"Direito?", zombei, uma risada fria e sem humor escapando de mim. "Eu tenho todo o direito, Kaila. Ao contrário de você, eu realmente conquistei meu lugar neste mundo. Não me aproveitei do fundo de um homem morto nem manipulei meu caminho para uma família poderosa. Construí meu próprio império, tijolo por tijolo sangrento. Você, por outro lado, não passa de uma parasita bonita, agarrando-se às conquistas dos outros." Minhas palavras eram veneno, afiadas e precisas.
O rosto de Kaila ficou carmesim. Seus olhos se estreitaram, os últimos vestígios de sua frágil fachada desmoronando. "Sua vadia!", ela sibilou, sua voz mal audível, carregada de puro ódio. "Você só está com inveja! Sempre esteve! Todo mundo me ama! O Heitor me ama! Sua mãe me ama! Você não é nada!" Ela avançou, sua mão agarrando um pesado e antigo abridor de cartas da mesa próxima.
Meus olhos se arregalaram. O brilho do aço. A ferocidade inesperada. Recuei instintivamente, mas não rápido o suficiente. A borda afiada cortou meu braço, reabrindo a ferida recém-suturada. Um grito rasgou minha garganta, cru e involuntário, enquanto a dor explodia, quente e lancinante. O sangue floresceu, um contraste gritante contra meu vestido preto.
A comoção, meu grito, chamou a atenção. Passos pesados ecoaram pelo corredor. A voz angustiada da minha mãe, depois o comando retumbante do meu padrasto. E então, uma voz familiar e fria que me deu arrepios. Heitor.
Meu padrasto invadiu o quarto, o rosto vermelho de fúria. "O que diabos está acontecendo aqui, Alana?", ele rugiu, os olhos fixos em mim, já atribuindo a culpa.
Kaila, segurando o abridor de cartas, o deixou cair com um baque. Ela desabou no chão, explodindo em soluços dramáticos, o rosto enterrado nas mãos. "Ela me atacou!", ela lamentou, a voz abafada. "Ela é sempre tão violenta! Ela me odeia! Ela odeia todo mundo!"
Minha mãe correu para o lado de Kaila, puxando-a para um abraço protetor. Ela me lançou um olhar de puro desprezo. "Alana, como você pôde? Atacar sua própria irmã? Você enlouqueceu? Olhe o que você fez com ela!" Ela acariciou o cabelo de Kaila, me fuzilando com o olhar.
"Ela acabou de tentar me esfaquear, mãe!", gritei, minha voz tremendo de dor e incredulidade. "Olhe para o meu braço!" Levantei meu antebraço sangrando, a ferida aberta.
Meu padrasto deu um passo à frente, os olhos em chamas. "Silêncio, Alana! Não se atreva a acusar sua irmã! Ela é delicada! Você é a que tem o temperamento violento!"
Heitor estava na porta, seu olhar varrendo a cena caótica. Seus olhos, frios e avaliadores, pousaram em Kaila, depois no meu braço sangrando. Ele então olhou para uma empregada aterrorizada que havia testemunhado tudo, encolhida no canto. "Diga-me o que aconteceu", ele ordenou, sua voz afiada.
A empregada, com os olhos arregalados de medo, olhou nervosamente para Kaila, depois para minha mãe, e de volta para Heitor. Ela murmurou: "A senhorita Kaila... ela... ela estava tentando se defender. A senhorita Alana... ela estava muito zangada." Suas palavras eram hesitantes, claramente coagidas.
O olhar de Heitor endureceu, virando-se para mim. Era um olhar de desprezo absoluto, uma confirmação arrepiante de sua crença na inocência de Kaila. Senti uma onda de desespero vertiginoso.
Uma risada áspera e quebrada escapou dos meus lábios. Era um som cru e gutural, ecoando os pedaços estilhaçados do meu coração. "Você realmente acredita nela?", engasguei, uma onda de ironia amarga me invadindo. "Vocês todos realmente acreditam nela?"
"O que é tão engraçado, Alana?", rosnou meu padrasto, dando um passo em minha direção. "Você está zombando de nós agora também?"
"Zombando de vocês?", ri novamente, lágrimas finalmente escorrendo pelo meu rosto. "Não, pai. Estou apenas rindo da pura e trágica comédia de tudo isso. Vocês são tão cegos! Todos vocês! Ela é uma cobra manipuladora e venenosa, e vocês são todos estúpidos demais para ver!"
Uma súbita e feroz onda de adrenalina percorreu meu corpo. A dor no meu braço desapareceu, substituída por uma necessidade ardente de justiça. Avancei, agarrando o braço de Kaila, puxando-a bruscamente para longe do abraço da minha mãe. A cabeça dela estalou para trás, os olhos arregalados de choque e medo.
"Me solta, sua monstra!", Kaila gritou, lutando, sua fragilidade fingida momentaneamente esquecida. "Heitor! Me ajude!"
Ignorei seus apelos, meu aperto como ferro. Meu rosto estava a centímetros do dela, meus olhos brilhando com pura raiva. "Conte a eles, Kaila! Conte a eles a verdade! Conte como você orquestrou tudo! Como você manipulou o Heitor! Como você mentiu sobre seu 'TEPT'! Como você virou minha própria mãe contra mim!"
Kaila se debateu, seus olhos dardejando nervosamente entre meu rosto furioso e o rosto de pedra de Heitor. "Não! Eu não fiz! Ela está louca! Ela está tentando me machucar!"
Minha mãe e meu padrasto avançaram, gritando, tentando me tirar de cima de Kaila. "Alana! Solte sua irmã! Você está a machucando!", gritou minha mãe, sua voz um apelo desesperado.
Então, uma mão fria e forte se fechou em meu ombro. Heitor. Seus olhos eram como lascas de gelo, seu rosto uma máscara de fúria primal. "Alana. Solte. Ela. Agora." Sua voz era um rosnado baixo e perigoso.
Encontrei seu olhar, o desafio brilhando em meus olhos. "Não! Não até ela contar a verdade!" A dor no meu braço era uma pulsação surda, distante. Meu foco estava apenas em Kaila, em forçá-la a confessar.
Seu aperto se intensificou, seus dedos cravando em minha carne. "Eu disse, solte-a!", sua voz estava carregada de uma ameaça arrepiante.
"E eu disse não!", retruquei, minha voz rouca. "Você pode me matar, Heitor, mas não vou soltar essa víbora até ela admitir suas mentiras!"
Sua mandíbula se contraiu. Um estalo doentio ecoou na sala. Uma agonia lancinante atravessou meu pulso. Ele havia torcido meu braço, deslocando-o. Gritei, um som gutural de pura dor, meu aperto em Kaila afrouxando.
Ele não hesitou. Ele puxou Kaila para longe, empurrando-a para trás dele. Ela tropeçou, desabando, uma nova onda de soluços sacudindo seu corpo. Ele a pegou no colo, seu olhar nunca deixando o meu. "Você é um monstro, Alana", ele cuspiu, sua voz cheia de nojo.
A dor no meu pulso era excruciante, um fogo branco e quente me consumindo. Mas mesmo através da agonia, um instinto primal de sobrevivência se manifestou. Enquanto ele se virava para levar Kaila embora, eu ataquei com o pé, um chute desesperado e selvagem. Meu calcanhar conectou-se diretamente na canela de Kaila. Ela gritou, caindo dos braços de Heitor, agarrando a perna.
O caos irrompeu. Minha mãe gritou, correndo para o lado de Kaila. Meu padrasto rugiu, avançando em minha direção. Antes que ele pudesse me alcançar, minha mãe, com o rosto contorcido por um ódio que eu nunca tinha visto, balançou a mão. Um golpe agudo e ardente atingiu minha bochecha.
O impacto jogou minha cabeça para trás. Meus ouvidos zumbiram. Olhei para ela, minha mãe, meu próprio sangue, seu rosto torcido de fúria. "Como você pôde, Alana?", ela gritou, sua voz grossa de lágrimas. "Ela é sua irmã! Minha preciosa Kaila! Você não passa de uma desgraça! Uma desgraça venenosa e violenta!"
Meu coração, já sangrando, parou completamente. A dor no meu braço, no meu pulso, na minha bochecha - não era nada comparado ao peso esmagador de sua traição. Minha mãe. Esta mulher, que uma vez me segurou, que uma vez cantou canções de ninar para mim, acabara de me agredir, defender um monstro manipulador e condenar sua própria filha.
"Minha irmã?", sussurrei, minha voz rouca, quebrada. "Mãe, você sequer se lembra? Você se lembra de quando eu era sua única filha? Antes dela aparecer? Antes de você mudar? Antes de você me esquecer?" Meus olhos, nadando em lágrimas, procuraram os dela, desesperados por um brilho de reconhecimento, de remorso. Não havia nada. Apenas desprezo frio e duro.
"Você não é nada para mim, Alana", disse ela, sua voz assustadoramente plana. "Nada além de uma decepção constante." Suas palavras foram um prego final e brutal no caixão da minha infância, da minha esperança pelo amor de uma mãe.