queria acreditar que isso era um gesto de reconciliação. Mas a nova Eliana, forjada no fogo, sabia que não era.

Ele me guiou até a porta do nosso antigo apartamento. Ele pressionou o polegar contra o leitor biométrico, um fantasma de sorriso brincando em seus lábios, como se esperasse que a porta se abrisse magicamente. Não abriu. A pequena luz no leitor permaneceu teimosamente vermelha. Seu sorriso vacilou.

Ele tentou de novo, e de novo, com frustração crescente. A porta permaneceu fechada.

"Deve ser uma queda de energia", ele resmungou, procurando o celular. Ele digitou algo, depois o pressionou de volta no leitor. Desta vez, a fechadura estalou com um som rangente.

A porta se abriu para dentro, revelando uma escuridão cavernosa. O ar que saiu era pesado, denso com o cheiro de mofo e ferrugem. Ele entrou, procurando o interruptor de luz. Sua mão encontrou uma camada de poeira tão espessa que deixou uma marca cinza em seus dedos.

"Sem energia", ele disse, a ficha caindo. "Deve ser uma conta não paga."

Ele se virou para mim, seus olhos arregalados com um horror súbito e crescente. "Eliana? Você... você não tem morado aqui?"

Eu simplesmente assenti, pegando meu próprio celular. Alguns toques, uma transferência rápida. As luzes do teto piscaram e depois se acenderam com força total.

A visão que nos saudou roubou o ar dos meus pulmões. O apartamento era uma tumba, uma cápsula do tempo dos meus dias mais sombrios. Fotos de casamento rasgadas estavam espalhadas pelo chão, seus rostos sorridentes grotescos em sua ruína. O sofá, antes um lugar de conforto, estava manchado com manchas escuras e turvas. A cama também carregava as marcas do abandono, um testemunho silencioso do desespero que um dia preencheu aqueles cômodos.

Minha respiração falhou. A cicatriz irregular no meu pulso latejava com uma dor fantasma. Foi aqui que eu deitei, sangrando, depois que perdi tudo. Depois que perdi nosso bebê. Depois que tentei acabar com tudo. Este foi o lugar onde a esperança morreu, onde eu quase morri com ela.

Olhei para Arthur, esperando sua reação. Seu rosto era uma máscara de choque, seus olhos saltando das fotos rasgadas para os móveis manchados. Ele parecia enjoado. Ótimo.

"Acho que você deveria ligar para o síndico", eu disse, minha voz fria e firme. "Eles podem providenciar uma limpeza."

Comecei a me afastar, precisando escapar das memórias sufocantes deste lugar, deste passado. Mas a mão dele disparou, agarrando meu braço. Seus dedos se fecharam em volta do meu pulso, bem em cima da minha cicatriz mais profunda.

Recuei como se tivesse sido atingida por um raio, puxando meu braço com força. O movimento súbito enviou uma pontada de dor pelo meu braço, mas não foi nada comparado ao choque elétrico de seu toque, à repulsa crua e visceral que me invadiu.

"Não", eu sibilei, dando um passo para trás, colocando o máximo de distância possível entre nós. Meu coração martelava contra minhas costelas, uma batida urgente de medo e raiva.

Ele parecia atordoado, a mão ainda suspensa no ar. "Eliana, espere. Deixe-me te levar para casa."

"Não", eu disse, minha voz afiada, final. "Vou chamar um táxi."

Procurei meu celular, meus dedos tremendo levemente. Alguns toques rápidos e um carro foi despachado. Não esperei por sua resposta, não olhei para trás. Eu apenas fugi. Desci as escadas, sem ousar usar o elevador. Saí para a noite encharcada de chuva, ofegante, enquanto meu carro de aplicativo parava no meio-fio.

O táxi me levou para longe, deixando o fantasma do meu passado para trás. Quando finalmente cheguei à minha casa de verdade, as luzes estavam apagadas. Meus pais e Bruno, meu irmão mais velho, estavam dormindo. Entrei sorrateiramente no meu quarto, o alívio me invadindo.

Mas a luz da cozinha piscou. Minha mãe, com o cabelo ainda desgrenhado do sono, estava lá, seus olhos preocupados.

"Eliana, você voltou", ela disse, sua voz suave de alívio. "Eu estava te esperando."

"Estou bem, mãe", eu disse, tentando soar normal, embora meu coração ainda batesse forte.

Ela não acreditou em mim, seu olhar conhecedor percorrendo meu rosto. Ela simplesmente foi até o fogão, uma pequena panela no queimador. "Vá tomar um banho. Vou esquentar uma sopa para você."

Seu simples ato de cuidado, o cheiro quente e reconfortante de sopa caseira, foi um bálsamo para meus nervos em frangalhos. Sob o jato quente do chuveiro, esfreguei para tirar o cheiro persistente daquele apartamento antigo, daquela vida antiga. Mas as cicatrizes nos meus pulsos, gravadas profundamente na minha pele, ainda pulsavam com uma dor surda. Eram um lembrete permanente do preço que eu havia pago.

Saí, enrolando uma toalha em volta de mim. O calor do apartamento, o zumbido silencioso da geladeira, o ronco distante de um carro lá fora. Este era o meu lugar seguro. Meu refúgio.

Então, uma batida forte e insistente ecoou pela casa. Meu sangue gelou.

A porta da frente.

Meus pais e Bruno se mexeram, seus passos pesados enquanto saíam de seus quartos, atraídos pelo barulho inesperado. Minha mãe, com os olhos arregalados de alarme, agarrou-se ao braço do meu pai. Bruno, sempre protetor, moveu-se instintivamente para a minha frente.

Meu pai abriu a porta lentamente.

E lá estava ele. Arthur. Impecável como sempre, emoldurado pela noite chuvosa. Seu terno ainda estava perfeito, sua expressão indecifrável, uma máscara fria e calculista. Ele parecia perfeitamente à vontade, como se pertencesse ali. Ele parecia um conquistador no meu santuário.

"Bruno", ele disse, sua voz calma, quase cordial. "Já faz um tempo."

O rosto do meu irmão, geralmente tão aberto e gentil, se contorceu em uma máscara de ódio puro e absoluto.

            
            

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