Capítulo 2

O sol da tarde batia no parquinho da escola, aquecendo minha pele, mas fazendo pouco para descongelar o nó frio de ansiedade no meu estômago. Quando Léo me viu, lançou-se em meus braços, seu corpo pequeno encaixando-se perfeitamente no meu.

- Mamãe! - ele gritou, seus olhos, do tom exato dos de Heitor, brilhando com uma inocência que simultaneamente partia e remendava meu coração. - O papai vem para o meu aniversário? Você disse que ele talvez viesse!

A pergunta, tão ansiosa e esperançosa, pareceu uma ferida aberta. Meus olhos arderam. Quantas vezes eu tinha visto aquele brilho de esperança diminuir? Quantas vezes eu tinha mentido, ou pelo menos distorcido a verdade, para protegê-lo da negligência do pai?

Justo quando eu procurava as palavras certas, meu celular vibrou no bolso. Uma mensagem. Era Heitor. Uma única linha: *Estarei em casa hoje à noite. Dê feliz aniversário ao Léo.*

Um choque de algo parecido com alegria me percorreu. Era uma emoção tola e passageira, um fantasma da esperança que eu costumava sentir. Mas, por um momento, foi real. Ele viria.

- Sim, meu amor! - exclamei, minha voz um pouco alta demais, um pouco sem fôlego. Abracei-o com mais força. - O papai vem para casa! Ele disse que estará aqui hoje à noite!

Léo se afastou, o rosto se abrindo em um sorriso largo.

- Sério? O papai vem? - Ele pulou nas pontas dos pés, sua excitação irradiando em ondas. - Eba! O papai vem!

Um sorriso agridoce tocou meus lábios. Essa era a primeira vez que Heitor concordava em vir para casa no aniversário de Léo. Uma pequena vitória, ou talvez apenas um alívio temporário. Mas eu aceitaria. Pelo Léo.

Naquela noite, transformei nosso pequeno e aconchegante apartamento em um paraíso de aniversário. Balões em cores vibrantes flutuavam perto do teto, serpentinas cruzavam a sala de estar e o aroma da pizza caseira favorita de Léo enchia o ar. Assei um bolo pequeno, cobri com sua cobertura azul favorita e coloquei seus presentes, cuidadosamente embrulhados em papel de dinossauro. Léo, abençoado seja, tinha terminado a lição de casa em tempo recorde, tomado banho e agora estava empoleirado na ponta do sofá, com os olhos grudados na porta, esperando.

O relógio tiquetaqueava. Seis horas. Sete. Oito.

Meu celular permaneceu silencioso. Liguei para o número de Heitor. Direto para a caixa postal. Tentei de novo. E de novo. Cada toque ecoava o vazio crescente no meu peito. Era o mesmo padrão familiar, o mesmo silêncio frio.

- Mamãe - disse Léo suavemente, a voz mal passando de um sussurro, me tirando da minha última tentativa fracassada de falar com Heitor. Ele olhou para mim, o lábio inferior tremendo levemente. - O papai está muito ocupado?

As palavras foram um golpe físico. Minha respiração falhou. Meu coração, já machucado e surrado, rachou um pouco mais. Como eu poderia explicar? Como eu poderia dizer a ele que seu pai, o homem que ele adorava, não se importava o suficiente para priorizá-lo?

Ajoelhei-me ao lado dele, puxando-o para meus braços. Seu corpo pequeno parecia frágil, vulnerável.

- Não, querido. O papai não está muito ocupado. Ele só... teve um imprevisto.

Outra mentira. Uma necessária, por enquanto.

- Mas eu estou aqui. Eu sempre estarei aqui. E ainda podemos ter o melhor aniversário de todos, só nós dois.

Léo enterrou a cabeça no meu ombro, seu silêncio falando volumes. Então, depois de um momento, ele fungou.

- Você pode colocar meu chapéu de aniversário, mamãe?

- Claro, meu anjo. - Minha voz estava embargada de lágrimas não derramadas.

Peguei o chapéu de papel frágil, estampado com super-heróis de desenho animado. Enquanto o colocava gentilmente na cabeça dele, a tela do meu celular piscou. Uma notificação de Karina Oliveira. Uma postagem no Instagram.

Meus dedos, quase por vontade própria, tocaram na notificação. Uma foto carregou na minha tela. Karina, radiante em um vestido cintilante, brindando com taças de champanhe com um homem cujo braço estava envolto possessivamente em sua cintura. Heitor. A cabeça dele estava jogada para trás em uma gargalhada, os olhos brilhando com uma alegria que eu não via dirigida a mim há anos.

E na mão esquerda dele, brilhando inconfundivelmente na iluminação suave do restaurante, estava a aliança de casamento dele. Minha aliança de casamento. Aquela que ele sempre alegou que usava, mas nunca usava, por medo de arruinar sua imagem de solteiro. Ele estava usando por Karina. Publicamente.

Eles não estavam apenas em um baile de gala. Estavam em um jantar romântico, em um restaurante exclusivo na cobertura, celebrando, sem dúvida, a mais recente "conquista" dele - uma conquista que eu havia escrito.

A dor, aguda e visceral, que vinha me corroendo o dia todo, de repente recuou. Em seu lugar, uma calma gélida se instalou sobre minha alma. Isso não era apenas negligência. Era um ato deliberado de apagamento, uma proclamação pública de sua nova realidade, comigo e Léo firmemente excluídos.

Meu polegar pairou sobre a tela. Então, com uma certeza arrepiante, apertei "Curtir".

            
            

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