A Traição do Amor, a Ironia do Destino
img img A Traição do Amor, a Ironia do Destino img Capítulo 4
4
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
Capítulo 11 img
Capítulo 12 img
Capítulo 13 img
img
  /  1
img

Capítulo 4

Eliana Ponto de Vista:

A perseguição implacável de Arthur, sua expectativa não dita de que eu simplesmente voltaria para o meu lugar, finalmente esgotou minhas últimas reservas de paciência. Ele estava de volta, um fantasma persistente assombrando minha vida perfeitamente reconstruída. Ele apareceu no prédio do meu escritório novamente, encostado na fachada de pedra polida, parecendo em todos os aspectos o marido bem-sucedido e arrependido. Meus colegas, sempre curiosos, lançavam olhares, sussurrando atrás de mãos em concha.

"Eliana", ele cumprimentou, um sorriso ensaiado no rosto. "Deixe-me esperar por você. Podemos ir para casa juntos."

Suas palavras, que deveriam soar íntimas, pareceram uma ameaça.

"Não, obrigada", respondi, minha voz firme, não traindo nada da irritação que borbulhava sob a superfície. "Eu tenho planos."

Passei por ele, indo direto para o elevador. Minha assistente, uma garota doce e impressionável chamada Chloe, me alcançou.

"Sra. Souza, está tudo bem?", ela perguntou, a testa franzida. "O Sr. Montenegro parece... insistente."

Eu suspirei. Era hora de esclarecer as coisas, não apenas para Chloe, mas para qualquer um ao alcance da voz. Estávamos na copa, e o zumbido baixo da máquina de café parecia amplificar minhas palavras.

"Arthur Montenegro é meu marido, de quem estou separada", afirmei, minha voz clara e uniforme. Observei o choque se registrar no rosto de Chloe, depois o arregalar coletivo de olhos entre os outros colegas que fingiam não estar ouvindo. "No entanto, sua verdadeira companheira não sou eu."

As palavras pairaram no ar, uma verdade que eu já havia gritado, agora entregue com distanciamento clínico. O silêncio súbito que se seguiu foi ensurdecedor. Meus colegas, pegos no fogo cruzado da minha confissão, desviaram o olhar, seus olhos correndo para a porta. Um arrepio percorreu minha espinha.

Ele estava lá. Arthur. Parado na porta, seu rosto uma tela de emoções conflitantes: choque, raiva, um lampejo de dor crua. Seus olhos encontraram os meus, e por um momento, a máscara escorregou. Ele parecia... exposto.

Passei por ele, saindo da copa, saindo do escritório. Ele me seguiu, uma sombra silenciosa. A viagem para casa foi tensa, densa com palavras não ditas. Eu olhava pela janela, observando as luzes da cidade se tornarem um borrão, um milhão de pequenas explosões de indiferença. Eu não tinha dito nada que não fosse verdade. Nada que eu não quisesse que ele soubesse.

Um homem que te deixa por outra mulher não volta. Não de verdade. Ele volta porque a outra mulher não correspondeu à sua fantasia, ou seu ego precisava de um afago. Mas o amor, o amor real e incondicional? Esse morre. E quando morre, leva um pedaço de você com ele.

Lembrei-me do dia em que o vi ir embora com Cassandra na neve. O mundo ficou escuro. Meus gritos foram engolidos pelo silêncio do apartamento vazio. Rasguei as fotos do casamento, rasguei todos os cartões que ele já me deu, quebrei todas as bugigangas que me lembravam de nós. Tirei fotos da destruição, minhas mãos tremendo, e as enviei para ele. Um grito desesperado e primitivo para que ele visse o que havia feito. Para que sentisse minha dor.

Ele respondeu. Não com remorso, mas com ela. Ele trouxe Cassandra para minha casa em ruínas, sentou-a no meu sofá manchado, enquanto me oferecia dinheiro. "Eliana, eu pago por tudo", ele disse, sua voz irritantemente calma. "Vou te dar uma mesada. Apenas... não faça uma cena. Vou garantir que Cassandra fique longe."

Cassandra sentou-se ali, uma imagem de arrependimento recatado, os olhos baixos. Mas eu vi a sutil mudança de seus lábios, o brilho triunfante em seus olhos quando ela pensou que eu não estava olhando. Ela estava interpretando um papel, um papel em seu grande drama.

Ele se mudou naquela noite, levando suas malas cuidadosamente arrumadas, sua ambição e sua amante com ele. Fui deixada sozinha nos destroços da minha vida, o silêncio ecoando sua traição. Enviei-lhe mensagens de texto, e-mails, mensagens intermináveis, implorando para que ele explicasse, para que voltasse. Todas ficaram sem resposta. Bloqueadas. Ignoradas.

O tratamento de silêncio. Foi uma tortura lenta e insidiosa, uma tortura chinesa da alma. Faz você questionar sua sanidade, seu valor, sua própria existência. Aprendi então que a violência fria pode matar uma pessoa tão eficazmente quanto uma faca afiada. Minha esperança, aquele pequeno broto tenaz, finalmente murchou e morreu.

Eu mesma redigi os papéis do divórcio. Havia estudado direito por conta própria, o suficiente para entender o básico, para navegar no labirinto do jargão jurídico. Levei os papéis ao seu novo escritório impecável, aquele que ele compartilhava com Cassandra, sua nova "assistente".

Ele examinou o documento, depois olhou para mim, um sorriso condescendente no rosto. "Divórcio? Ora, Eliana, isso não é muito estratégico. Minha carreira está decolando. Um divórcio conturbado mancharia minha imagem. E você sabe o quanto eu valorizo minha imagem."

Ele se recostou em sua cara cadeira de couro, uma imagem de poder e arrogância. "Além disso", ele acrescentou, sua voz pingando falsa preocupação, "o que seus pais diriam? Todos aqueles anos de sacrifício? Para nada?"

Ele riu, um som frio e oco. "Se você precisa de companhia, Eliana, não vou ficar no seu caminho. Você pode ver quem quiser. Só não espere que eu me envolva."

Meu sangue gelou. A pura audácia, a crueldade casual de suas palavras, me deixou enjoada. Eu recusei. Eu não seria sua mulher mantida, seu segredinho sujo.

Incapaz de me divorciar dele, incapaz de voltar, eu estava presa em uma gaiola dourada de desespero. A dor era uma companheira constante, uma dor surda no peito que às vezes se transformava em um inferno ardente. Uma noite, a agonia se tornou demais. Meus olhos caíram sobre a faca de frutas na bancada da cozinha, sua lâmina brilhando sob a luz fluorescente forte.

Não me lembro de muita coisa depois disso. Apenas o jorro de sangue, a escuridão súbita e vertiginosa. E então, uma voz fraca e familiar. Arthur.

Acordei em um quarto de hospital branco e estéril. A primeira coisa que vi foi Cassandra, sentada ao lado da minha cama, um sorriso presunçoso estampado no rosto. Seus olhos, antes vazios e assustados, agora continham um brilho de algo predatório.

"Eliana", ela arrulhou, sua voz doentiamente doce. "Que bom que você acordou. O Arthur estava tão preocupado. Ele ficou fora de si." Ela fez uma pausa, seu sorriso se alargando. "Ele disse que você sempre foi tão sensível. Tão frágil."

Seus olhos, não mais baixos em falsa humildade, brilhavam com triunfo. Ela estava esfregando na minha cara, se deleitando em sua vitória. O veneno em suas palavras, a ostentação descarada, quebrou algo dentro de mim.

Minha mão voou para cima, conectando-se com sua bochecha com um baque doentio. O som ecoou no quarto silencioso. Sua cabeça estalou para trás, seus olhos arregalados de choque e uma raiva súbita e crua.

"Sua vadia!", gritei, minha voz rouca, áspera. Peguei a jarra de água da minha mesa de cabeceira, depois o controle remoto, qualquer coisa que pudesse alcançar, e atirei nela, um após o outro. "Saia! Saia, sua prostituta nojenta!"

A porta se abriu com um estrondo. Arthur estava lá, seu rosto furioso. Ele me viu, viu Cassandra segurando a bochecha, viu a fúria em meus olhos. Sem um momento de hesitação, ele correu para o lado dela, protegendo-a com seu corpo.

"Eliana, que porra há de errado com você?", ele rugiu, sua voz tingida de nojo. "Você está agindo como uma louca! Você enlouqueceu!"

Louca. Sim, eu estava. Ele havia sistematicamente desmontado minha sanidade, peça por peça, até que não restasse nada além de um vazio gritante. Ele e sua amante patética me levaram ao limite.

Uma determinação fria e dura se cristalizou em meu coração. Se eles queriam uma briga, eles teriam uma. Mas desta vez, eu não seria a vítima. Eu seria a estrategista. A vingadora.

Comecei a coletar provas. Discretamente. Um detetive particular, um e-mail anônimo. Cada mensagem de texto tarde da noite, cada encontro secreto, cada transação financeira que provava sua traição. Documentei tudo, minhas mãos firmes, meu coração frio. Eu o exporia. Eu o arruinaria.

Mas Arthur, sempre um passo à frente, tinha outra carta na manga. E esta, esta atingiria o cerne da minha família.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022