Capítulo 3

Coloquei cuidadosamente o frágil chapéu de papel de aniversário na cabeça de Léo. Ele olhou para mim, com os olhos arregalados e esperançosos.

- O que você desejou, meu amor? - perguntei, forçando um sorriso que parecia quebradiço em meus lábios.

Ele pensou por um momento, depois sussurrou:

- Desejei que você estivesse sempre comigo, mamãe. Só você e eu.

Meu coração se partiu em mil pedaços. Era isso. Esse foi o momento gravado na minha memória, aquele que solidificou tudo. Eu nunca esqueceria esse desejo puro e bruto. E passaria todos os dias garantindo que ele se tornasse realidade. Eu construiria uma vida onde o desejo dele fosse a realidade.

- Eu prometo, querido - sussurrei de volta, beijando o topo da cabeça dele. - Para sempre. Só você e eu.

Comemos pizza fria, cantamos "Parabéns" desafinado para um bolo comido pela metade e abrimos presentes com tema de dinossauro. O nome de Heitor não foi mencionado uma única vez. Éramos apenas nós. E pela primeira vez em muito tempo, a casa parecia um lar, verdadeiramente nosso lar, não um abrigo temporário esperando por um senhorio distante.

Mais tarde naquela noite, depois que Léo adormeceu, sonhando com dinossauros e seu pai alheio, entrei na sala de estar silenciosa. Os balões ainda flutuavam, testemunhas silenciosas de um aniversário celebrado sem pai. Peguei o envelope pardo grosso que havia escondido sob uma pilha de revistas velhas. Dentro estavam os papéis do divórcio, impressos com capricho, assinados pelo meu advogado, esperando pela assinatura dele. Minha última hesitação, a fraca e persistente esperança de que ele pudesse de alguma forma mudar, de que pudesse nos escolher, dissolveu-se como açúcar no chá quente.

Então, o clique suave da porta da frente. Heitor finalmente estava em casa.

Ele entrou na sala, o smoking levemente amassado, um leve cheiro de champanhe caro impregnado nele. Seus olhos, cansados e sombreados, pousaram nos balões murchos, no bolo pela metade, no papel de presente espalhado. Um lampejo de algo - arrependimento? culpa? - cruzou seu rosto.

- O aniversário do Léo - murmurou ele, as palavras ocas. - Deus, sinto muito, Adriana. O baile atrasou, depois a Karina precisou de uma carona para casa, e... - Ele deixou a frase morrer, suas desculpas frágeis, transparentes.

Meu sorriso era fino, com bordas de gelo.

- Está tudo bem, Heitor. O Léo se divertiu muito.

As palavras eram uma mentira, mas eram mais fáceis do que a verdade.

Ele passou a mão pelo cabelo, parecendo genuinamente miserável.

- Eu sei que pisei na bola. De novo. Prometo, vou compensar. Para vocês dois. - Seus olhos se desviaram para os meus, um lampejo do velho Heitor, aquele que costumava me encantar, tentando ressurgir.

- Você não vai precisar - disse eu, minha voz calma, quase desapegada. Peguei o envelope pardo e estendi para ele. - Apenas assine isto.

Ele olhou para o envelope, depois para o meu rosto, a confusão nublando suas feições.

- O que é isso?

- Papéis do divórcio - declarei secamente, minha compostura firme. - Um acordo de dissolução de parceria, como meu advogado colocou. Tudo o que você precisa fazer é assinar.

A mandíbula dele endureceu.

- Divórcio? Adriana, não seja ridícula. Somos casados. Temos o Léo. - Ele deu um passo mais perto, os olhos se estreitando. - Isso é por causa do baile? Eu te disse, é só trabalho.

Meu celular vibrou. Não o meu, o dele. O toque insistente perfurou o silêncio. Ele olhou para baixo, a expressão ainda irritada. Um número familiar piscou na tela. Karina.

Ele hesitou por um momento, depois atendeu, a irritação clara na voz.

- Karina, o que foi?

A voz dela, estridente e em pânico, vazou do telefone, mesmo no volume baixo.

- Heitor! Ai meu Deus, é um desastre! O prédio do meu apartamento, estourou um cano, tem água por todo lado! Minhas roupas de grife, meu notebook, tudo arruinado! Por favor, você tem que me ajudar!

O rosto de Heitor, um momento atrás cheio de irritação, instantaneamente suavizou em preocupação.

- Karina, acalme-se. Onde você está? Você está segura? Estou indo para aí. - Ele já estava na metade do caminho para a porta, a mão alcançando as chaves do carro.

- Apenas... apenas assine os papéis, Heitor - disse eu, minha voz mal passando de um sussurro.

Ele parou, virando-se para mim, os olhos arregalados e distraídos. Ele arrancou o envelope da minha mão, rabiscou sua assinatura na parte inferior sem nem olhar o conteúdo e jogou-o de volta na mesa.

- Pronto. Feliz agora? Sinto muito, Adriana, tenho que ir. Isso é uma emergência.

Ele não esperou pela minha resposta. Saiu pela porta num piscar de olhos, o som do carro acelerando desaparecendo rapidamente na noite.

Fiquei ali, sozinha na sala silenciosa, os papéis do divórcio assinados apertados na minha mão. Os balões balançavam suavemente, uma despedida silenciosa e zombeteira. Ele tinha escolhido. Ele tinha escolhido Karina. Ele tinha escolhido sua vida pública cuidadosamente construída, seus momentos fugazes de fama, em vez de sua esposa, seu filho, sua família. Ele tinha escolhido nos deixar.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022