- Adriana! Espere! - A voz de Heitor, carregada de desespero, me parou na calçada. Não me virei, mas senti ele se aproximar, os passos pesados no asfalto.
Ele apareceu ao lado do carro, uma caixa de bolo branca e frágil apertada na mão.
- Para o Léo - murmurou ele, empurrando-a em minha direção. - Peguei no caminho. Sei que é tarde, mas...
Antes que ele pudesse terminar, Karina, que havia deslizado atrás dele, intrometeu-se, a voz doce como melado.
- Ah, esse é o bolo que eu encomendei! Meu favorito, bolo mousse de manga! Eu disse ao Heitor que tudo bem se ele dividisse uma fatia com a, hum, funcionária dele antes de ela ir embora. - Ela sorriu, um brilho triunfante nos olhos, como se tivesse acabado de vencer uma batalha pequena e insignificante.
A caixa de bolo na minha mão de repente pareceu pesar uma tonelada. Mousse de manga. Claro. Quão apropriado que até o pedido de desculpas dele fosse banhado em uma ironia cruel.
Léo, ainda aninhado em meus braços, espiou a caixa.
- Bolo? - sussurrou ele, os olhos se arregalando com esperança renovada.
Meu coração se contorceu. Por Léo, eu suportaria qualquer coisa. Forcei um sorriso.
- Sim, querido. O papai trouxe um bolo para você.
- Você vai comer comigo, papai? - perguntou Léo, a voz suave, esperançosa. Ele olhou para Heitor, o rostinho uma mistura de anseio e cautela.
Heitor hesitou, olhando para Karina, depois de volta para Léo. Ele suspirou, um leve lampejo do que poderia ter sido arrependimento genuíno nos olhos.
- Sim, Léo. Eu vou comer com você.
- Eba! - Léo comemorou, sua tristeza anterior esquecida diante do bolo e de uma promessa paterna fugaz. - Mamãe, vamos comer bolo!
Entrei no carro, Léo ainda no meu colo, e me afastei da calçada. Heitor e Karina ficaram lado a lado, nos vendo partir. Ele tinha escolhido, e eu tinha aceitado.
De volta ao nosso apartamento vazio - em breve apenas meu apartamento - coloquei cuidadosamente o bolo na pequena mesa da cozinha. Léo, vibrando de excitação, observou enquanto eu cortava as camadas amarelas e fofas. Cortei um pedaço pequeno para ele, depois um para mim.
- Feliz aniversário, meu menino doce - disse eu, entregando o prato a ele.
Ele deu uma mordida, os olhos se fechando em pura felicidade. Dei uma mordida na minha própria fatia. Meu sorriso congelou.
O sabor doce e tropical explodiu na minha língua. Manga.
Meu coração bateu contra as costelas. Não. Não podia ser.
Arranquei o prato das mãos de Léo, meus movimentos bruscos, frenéticos.
- Não! Não coma isso, Léo!
Heitor, que tinha acabado de entrar, com uma leve carranca no rosto, olhou para mim.
- Adriana, o que você está fazendo? Ficou maluca? É o bolo de aniversário dele!
Meus olhos, queimando com lágrimas não derramadas, travaram nos dele.
- Você não sabe nada sobre o seu filho, Heitor? - engasguei, minha voz tremendo com uma fúria crua que eu não sabia que possuía. - Você sequer se lembra que o Léo é severamente alérgico a manga? Uma alergia que pode matar?
O rosto dele ficou cinza. Ele cambaleou para trás, o queixo frouxo.
- Manga? Alérgico? Não... eu... eu não... achei que ele amasse frutas... Sinto muito, Adriana, juro, eu não sabia...
As desculpas dele, infinitamente repetidas ao longo de sete anos, agora soavam como um eco oco em um desfiladeiro vasto e vazio. *Sinto muito.* As palavras tinham perdido todo o significado. Eram apenas sons, vazios e inúteis.
Léo, assustado com minha explosão repentina, deixou cair o garfo. Seus olhos, momentos atrás iluminados de alegria, escureceram lentamente. Ele olhou para Heitor, depois de volta para mim, o rostinho se amassando. Ele estendeu a mão para Heitor, depois hesitou, a mão caindo.
- Tudo bem, papai - sussurrou ele, a voz pequena e derrotada. - Tudo bem.
Ele se virou, enterrando o rosto no meu ombro, o corpo pequeno tremendo. Ele não olhou para Heitor novamente.
Foi isso. A gota d'água. O ato imperdoável. Ele não tinha apenas esquecido o aniversário de Léo; ele tinha colocado a vida dele em perigo. E Léo, em sua compreensão inocente, finalmente tinha visto o pai como ele realmente era.
Sem uma palavra, peguei Léo no colo. Senti o olhar desesperado e arrependido de Heitor queimando minhas costas, mas não hesitei. Saí da cozinha, saí do apartamento e saí da vida dele.
Fui direto para o meu escritório, sem me preocupar em trocar de roupa. A raiva, a dor, a profunda decepção me impulsionavam para frente. Eu não precisava dizer adeus. Não para ele. Meus papéis de divórcio assinados estavam na mesa dele, já legais. Meu escritório, agora vazio, parecia uma lousa em branco. Peguei minha última caixa, uma coleção de livros pessoais e fotos queridas, e saí sem olhar para trás.
No aeroporto, as paredes brancas estéreis e as multidões agitadas ofereciam um estranho conforto. Léo estava quieto, sonolento em meus braços.
- Você está triste por ir embora, meu anjo? - perguntei, acariciando o cabelo dele.
Ele balançou a cabeça, aninhando-se mais fundo no meu abraço.
- Não, mamãe. Só você e eu.
A represa se rompeu. Lágrimas, quentes e silenciosas, escorreram pelo meu rosto. Não lágrimas de tristeza, mas de libertação. De liberdade. Sete anos de abuso emocional, de exploração profissional, de segredo sufocante, foram lavados naquele momento único e purificador.
Mais tarde, no avião, voando alto acima da cidade que eu deixava para trás, peguei meu celular. Bloqueei o número de Heitor. Bloqueei-o em todas as plataformas de mídia social. Apaguei cada foto, cada mensagem, cada traço dele da minha vida digital.
Adeus, Heitor Gusmão. Você finalmente se foi.